×

GREVE | Terceirizados da Conservo conquistam pagamento pela Reitoria da UFMG

Os trabalhadores da Conservo, que trabalham com os serviços de manutenção e portaria na UFMG, travaram uma difícil luta neste fim de ano e conquistaram que a Reitoria pagasse seus salários, 13º e auxílios que estavam atrasados, alguns há mais de 45 dias, faltando apenas o auxílio alimentação dos porteiros, o qual exigimos que seja feito imediatamente. Seguiremos junto aos trabalhadores contra qualquer tipo de retaliação àqueles que lutaram, sem corte de ponto dos grevistas e pela recontratação de todos que quiserem quando a UFMG fechar contrato com nova empresa.

Lina HamdanMestranda em Artes Visuais na UFMG

quinta-feira 29 de dezembro de 2022 | Edição do dia

[Imagem: Samuel Freitas]

Com os cortes de orçamento do Bolsonaro (PL), a reitoria da UFMG declarou em 6 de dezembro que não havia caixa para pagamento de bolsas de estudantes e salários de terceirizados. Segundo os contratos com as empresas terceirizadas, essas precisam pagar seus trabalhadores por três meses caso a UFMG atrase os repasses. A Conservo não cumpriu tal "compromisso" e aparentemente está em vias de alegar falência. Com salários, FGTS e auxílios transporte e alimentação/cesta básica em atraso, os trabalhadores entraram em greve no fim do semestre da universidade, com os estudantes também com bolsas de monitoria e extensão atrasadas.

Os trabalhadores travaram uma difícil luta e arrancaram através desta o pagamento integral de seus salários, 13º e auxílios. Mas ainda falta o pagamento do auxílio alimentação dos porteiros, o qual exigimos que seja feito imediatamente. E a Conservo segue em sua sede de arrancar até a dignidade de seus trabalhadores, querendo tirar o direito de greve destes, realizando desconto dos dias em que estavam paralisados. A empresa que já lucrou milhões através do trabalho destes terceirizados em seus 15 anos de UFMG, quer tirar cada dia de greve de trabalhadores que passaram esse fim de ano no sufoco, com as latas vazias.

Os pagamentos conquistados foram realizados diretamente pela Reitoria, o que evidencia que a terceirização é uma prática irracional e que só serve para legitimar o trabalho precário, sem direitos e sem estabilidade de trabalhadoras e trabalhadores, em sua maioria negros, que mantêm nossa universidade de pé.

A luta unificada dos terceirizados em greve junto aos estudantes, fechando a avenida Antônio Carlos e fazendo barulho na Reitoria, arrancou também o pagamento das bolsas dos estudantes, mostrando o caminho contra os cortes de Bolsonaro nas universidades e seus impactos em todo país. No mesmo momento que os trabalhadores da Conservo na UFMG, outros terceirizados de outras universidades pelo país também paralisaram suas atividades para lutar pelos seus direitos, o que evidencia que a responsabilidade pelo descaso com os trabalhadores terceirizados da UFMG não é somente da Conservo, que aparenta estar em vias de alegar falência, mas dos cortes na educação e da administração deles pelas reitorias.

É uma política de precarização da universidade pública federal e estadual, intensificada pelo Bolsonarismo e pela direita, para que o ensino e o conhecimento produzido no país esteja ainda mais a serviço do lucro privado de algumas grandes empresas como a Vale. E se Bolsonaro foi a continuidade violenta dos ataques golpistas de Temer (MDB) que aprovou o Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista, é preciso destacar que os cortes nas federais começaram em 2015 no governo Dilma (PT). E a terceirização foi intensificada nos governos Lula, com objetivo de aceitar a precarização do trabalho "não-intelectual", como da limpeza, da manutenção e da portaria. E as Reitorias, assim como a da UFMG, escolheram ao longo de todos esses anos, inclusive nos longos quatro anos de ataques de Bolsonaro e Mourão, administrar os cortes e descontar seus impactos nas costas dos setores mais precários dentro das universidades.

Como me dizia um grevista que trabalha há anos na UFMG ao fim da greve, "há muitos anos atrás, o contrato era direto com a Reitoria. Se a Reitoria nos pagou, por que não volta a ser direto de novo?". Tal pergunta ressoa nos meus ouvidos, enquanto falo para cada trabalhador que tive contato na greve que seguiremos junto com eles contra qualquer tipo de retaliação ou demissão daqueles que lutaram pelo mínimo que era o pagamento pelo trabalho que realizaram. E seguiremos com eles contra os cortes de ponto e pelo pagamento do que ainda lhes é devido.

Na greve, o Centro Acadêmico de Filosofia (CAFCA), o coletivo Faísca Revolucionária, assim como o jornal Esquerda Diário, buscamos implementar, junto a outros estudantes, o sentido de aliança operária-estudantil, dando espaço para esses trabalhadores falarem e denunciarem a realidade deles, e buscando dar gás para seguirem na luta e ajudar a que suas ações tivessem mais impacto e ficassem mais conhecidas. A força dos terceirizados conquistou apoio de outras entidades estudantis e professores de dentro e fora da UFMG que contribuíram com uma campanha de solidariedade para que esses trabalhadores pudessem se manter firmes na luta.

Ao fim da greve, os trabalhadores ainda realizaram uma demonstração de solidariedade de classe, tirando uma foto contra as demissões das terceirizadas que estavam em luta na UNICAMP.

Contra qualquer perseguição por parte da Conservo e da Reitoria, exigimos que todos os terceirizados da UFMG não tenham seus dias de greve descontados e que sejam readmitidos frente ao provável fim do contrato com a declaração de “falência” por parte da empresa.

E nossa luta não para por aí. Contra a terceirização e a reforma trabalhista que precarizam a vida dos trabalhadores, para naturalizar que uma massa majoritariamente negra seja explorada até o limite, lutamos pela efetivação dos terceirizados com plenos direitos como todos trabalhadores concursados da UFMG. Os trabalhadores que já realizam o trabalho diário nas universidades devem ter seus direitos e sua estabilidade garantida, sem necessidade de passar por concurso público.

Os momentos que estivemos juntos nessa greve mostram que só a força dos trabalhadores unificados, de forma independente das reitorias e de qualquer governo, inclusive o de Lula-Alckmin, através da mobilização e da luta é que conseguiremos nossas demandas, lutar pela educação para todos, reverter privatizações e ataques, como ocorreu recentemente com a venda do Metrô de BH através de um acordo entre Alckmin, Zema e Bolsonaro.

Na greve, muitas vezes discutimos com os trabalhadores sobre o acesso à universidade ser restrito e elitizado, como o vestibular é uma barreira que restringe a entrada dos pobres e negros nos cursos. Que a unidade que construímos nesse fim de ano se fortaleça para que os trabalhadores, com apoio dos estudantes e professores, possam construir um futuro em que seus filhos possam estudar em uma universidade de "excelência". E que o conhecimento dessas universidades seja produzido para o bem estar e a dignidade dos trabalhadores e da população.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias