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COLUNA | Por que Lula ignorou a greve dos metroviários de SP?

No mesmo dia Lula elogiou FHC, revelou que já conversou com mais de 60 políticos do centrão, com os quais quer fechar acordos regionais. Além de tudo anunciou que na semana que vem vai iniciar conversas com sindicalistas e movimentos sociais. Só que hoje foi um dia decisivo: uma vitória dos metroviários de SP, a categoria que tem a força de parar a maior cidade da América do Sul, seria uma vitória de toda a classe trabalhadora brasileira.

Thiago FlaméSão Paulo

quinta-feira 20 de maio de 2021 | Edição do dia

Nas ruas de São Paulo, nas portas das estações do metro, se travou uma grande batalha. Os metroviários vocalizaram a insatisfação da grande maioria da classe trabalhadora contra o governo Dória e as patronais que descarregam sobre nossas costas todas as consequências da pandemia. Não foram os caminhoneiros bolsonaristas, ou o gado verde-amarelo, muitos menos os ruralistas e seus tratores, mas sim os metroviários que despertaram uma grande simpatia e um sentimento de solidariedade de classe, ainda confuso e embrionário é verdade, mas que traz em si um grande potencial de combate.

Reconhecendo a força da greve o sentimento de solidariedade que despertou, o bolsonarismo não ousou se opor abertamente à greve. Todos que querem derrotar Bolsonaro deveriam ter cavado uma trincheira ao lado dos metroviários para que esse sentimento embrionário e confuso pudesse se transformar, no calor da batalha, num apoio contundente à greve dos metroviários. Em primeiro lugar a CUT e a CTB (ligada ao PCdoB, que inclusive dirige o sindicato dos metroviários) tinham a obrigação de organizar uma grande campanha de apoio ativo à greve. Uma vitória dos metroviários contra Dória não fortaleceria o governo federal, mas sim cada luta de resistência dispersa pelo país.

Lula hoje se revelou por inteiro, ao dar as costas para essa batalha decisiva, que poderia começar virar a mesa e começar a reverter cinco anos de derrotas acumuladas. A derrota da greve dos metroviários de São Paulo foi decisiva em 2014 para que as classes dominantes pudessem iniciar a ofensiva reacionária em 2015, sua vitória em 2021 poderia ser uma inflexão. Quem, como Lula, dá as mãos para Sarneys e Renans, e aposta na CPI como a melhor arma para desgastar Bolsonaro pensando na vitória eleitoral em 2022, quem está disposto a esquecer a Lava Jato e pactuar com os golpistas para manter intactas as reformas e privatizações de Temer e Bolsonaro, realmente não tem nenhum interesse em derrotar Dória com a força da classe trabalhadora.

Pois aí está o significado da frente ampla e da conciliação com os golpistas que Lula promove e arrasta atrás de si Freixo, Boulos e outros que também se calaram frente a greve. Inclusive, Lula e Boulos se reuniram hoje, para articular suas frentes amplas para 2022 e juntos dar às costas aos metroviários. Não é apenas que a frente ampla e a aposta na CPI são insuficientes para derrotar Bolsonaro. Essa estratégia passa também por abandonar completamente, sem dar nenhum apoio, lutas como a dos metroviários, que tem potencial desestabilizador para possíveis sócios da frente ampla como Dória.

Por isso Lula se cala. Se a classe trabalhadora levanta a cabeça e, com seus métodos e sua força, coloca em cheque os governadores e a ofensiva bolsonarista, questionaria também os acordos que Lula está costurando com o centrão e a bolsa de valores para vencer em 2022. Da nossa parte não estranhamos esse silêncio. Lula já mostrou inúmeras vezes ao longo de sua trajetória quais interesses realmente representa: a conservação da ordem nos momentos mais delicados. Quem acha que Lula pode encabeçar um governo de esquerda, que seja benéfico para a classe trabalhadora e o povo, como por exemplo a Resistência, corrente interna do PSOL, deveria tirar suas conclusões.




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