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MINISTRO DA SAÚDE | Quem é Marcelo Queiroga que assume para conduzir a catástrofe com Bolsonaro e governadores

Na noite da última segunda-feira, Bolsonaro oficializou a nova troca de ministro da Saúde do seu governo. O general Pazuello entrega o cargo para o cardiologista Marcelo Queiroga o quarto comandante da pasta desde o início da pandemia. Amigo de Flávio Bolsonaro e indicado por ele, suas primeiras declarações evidenciam que não fará mais que dar continuidade à condução catastrófica da pandemia por parte de Bolsonaro e dos militares junto aos governos estaduais.

Ítalo GimenesMestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

terça-feira 16 de março de 2021 | Edição do dia

Formado em medicina na UFPB, presidente da Associação Brasileira de Cardiologia e diretor do Cardiocenter, hospital e centro de saúde privado de Florianópolis (SC), é visto como um homem de perfil técnico e moderado, mais próximo de ex-ministros como Mandetta e Nelson Teich, sendo também representante do setor privado do sistema de saúde. Como eles, assume defendendo a vacinação e o SUS, mas é também representante dos interesses privados da saúde e das indústrias farmacêuticas.

Ao mesmo tempo, o cardiologista é muito próximo da família Bolsonaro, principalmente do senador Flávio Bolsonaro, quem inclusive o indicou ao cargo. Depois da eleição de Jair Bolsonaro, Marcelo Queiroga participou da equipe de transição de governo, dando opiniões na área de saúde. Em dezembro do ano passado, Bolsonaro já o havia indicado para ser um dos diretores da Agência Nacional de Saúde.

Queiroga também curtiu publicação do senador Flávio Bolsonaro em que o parlamentar se defendia no caso da suspeita compra de mansão por R$ 6 milhões em Brasília. E uma publicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro, na qual ele elogia a deputada Bia Kicis, presidente da CCJ da Câmara.

As primeiras declarações de Bolsonaro de que “todos os ministros da Saúde são de indicação política minha”, deixa evidente que o presidente não está disposto a deixar de lado a coleira vestida pelo Pazuello. Em entrevista à CNN, Queiroga mostrou que sabe disso, e que terá que andar na linha.

Em entrevista à CNN na noite de ontem, declarou que “Esse termo de lockdown decorre de situações extremas. São situações extremas em que se aplica. Não pode ser política de governo fazer lockdown. Tem outros aspectos da economia para serem olhados” tomando o lado do presidente na disputa com os governos estaduais.

Não obstante, defendeu acelerar a vacinação como “única forma de conter a pandemia”, prometendo trazer (não se sabe daonde) R$400 milhões de doses. Corresponde à moderação no discurso que o próprio presidente passou a adotar na última semana após sua queda de popularidade em função da pandemia e dos perigos de explosão social frente a catástrofe.

Por isso que não é possível esperar dessa troca qualquer garantia de que a catástrofe será contida. Marcelo Queiroga dará ao legado do regime do golpe institucional na condução da pandemia, a serviço dos interesses privatistas na saúde e dos lucros capitalistas. Sua entrada busca, por um lado, garantir a exigência dos militares de tirarem um dos seus, o general Pazuello, do centro do comando dessa catástrofe e preservar a instituição depois que o Brasil não só se tornou o centro da pandemia no mundo, mas também de potenciais revoltas. Por outro, seguir mantendo o apoio de sua base bolsonarista que se expressou nas ruas no último domingo em confronto com os governos estaduais.

Nessa mesma entrevista à CNN, Queiroga ofereceu um afago aos governos estaduais, enfatizando que trabalhará para um melhor diálogo entre o governo federal com eles e os estados e prefeituras. Enfatizou aquilo que de fato preocupa ambos os lados, assim como a Globo, o Centrão e o STF: “quanto mais eficiente forem as políticas sanitárias, mais rápido será uma retomada da economia”. Até mesmo o governador do PT, Wellington Dias, expressou ter ficado feliz com as declarações dele em torno da vacinação e do chamado ao diálogo.

Uma clara preocupação de que é preocupação do PT também evitar que maiores explosões sociais que possam questionar a condução não só de Bolsonaro, mas também deles e do seu "consórcio de governadores", no qual o PT buscam maior protagonismo.

Mas a verdade é que nem Bolsonaro e nem os governos estaduais garantem reais medidas preventivas nos estados. Foram parte de firmar um consenso nacional pelas reaberturas do comércio, das indústrias, ano passado, não garantindo sequer testagem massiva, isolamento racional de infectados, controle genômico até hoje, sendo parte de criar as condições para a catástrofe que vivemos hoje em nome dos capitalistas. Tais governos escalam a disputa retórica com Bolsonaro, não oferendo mais do que aumento das medidas repressivas de toques de recolher, mantendo os principais ramos da economia capitalista abertos, e não garantindo auxílio ou licença remunerada para serviços não essenciais e grupos de risco.

Ou seja, o novo ministro vem para trabalhar em favor de um fortalecimento desse consenso nacional entre Bolsonaro e governadores, incluso os do PT, para garantir os lucros capitalistas em meio ao elevado número de mortes, preocupados que os novos records de mortes diárias e o agravamento da precariedade da vida levem a situações de luta de classes que vimos no Paraguai semana passada, ou no Perú, Chile em outros momentos.

Vem também para lavar a cara da responsabilidade dos militares, assim como dos demais atores golpistas, na condução desse processo. É nesse cenário que o "fator Lula" volta rapidamente em cena, fortalecendo as posições dos seus governos estaduais, e buscando canalizar eleitoralmente o descontentamento com Bolsonaro, perdoando o legado golpista na gestão da pandemia e nos ataques.

O Centrão, por sua vez, quis se aproveitar desse enfraquecimento de Bolsonaro na opinião pública para impor um nome que fosse seu para conduzir a pasta. Ludhmila Hajjar era a principal aposta nesse sentido, mas Bolsonaro viu perigos dessa nomeação não agradar a sua base negacionista, que se expressou nas ruas no último domingo, e debilitar a retórica contra os governadores, sobretudo do NE. Não atoa, Arthur Lira e Pacheco, presidentes da Câmara e do Senado, e que chefiam o chamado Centrão, expressaram descontentamento com Queiroga, apesar de alguns aliados terem expressado apoio.

A única maneira de encontrar uma real saída para essa situação é impondo nas ruas, nos locais de trabalho, estudo e moradia, o caminho da auto-organização abandonado pelas centrais sindicais CUT e CTB, ou da UNE, todos dirigidos pelo PT e PCdoB. É necessário exigir desses organizações de massas que saiam da sua quarentena que é cumplice do pacto nacional genocida que os militares, ministros do STF, o Centrão, governadores do golpismo, mas também dos do PT, buscam refortalecer para salvar os capitalistas.




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