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Greve Global Pelo Clima | Pedro: o que destrói o planeta não é o ser humano em si, mas os capitalistas e seus governos

Na plenária aberta da Juventude Faísca para debater o manifesto internacional “O capitalismo e seus governos destroem o planeta, destruamos o capitalismo!” Pedro, estudante de letras da USP, falou sobre a relação de destruição que os capitalistas mantêm com a natureza, e como os trabalhadores em aliança com os setores oprimidos como os indígenas, junto de um partido revolucionário, podem pôr fim à devastação do Planeta Terra. Nesse sentido, relembrou processos do último período onde atuamos como Faísca, batalhando pela unidade entre trabalhadores e estudantes, em conflitos as empresas que exploravam seus trabalhadores eram as mesmas que destruíam o meio-ambiente. Com os trabalhadores com o controle da produção, a relação com a natureza seria completamente diferente.

sábado 25 de setembro de 2021 | Edição do dia

Confira abaixo a fala do Pedro:

“Boa tarde, gente. Eu sou o Pedro, estudante de Letras da USP e para mim é muito emocionante poder estar aqui com vocês hoje debatendo ideias tão potentes e revolucionárias. Depois dessas falas incríveis da Luiza e da Vitória, também gostaria de contribuir com algumas palavras.

Bom, no último período deste ano, a juventude Faísca esteve presente em diversos processos de lutas pelo Brasil todo. A gente não podia ver uma greve ou um piquete em qualquer canto do país que a gente já tava movendo todas as forças possíveis para se ligar às demandas e às lutas dos trabalhadores.

Estivemos presentes na luta dos trabalhadores da MRV, uma das principais empresas de construção civil do país, que em Campinas os patrões se negavam a pagar uma série de direitos básicos pros trabalhadores, chegando a ter casos de trabalhos análogos à escravidão! Em Betim, Minas Gerais, os metalúrgicos da empresa de energia Sae Towers também paralisaram por melhores condições de trabalho, no marco da empresa propor uma PRL 40% menor se comparada à do ano passado e em especial lutavam pela equiparação salarial dentro da empresa, porque não admitiam que alguns companheiros ganhassem menos fazendo o mesmo trabalho! Na empresa Carris em Porto Alegre, e no Detran do Rio Grande do Norte, os trabalhadores dos transportes também não abaixaram suas cabeças e lutaram por melhores condições de trabalho. Em Porto Alegre, vimos os trabalhadores, em especial as mulheres rodoviárias, se organizando mesmo sem o apoio do sindicato, chamando seus colegas a lutarem contra a privatização. Também estivemos com os trabalhadores da Rede TV em SP. Com a impressionante luta indígena em Brasília contra o Marco Temporal. E agora estamos lado a lado dos trabalhadores da ProGuaru.

Em todos esses processos e em vários outros, a nossa juventude buscou se ligar ativamente na luta desses trabalhadores, prestando apoio e solidariedade, se utilizando do nosso jornal, o Esquerda Diário, para noticiar tudo o que a mídia burguesa propositalmente esconde, mas também buscando tirar as lições de cada processo, junto dos trabalhadores, para que enquanto classe nós estejamos mais preparados pras lutas que ainda virão.

Agora, vocês podem me perguntar, como isso se relaciona à questão ambiental que, afinal de contas, é o tema desta plenária? Bom, eu digo para vocês então que se relaciona em tudo! Não só se relaciona teoricamente, como através desses processos podemos tirar a conclusão prática pro drama vivido hoje pelo nosso planeta.

Como já foi dito antes, o que destrói o nosso planeta não é o ser humano em si, mas os capitalistas e seus governos que estão preocupados exclusivamente com seus lucros em detrimento da natureza e dos próprios seres humanos que eles exploram. Essa classe social burguesa, que não passa de vampiros sugadores de toda a energia e potência vital contida em cada um de nós e em cada planta, animal e mineral, merece perecer, e será pelas mãos justamente daqueles que ela explora que isso vai acontecer!

Então, um primeiro ponto de conexão que podemos estabelecer com esses processos de luta é quando a gente pensa que será pelas mãos desses trabalhadores, junto de um partido revolucionário, que poderemos pôr um fim nos devastadores do Planeta Terra! Mas não para por aí…

Em um dia de greve, tivemos o privilégio de ouvir uma declaração muito tocante de um dos metalúrgicos da Sae Towers: "Se fosse os trabalhadores na gestão da fábrica, não aconteceria isso. Porque todo mundo no chão de fábrica é unido. [...] Nós estamos aqui fora, fortes. A vitória vai vir com certeza." Para além da moral aqui expressa, que é impressionante, trouxe essa fala porque essa noção de unidade extrapola inclusive a categoria dos metalúrgicos. Vocês devem se lembrar da greve dos petroleiros em 2019 na qual os trabalhadores davam gás de cozinha para a população que precisava. Essa é a moral da nossa classe! E esse metalúrgico tem razão, "Se fosse os trabalhadores na gestão da fábrica, (isso) não aconteceria"! Imaginem se cada uma das empresas que citei estivesse sob comando dos próprios trabalhadores, como não poderia ser diferente a distribuição de energia para a população, a construção de moradia digna e de qualidade para todos, os transportes gratuitos e de qualidade. Imaginem também a relação outra que estabeleceríamos com a natureza e seus recursos! Se pensamos a Sae Towers, que fabrica as torres de transmissão de energia para o Brasil e outros países do mundo, e o quanto hoje a obtenção de energia é totalmente predatória e irracional, como não poderia ser se o que estivesse em primeiro lugar fosse as nossas necessidades e a harmonia com o planeta e não os lucros! Imaginem como seria se as indústrias fossem controladas pelos trabalhadores.

Na MRV os trabalhadores denunciavam como essa empresa gerida pelo bilionário Rubens Menin preferia financiar o patrocínio de atletas milionários de futebol, e construir um estádio em área de preservação ecológica na região metropolitana de BH, enquanto não pagava seus trabalhadores o que era um direito mínimo, enquanto milhões de trabalhadores não têm onde morar, veem o fogo, as chuvas, a lama destruírem suas casas. Imaginem se esses trabalhadores que bravamente lutaram contra essa empresa pudessem planificar um plano de obras públicas para garantir moradia, saneamento básico e infraestrutura a todos. Imaginem se nós estudantes que criamos um comitê de apoio a essa greve, pudéssemos junto a eles pensar como utilizar formas ecologicamente sustentáveis de produção para levar adiante esse projeto. Como os companheiros da Unicamp denunciaram, imaginem como seria se ao invés das universidades fazerem parcerias com essas empresas capitalistas que lucram absurdamente na pandemia, mas se recusam garantir direitos básicos de seus trabalhadores, se ao invés disso, pudéssemos colocar o nosso conhecimento a serviço de pensar a fundo os problemas sociais da população, e junto aos trabalhadores que movem o mundo poder organizar racionalmente a produção.

No Rio Grande do Sul, os trabalhadores da Carris lutaram bravamente contra a privatização e quando iamos fazer arrecadar fundo de greve nos parques da cidade muitos jovens e trabalhadores apoiavam essa luta, porque sentem na pele todos os dias a diferença entre uma empresa privada e uma pública. Mas nosso programa de estatização sob controle dos trabalhadores e usuários é justamente para permitir um nível superior de organização do transporte. Para que sejam as trabalhadoras rodoviárias que de forma emocionante pegavam nossos megafones e convocavam seus colegas a lutar, faça chuva ou faça sol, que dirijam os transportes. Para que sejam elas que pensem junto aos estudantes e trabalhadores, quais poderiam ser as melhores rotas, horários e funcionamento do transporte em cada cidade.

Antes de terminar a minha intervenção, só gostaria de fechar tocando num último tema central que é a questão indígena. Se pensamos nos povos originários brasileiros, vemos um setor que é totalmente atravessado pelo agronegócio e, consequentemente, pela devastação ambiental. Nós da Faísca estivemos acampados com os indígenas em Brasília prestando todo apoio e solidariedade à luta histórica desses povos contra o marco temporal e aprendemos muito com eles. Os indígenas não têm dúvidas de que não é o ser humano num geral que destrói o planeta, mas sim esse setor que os assassinam, queimam suas terras, extinguem os animais e plantas todos os dias! Para eles, a reforma agrária é algo urgente, coisa que o PT em seus 13 anos de governo não garantiu, e não conseguiu porque buscou conciliar com o agronegócio que depois deu o golpe institucional e abriu caminho para o fortalecimento dessa extrema direita asquerosa e assassina. Essa é uma tarefa que somente a classe trabalhadora organizada de forma independente, e aí voltamos para a questão central da minha fala, somente a classe trabalhadora em aliança com os setores oprimidos, como os indígenas, pode garantir! Só a nossa classe organizada é que pode garantir as demandas democráticas dos setores oprimidos hoje pela burguesia, construindo conjuntamente com eles um mundo que vale a pena ser vivido, um mundo onde cada vez mais faça menos sentido a separação artificial entre homem e natureza, pois cada vez mais nos veremos como um todo conectado. Os indígenas em Brasília deram um enorme exemplo de como podemos lutar contra os que nos atacam nas ruas e em unidade. Meus camaradas da Faísca que estiveram lá, me contaram o quão era forte vê-los lado a lado, muitas vezes os povos nem falavam a mesma língua, mas estavam dispostas a lutar até o final por suas terras.

Essas são algumas das propostas que apresentamos nesse manifesto, tem muitas outras para gente discutir também, mas a gente agora vai abrir pras intervenções, e seria bem legal se cada um falar o que pensa das propostas que apresentamos no manifesto internacional, para quem leu, e quem não leu comentar também o que acha mais importante de adotarmos como bandeira e como método de luta para frear e reverter essa crise horrível. Mas eu só queria dizer que a lógica com a qual elaboramos essas propostas é justamente uma lógica que não separa a nossa luta imediata do nosso objetivo final. Esse programa que apresentamos em nosso manifesto, é parte de um programa que nos permite pensar como parar o desastre capitalista e fazer uma ponte de transição entre essa sociedade totalmente irracional e uma sociedade comunista E eu chamo todos vocês a debaterem conosco essas ideias, mas em especial a se organizarem conosco, a serem parte dessa juventude que em 14 países, em diversos idiomas traz uma mesma luta, a luta por uma sociedade que segundo Marx seria construída por produtores livremente associados, “de cada um segundo sua capacidade; a cada um, segundo suas necessidades”… a luta pela revolução e pelo comunismo.”




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