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ANÁLISE | Popularidade do governo desaba, mas mantém firmes seus 30%

Na semana passada o Datafolha publicou pesquisa em que revela o aumento na rejeição na gestão de Bolsonaro na pandemia, passando para 54% de rejeição ante aos 48% no mês de janeiro. Contudo, os índices de aprovação do seu governo seguiram estáveis em cerca de 30% da população que consideram ótimo ou bom e 24% regular. O que é possível dizer sobre essa base dura do governo?

Ítalo GimenesMestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

sexta-feira 26 de março de 2021 | Edição do dia

Nesta terça-feira, 23, Bolsonaro fez um pronunciamento bastante estranho ao conteúdo negacionista com o qual vinha se posicionando até hoje. Do homem do “corpo de atleta”, da “gripezinha” e de diversas piadas com as mortes pela pandemia, dedicou a fala para defender a sua gestão da pandemia e de ampliar a vacinação. As 3000 mortes diárias não permitem que esconda seu cinismo e mentiras.

É evidente que a popularidade de Bolsonaro despenca com a sua condução da pandemia. Não atoa, 43% da população vê Bolsonaro como o principal responsável pela situação, segundo a última pesquisa Datafolha, que revelou os números de crescente rejeição ao governo.

Contudo, a mesma pesquisa revela que o bolsonarismo é resiliente e o presidente se aferra a eles, os únicos que defendem a sua condução na pandemia. Isso em um cenário em que 65% diz que a situação econômica vai piorar apenas 14% esperam melhora. 80% dizem que o desemprego vai crescer e 77% acham que a inflação vai subir. O que indica que os efeitos da pandemia, das medidas de fechamento e os impactos na economia expressam diferentes impactos regionais.
Dentre os seus apoiadores predomina a visão de que a pandemia está pelo menos total ou parcialmente controlada, chegando a cerca de 42%, ante 10% nos setores que rejeitam o presidente. Da mesma forma, predomina nos seus apoiadores aqueles que defendem o fim de quaisquer medidas de isolamento, chegando a 54%, contra só 20% dos que o rejeitam, mas que querem o fim do isolamento. Pros que apoiam o presidente, 89% veem como ótimo ou boa a sua condução da saúde.

A maioria desses que ainda consideram Bolsonaro ótimo/bom ou regular estão entre moradores da região Sul e Norte/Centro-Oeste, e nem falar que são 70% de empresários. São regiões onde as medidas de fechamento impactam menos na dinâmica da economia, pelo menos nos interiores, e onde o agronegócio mantem forte motor econômico.

Na vacinação também o governo recebe um alívio de seus apoiadores, que 37% dizem estar dentro do prazo ante 9% dos que rejeitam Bolsonaro. Ainda assim, mesmo entre os que apoiam o presidente 55% vê que está mais lenta do que deveria.

E apoiado nessa base que Bolsonaro busca organizar o seu bloco político frente à disputa com os governadores. Do ponto de vista dos que rejeitam Bolsonaro, 59% culpam ele pela atual situação da pandemia, mas dentre os que apoiam o presidente, 49% veem os governadores e prefeitos como os principais responsáveis. Mesmo com a crescente rejeição, 42% da população vê Bolsonaro como capaz de liderar o país. Este inclui aqueles que o consideram “regular” e que expressam opiniões mais próximas sobre sua condução da pandemia daqueles que rejeitam seu governo. E é nesse setor que Bolsonaro vai se agarrar para tentar se fortalecer no processo de arrumação da casa em curso.

O puxão de orelha de uma parcela do capital financeiro e de empresários nacionais que apoiam Bolsonaro propunha em sua carta dos 500 que o chamado “consórcio de governadores” tomasse às rédeas da situação. Contudo, Bolsonaro procura onde se apoiar para não ficar de escanteio e batalhar por se manter candidato em 2022, tirando de campo a possibilidade da “centro-direita”, a lá PSDB, possa se reabilitar, já que o PT com Lula já é um adversário inquestionável. Esse alguém é o Centrão, que cobra caro seu aluguel de base de governo, impondo pressões que aceleram a sua reforma ministerial, aproveitando a fragilidade do governo para impor a gestão Biden sob o governo Bolsonaro. O "cartão amarelo" de Arthur Lira, ao mesmo tempo que faz uma chantagem, autoriza Bolsonaro escolher o setor de governadores mais aliados ao seu governo para estabelecer um comitê de crise, que encabece uma campanha nacional pela vacinação, em troca dos cargos que lhes interessa. Bolsonaro então, deixa de fora João Dória, Leite, ou seja, governadores do PSDB, e também os do PT e PCdoB embora estes tenham suas posições representadas pelo governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), representando o consórcio Nordeste.

Veja também: A chantagem de Lira e a ofensiva de “destrumpização” do governo

Não obstante, os próprios governos estaduais viram aumentar a sua rejeição geral. Ultrapassou pela primeira vez a avaliação de ruim/péssimo (35%) da sua condução da pandemia em relação os que consideram ótimo ou bom (34%). São governadores que em sua maioria posam em defesa da ciência e de medidas de isolamento, mas na prática se opuseram a todas as medidas básicas necessárias e foram altamente resistentes aos fechamentos para não atrapalharem os negócios capitalistas. A exemplo de Doria, que busca se posar como alguém que nunca se opôs à vacina e tenta tirar os logros da chegada das primeiras doses e agora dos testes com a vacina do Butantã, mas nunca esqueçamos que é o mesmo nome que abriu às escolas no pior momento da pandemia, levando a morte de professores e até crianças. Pra que os trabalhadores paguem com suas vidas a pandemia e a crise econômica, apoiando cada reforma, que as patronais demitam à vontade, nisso o Bolsodoria segue vivo e atuante.

E de fato os governadores e prefeituras também são responsáveis pela tragédia que estamos passando, inclusive os do PT e PCdoB, que além de tudo chamam a unidade com os empresários que apoiam Bolsonaro, os verdadeiros entraves para que haja uma resposta efetiva à pandemia. O conjunto de atores desse regime querem rapidamente canalizar o aumento da rejeição de Bolsonaro para uma saída controlada, como é esse comitê de crise, para tentar impedir maiores explosões sociais como a que vimos no Paraguai, pois sabem que na situação do Brasil podem fugir do controle e questionar os lucros capitalistas, assim como os demais representantes do regime do golpe que querem salvá-los: os militares, juízes, o Centrão, os governadores, etc.

É o que explica, por exemplo, a cara de pau do STF de decidir pela reabilitação eleitoral de Lula e a suspeição de Moro, reconhecendo as arbitrariedades antidemocráticas de todo o julgamento que eles mesmos validaram. É parte da pressão que querem fazer sobre o presidente, sim, mas também tirar Lula da gaveta para que ele trabalhe em favor desviar a enorme preocupação com a pandemia, com a fome e o desemprego para as eleições de 2022.

A única forma de dar uma resposta a esse enorme pessimismo com as condições de vida e com a pandemia é se enfrentando contra o conjunto de atores desse regime do golpe e de empresários. Nenhum deles defendeu o que era necessário para frear as mortes que estamos assistindo, impondo reaberturas sem testagem massiva, isolamento racional voluntário, controle genômico. Hoje mesmo dizem que é melhor a vacina que o auxílio emergencial, enquanto os fechamentos na economia, além de serem totalmente parciais em diversos setores, por exemplo nas escolas, em outros os trabalhadores sobretudo informais ficam sem renda ou perdem o emprego.

É preciso impor pela luta dos trabalhadores pelo Fora Bolsonaro, Mourão e todos os golpistas, um plano racional de combate a pandemia, que reconverta as indústrias para garantia de ventiladores, oxigênios, kits intubação, a quebra das patentes das vacinas e estatização dos laboratórios e indústrias farmacêuticas, mas também de um plano que inclua um auxílio emergencial de no mínimo 1 salário mínimo, a licença remunerada de todos os serviços não essenciais que devem ser fechados, assim como a proibição das demissões.




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