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GRAMSCI | Um grande militante morreu… Gramsci

Artigo inédito em português de Pietro Tresso, um dos fundadores do Partido Comunista Italiano junto com Antonio Gramsci e Amadeo Bordiga, em memória de Antonio Gramsci. Traduzido por Alvaro Bianchi, professor no Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).}

segunda-feira 27 de abril de 2020 | Edição do dia

Após onze anos de prisão, Antonio Gramsci morreu de apoplexia em Roma, em uma clínica para a qual a brutal repressão fascista havia sido obrigado a transferi-lo há dois anos, para evitar que o homem mais amado do proletariado da Itália acabasse morrendo no fundo de sua cela.

Antonio Gramsci chegou ao socialismo nos anos imediatamente anteriores à guerra de 1914, quando, como um jovem estudante, filho de camponeses pobres de sua Sardenha natal, foi a Turim a fim de continuar seus estudos. Foi na capital do Piemonte, em contato com o proletariado industrial mais concentrado e mais experiente na Itália, que ele deu seus primeiros passos no caminho da revolução. Embora de aspecto externo extremamente descuidado e fisicamente penoso, provocava rapidamente uma grande impressão naqueles que tinham a oportunidade de falar com ele[1]. Mussolini, que em 1914, antes de renegar o socialismo, havia sido convidado a Turim pelo grupo de estudantes socialistas, lembrava-se de Gramsci oito anos depois, quando escreveu que a cabeça do Partido Comunista era um corcunda extraordinariamente inteligente e astuto…

A turbulência de 1914 e a entrada na guerra da Itália, em 1915, encontrou Gramsci, ainda ignorado, ainda obscuro, em seu posto de combate. Ele não se dobrou. Os rumores segundo os quais ele teria hesitado, ou mesmo manifestado simpatia ao movimento intervencionista, são apenas insinuações habilmente espalhadas por certos “discípulos” tardios a fim de justificar sua deserção e covardia[2]. Em 1917, no ano mais difícil da guerra, quando a reação atingia sem piedade os revolucionários, enquanto Ercoli (o atual secretário do Comintern[3]), renunciou ao partido em nome da “Magna Anglia”, Gramsci continuou seu trabalho modesto, garantiu o serviço de correspondência para o órgão central do Partido, o “Avanti!” [Avante!], e fez a ligação com os companheiros que permaneceram em Turim, ou que retornavam da zona de guerra[4]. O próprio Gramsci me disse, em 1922, que ele nunca havia sido intervencionista.

Mas foi só em 1919 que Gramsci revelou completamente todas as suas qualidades de polemista, de cérebro e coração da classe operária e, especialmente, do proletariado industrial do Piemonte.

Em 1919, o proletariado italiano estava em completa efervescência revolucionária. Os recuos sucessivos da burguesia aproximaram extraordinariamente, aos olhos da classe operária e das massas trabalhadoras, a possibilidade da vitória final, o triunfo da revolução. As notícias da Rússia sobre as vitórias e a consolidação do poder soviético encheram as massas de entusiasmo. O emblema da foice e do martelo cobria as paredes das cidades e aldeias de toda a Itália. Os nomes de Lênin e Trotsky eram saudados como incitamento à luta por milhões de trabalhadores, soldados, pequenos camponeses. O Partido Socialista, que crescia dia-a-dia, comprovava-se absolutamente impotente para coordenar o movimento das massas, para organizar a revolução. Mesmo os elementos revolucionários mais conscientes e determinados avançavam com passo irresoluto e incerto.

Dois nomes surgiram: Bordiga e Gramsci.

Bordiga, já conhecido pelos jovem antes da guerra, estava mais familiarizado do que que Gramsci com os homens do Partido Socialista e com o próprio partido, fundou o semanário “Il Soviet” [O Soviet] com sede em Nápoles e organizou por toda a Itália sua fração, a qual foi mais tarde chamada de “fração abstencionista”, porque defendia a abstenção nas eleições parlamentares. A luta de Bordiga era a luta pela cisão com os reformistas e centristas; a luta pela construção de um Partido da revolução. Há mais de um ano combatia sozinho com esse objetivo. Gramsci ainda não via essa necessidade. Da experiência da Revolução de Outubro e das revoluções em outros países, reteve, especialmente, o fenômeno do crescimento e desenvolvimento dos “Conselhos de Fábrica”. Ele via nesses conselhos a forma revelada pela história do autogoverno das massas trabalhadoras, as células vivas da Nova Ordem.

“L’Ordine Nuovo” [A Nova Ordem] era o título do semanário que fundou em Turim e do qual assumiu a liderança. Toda a verdadeira personalidade de Gramsci, sua originalidade, sua grandeza podem ser encontradas neste jornal. Por dois anos, em artigos escritos de forma muito pessoal, mas que refletem todo o tormento e todo o esforço criativo da vanguarda revolucionária do proletariado, em Turim, Gramsci consumiu os tesouros da sua inteligência, sua cultura e sua paixão revolucionária para impulsionar os conselhos de fábrica, para demonstrar o valor destrutivo da ordem capitalista e a necessidade daqueles conselhos como as células constitutivas da “Nova Ordem”, a ordem socialista e comunista. Os operários das grandes fábricas de Turim, os membros das “Comissões Internas”, se agitavam em torno dele. Os burocratas sindicais o acusaram de minar a autoridade e as funções dos sindicatos, mas ele respondeu conquistando para sua linha a maioria sindical e, assim, transformando os poderosos sindicatos em potentes apoiadores dos conselhos de fábrica, em vez de serem seus adversários.

A derrota do proletariado italiano, em setembro 1920, após o abandono das fábricas ocupadas, assinala o fim do e movimento de conselhos de fábrica, ao qual Gramsci deu o melhor de sua vida[5]. “L’Ordine Nuovo” deixou de ser um semanário e passou a sair diariamente, mas era então é uma coisa diferente daquela que ele havia fundado.

Os filisteus e burocratas, aqueles que agora procuram explorar Gramsci em benefício da traição e da enganação staliniana, já nos apresentam um falso Gramsci, irreconhecível aos olhos daqueles que o conheciam e para si mesmo se ainda estivesse vivo.

Acreditamos que podemos dizer, pelo contrário, que Gramsci, apesar de suas qualidades notáveis, também havia se equivocado e em questões importantes. E podemos acrescentar que ele tinha plena consciência e não tinha medo de dizê-lo. A prova é que durante anos se recusou a recolher seus escritos em um volume. Finalmente, ele decidiu fazê-lo, mas começou a escrever um prefácio (ele já tinha escrito cerca de 100 folhinhas com sua pequeníssima mas clara caligrafia) na qual criticava a si próprio com aquela honestidade intelectual que o caracterizava[6].

Este projeto foi interrompido por sua prisão no momento da leis de emergência e agora com a sua morte[7].

Nós não sabemos como foi a evolução de Gramsci, durante os onze anos de prisão, mas podemos dizer o seguinte: todas as atividades de Gramsci, toda a sua concepção do desenvolvimento do Partido e do movimento operário se opõem totalmente ao stalinismo, às suas vis políticas e suas falsificações descaradas. Um dos últimos atos políticos de Gramsci antes de sua prisão em 1926 foi a aprovação pelo B.P. [Bureau Político] do partido italiano de uma carta ao B.P. do partido russo, pedindo-lhe para conter o confronto com o camarada Trotsky dentro dos limites de uma discussão entre camaradas, e não adotar métodos que distorcessem as questões controversas e impedissem que o Partido e da Internacional decidissem com pleno conhecimento de causa. Esta carta também foi aprovada por Grieco (Garlandi), Camilla Ravera e Mauro Scoccimarro.

Mas ela foi enviada por “um trilho morto”, por meio de Ercoli, que, estando em Moscou, sondou os destinatários e achou por bem mantê-la em seu bolso[8].

Podemos dizer, também, que, pelo menos desde 1931 e até 1935, a ruptura moral e política de Gramsci com o Partido stalinizado estava completa. A prova é dada não só pelo fato de que durante estes anos a imprensa colocou na surdina a campanha para a libertação de Gramsci, mas também pelo fato de que Gramsci foi oficialmente deposto como chefe do Partido e que em seu lugar puseram esse palhaço bom para todos os usos que responde pelo nome Ercoli[9]! Os companheiros que saíram da prisão disseram-nos, há dois anos, que Gramsci havia sido excluído do Partido, exclusão que a direção decidiu ocultar pelo menos enquanto Gramsci não pudesse falar livremente[10].

E isso, a fim de poder explorar a imagem de Gramsci para seus próprios fins. Em qualquer caso, os burocratas stalinistas haviam conseguido enterrar Gramsci politicamente antes do regime de Mussolini fazê-lo fisicamente.

Gramsci morreu, mas para o proletariado, para as gerações mais jovens que vêm para a revolução através do inferno fascista, será sempre aquele que mais do que qualquer outro, ao longo dos últimos vinte anos, encarnou os sofrimentos, as aspirações e a vontade dos trabalhadores e camponeses pobres Itália.

Ele continuará a ser um exemplo de integridade moral e honestidade intelectual absolutamente inconcebível para a congregação dos aproveitadores stalinistas, cujo lema é “vire-se”.

Gramsci morreu, mas depois de testemunhar a decadência e morte do partido que ele tinha potentemente ajudado a criar e tendo sentido em seus ouvidos os tiros da pistola carregada por Stalin que abateram uma geração de velhos bolcheviques.

Gramsci morreu, mas depois de saber que outros velhos bolcheviques como Bukharin, Rikov e Rakovski já estavam prontos para serem abatidos[11].

Gramsci morreu de um golpe no coração, talvez nunca saberemos quem mais contribuiu para matá-lo: se os onze anos de sofrimento nas prisões de Mussolini ou os tiros de pistola na nuca de Zinoviev, Kamenev, Smirnov, Piatakov e seus pares nas masmorras da GPU que Stalin ordenou[12].

Adeus Gramsci

(Tradução e notas de Alvaro Bianchi a partir do texto Un grand militant est mort… Gramsci. La Lutte Ouvrière, n. 44, 14 Mai 1937.)

Originalmente publicado pela Revista Movimento

[1] Gramsci tinha desde a infância sérios problemas de saúde, era corcunda e muito pequeno. Ele próprio atribuía a saúde debilitada ao fato de ter caído do berço quando era criança (GRAMSCI Antonio. Lettere dal carcere. Palermo: Sallerio, 1996, p. 706). O médico de confiança de Gramsci, Umberto Arcangeli, o diagnosticou na prisão, em um laudo de 25 de março de 1933, como portador do mal de Pott (tuberculose vertebral), o qual teria sido contraído na infância. (N.do T.)
[2] O mito de Gramsci “intervencionista” nasce com a publicação de um de seus primeiros artigos na imprensa socialista, no qual marcava distância tanto dos intervencionaistas, como da passividade dos neutralistas, em uma posição mais próxima daquela do então socialista Benito Mussolini (GRAMSCI, Antonio. Neutralità attiva ed operante. In: Croneche Torinesi. Torino: Einaudi, p. 10-15). (N. do T.)
[3]Trata-se de Palmiro Togliatti. (N. do T.)
[4] No dia 22 de agosto de 1917 o proletariado de Turim se insurgiu em protesto contra a falta de pão. Durante três dias uma greve geral paralisou a cidade e ocorreram confrontos armados entre a polícia e os trabalhadores, finalmente derrotados no dia 25. Na mesma noite desse dia começaram as prisões dos dirigentes socialistas da cidade, 24 ao todo (ver SPRIANO, Paolo. Storia di Torino operaia e socialista: de De Amicis a Gramsci. Torino: Einaudi, 1972, p. 416-431). As prisões conduzem Gramsci à direção da seção socialista de Turim e do jornal Il Grido del Popolo. (N. do T.)
[5]A obra de referência a respeito de Gramsci e os conselhos continua sendo SPRIANO, Paolo. L’Ordine nuovo e i consigli di fabbrica. 2. ed. Torino: Giulio Einaudi, 1973. (N. do T.)
[6]Gramsci nunca publicou seus escritos jornalísticos, os quais, segundo afirmou em carta de 7 de setembro de 1931, “eram escritos para o dia e deveriam morrer (…) ao final do dia” (GRAMSCI, Antonio. Lettere dal carcere. Palermo: Sallerio, 1996, p. 457). Na mesma carta Gramsci, fala de três tentativas de publicar esses escritos: uma em 1918, proposta pelo professor Umberto Cosimo, reunindo os escritos de Il Grido del Popolo; outra no final de 1920, a pedido de Giuseppe Prezzolini, mas o autor preferiu pagar as despesas do trabalho já feito e retirar da editora antes que fosse impressa; a terceira, em 1924, com escritos de L’Ordine Nuovo, editada pelo deputado fascista Franco Ciarlantini, o qual se comprometia a não mexer no texto gramsciano nem acrescentar nenhum prefácio polemico. Gramsci não permitiu que nenhuma dessas iniciativas prosperasse. A carta não menciona outra edição, mas a convivência de Tresso com Gramsci em seu último ano antes de ser preso foi muito próxima. É possível, então que Gramsci estivesse mesmo trabalhando em uma edição de seus escritos. Também é plausível supor que aquelas cem folhinhas fossem um esboço de La questione meridionale. (N. do T.)
[7]As leis de emergência foram decretadas como resposta a um obscuro atentado contra Mussolini. Gramsci foi preso em 8 de novembro de 1926, apesar de ser deputado. Em 4 de junho foi condenado pelo Tribunal Especial a vinte anos, quarto meses e cinco dias de prisão. Recebeu a liberdade condicional do dia 25 de outubro de 1934, permanecendo entretanto internado, primeiro na clínica Cussomano, em Formia, e depois de agosto de 1935 na clínica Quisisana, em Roma. Em abril de 1937 terminou seu período de liberdade condicional e Gramsci recobrou sua liberdade. Planejava pedir sua expatriação para a União Soviética, mas teve um derrame cerebral no dia 25 de abril e faleceu no dia 27.
[8]O episódio da carta, datada de 14 de outubro de 1926, marca um ponto de inflexão nas relações entre Gramsci e Togliatti. Em meio à luta da direção staliniana contra a Oposição Unificada, liderada por Trotsky, Zinoviev e Kamenev, o Bureau Político do Partido Comunista da Itália encaminhou uma carta para o Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, e não para o seu Bureau, como afirma Tresso, na qual considerava a linha da maioria do partido russo “fundamentalmente justa”. Apesar disso a carta concluía afirmando que os líderes da oposição “contribuíram potentemente para educar para a revolução [os comunistas italianos] e várias vezes corrigiram enérgica e severamente, estiveram entre nossos mestres”. A seguir os italianos afirmavam que gostariam de estar seguros de que “a maioria do C.C. do P.C. da U.R.S.S. não vencerá de modo esmagador essa luta e esteja disposta a evitar as medidas excessivas” (Ufficio politico del Pcd’I al Comitato central del Partito comunista russo. 14 ottobre 1926. In: DANIELE, Chiara. Gramsci a Roma, Togliatti a Mosca: il carteggio del 1926. Torino: Einaudi, 1926, p. 409). Embora alinhada politicamente com a maioria os termos da carta eram inadmissíveis para a fração staliniana. Togliatti enviou um telegrama imediatamente ao Bureau do partido italiano afirmando que as inquietudes deste “não correspondem à situação real do partido russo” (Togliatti all’Uficcio politico del Pcd’I, 16 ottobre 1926. In: DANIELE, Chiara. Op. cit., p. 413). Dois dias depois, o mesmo Togliatti escreveu uma carta mais longa para o Bureau do PCd’I contestando fortemente os argumentos deste e, também, uma carta para Gramsci com o mesmo propósito (Togliatti all’Ufficio politico del PcdÍ. 18 ottobre 1926 e Togliatti a Gramsci. 18 ottobre 1926. In: DANIELE, Chiara. Op. cit., p. 414-425). Manuilski, que havia lido a carta dos italianos também escreveu para Gramsci afirmando que o perigo de cisão não existia no partido soviético (Manuil’skij a Gramsci. 21 ottobre 1926. In: DANIELE, Chiara. Op. cit., p. 427). Gramsci, por sua vez, respondeu a Togliatti em 26 de outubro, dizendo que sua carta lhe parecia “abstrata e muito esquemática no modo de raciocinar”, insistindo que essa maneira de pensar lhe havia provocado “uma impressão das mais penosas” (Gramsci a Togliatti. 26 ottobre 1926. In: DANIELE, Chiara. Op. cit., p. 435-437). Esta é a última troca direta de correspondência entre os dois dirigentes comunistas. Dois estudos amplos sobre o confronto entre Gramsci e Togliatti, embora em certa medida condescendentes com este último, são os de PISTILLO, Michele. Gramsci-Togliatti: polemiche e dissensi nel 1926. Bari: Piero Lacaita, 1996; e o de VACCA, Giuseppe. Gramsci a Roma, Togliatti a Mosca. In: DANIELE, Chiara.. Op. cit., p. 1-149. (N. do T.)
[9]A campanha pela libertação de Grasmci passou por várias fases. Ela é intensa imediatamente após a prisão, mas praticamente cessa depois da “svolta” do PCd’I. Entre 1929 e 1932 não há notícias de iniciativas para libertar Gramsci (cf. NATOLI, Claudio. Grasmci in carcere: le champagne per la liberazione, il partito, l’Internazionale (1932-1933). Critica Marxista, a. 36, n. 2, 1995, p. 301). A campanha é retomada em abril de 1933, mas rapidamente se interrompe, provavelmente para não dificultar a transferência de Gramsci para outra clínica e o recurso solicitando liberdade que sua cunhada Tatiana Schucht e Pietro Sraffa estavam encaminhando. Gramsci, por sua vez, alimentava a esperança de que uma troca de prisioneiros entre o Vaticano e a União Soviética pudesse ter lugar e temia que Mussolini não aceitasse a troca se uma campanha internacional apresentasse o fato como uma derrota do fascismo. Por sua vez, as pesquisas mais recentes mostram que o governo soviético não se empenhou em uma ação diplomática pela libertação do prisioneiro do fascismo. Sobre os limites do empenho soviético, ver VACCA, Giuseppe. Vida e pensamento de Antonio Gramsci. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012, cap. XVII.
[10]Gramsci não foi excluído do partido. Mas suas divergências com a direção do partido e Togliatti se tornaram ainda mais agudas a partir do início de 1930. Em julho de 1929 as teses aprovadas pelo X Pleno do Comitê Executivo da Internacional Comunista identificavam a socialdemocracia com o fascismo. Liderado por Togliatti o partido italiano alinhou-se rapidamente com as novas teses, abandonou a palavra-de-ordem de convocação de uma Assembleia Republicana (Constituinte), caracterizou como iminente uma insurreição proletária contra o regime fascista e, por fim, empenhou-se na reconstrução do aparelho do partido em território italiano, fazendo retornar os militantes que haviam se exilado, o que acabou provocando uma nova onda de prisões (ver SPRIANO, Paolo. Storia del Partito comunista italiano: II. Gli anni dela clandestinità. Torino: Einaudi, 1969, cap., XXI-XV e, em especial, AGOSTI, Aldo. The Italian Communist Party and the Third Period. In: WORLEY, Matthhew. In Search of Revolution: International Communist Parties in the Third Period. London: I.B. Tauris, 2004, p. 88-105). Gramsci se opôs a essa guinada e manifestou seu desacordo com os companheiros de prisão em conversas que manteve com eles a partir de julho de 1930, defendendo a bandeira da Assembleia Constituinte (cf. o depoimento de Giovanni Lai em QUERCIOLI, Mimma Paulesu. Gramsci vivo nelle testimonianze dei sui contemporanei. Milano: Feltrinelli, 1977). Quando Bruno Tosin, funcionário da secretaria do PCd’I em Roma, chegou à prisão, seus companheiros de cela lhe “explicaram quais haviam sido os termos da discussão com Gramsci e (…) disseram que praticamente havia ocorrido uma ruptura no interior de nosso grupo de prisioneiros” (Idem, p. 228). De todo modo, é exagerada a afirmação de que Gramsci havia sido excluído do partido. Ele próprio havia decidido se afastar de seus companheiros de prisão, mas não do partido (N. do T.).
[11] O chamado Processo dos 21, também nomeado nos documentos oficiais como “Bloco dos direitistas e dos trotskistas antissoviéticos” ocorreu entre 2 e 13 de março de 1938. Embora Nicolai Bukharin, Alexei Rikov e Christian Rakovski não tivessem ainda sido processados e condenados quando Tresso escreveu seu artigo, já se encontravam presos e seu destino era previsível. (N. do T.)
[12] Grigori Zinoviev, Lev Kamenev e Ivan Smirnov foram condenados juntamente com outros 13 líderes bolcheviques, no primeiro Priocesso de Moscou (19 a 24 de outubro de 1936), acusados de terrorismo, de planejarem o assassinato de Kirov e de prepararem a morte dos mais altos dirigentes soviéticos, dentre eles Stalin. Foram executados logo a seguir. Gueorgui Piatakov e mais 16 dirigentes foram condenados no segundo Processo (23 a 30 e janeiro de 1937). (N. do T.)




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