Nesta segunda-feira, 02, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, promulgou a Lei Gabriela, que aumenta as penas e sanções no caso de feminicídios. Entretanto, em seguida, e faltando poucos dias para o 8 de março, dia internacional das mulheres, novamente provocou polêmica com uma frase em que questiona as mulheres, responsabilizando-as dos ataques machistas e dos abusos, mostrando quais são seus reais pensamentos por trás de seu discurso.

Legenda: No cartaz do grupo internacional de mulheres Pão e Rosas, lê-se a declaração de Piñera “Às vezes não é só a vontade do homem de abusar, mas também a posição das mulheres de serem abusadas” e as frases “Por uma greve feminista!”, “Fora Piñera!”, “Abaixo ao governo machista e opressor!”.

Aprovada no dia 30 de janeiro por unanimidade no Parlamento, a lei considera como feminicídio os crimes que acontecem nas relações informais ou nas mãos de um desconhecido, os quais antes eram considerados homicídios. A nova legislação introduz dois conceitos no Código Penal: o “feminicídio por causa de gênero”, para casos que acontecem fora de uma relação afetiva e nas mãos de um desconhecido somente pelo fato da vítima ser uma mulher; e o “feminicídio íntimo”, para casais que não conviviam e mantinham relação intermitentes.

“Temos que corrigir aquele que abusa e temos que dizer à pessoa abusada que ela não pode permitir que isso aconteça”. Sebastián Piñera

Entretanto, o presidente chileno, que é responsável por múltiplas denúncias de abuso e violações durante as detenções a mando do Governo desde que começaram as mobilizações no país há quatro meses, declarou frases misóginas que foram imediatamente repudiadas nas redes sociais. Piñera assegurou que “Às vezes não é só a vontade do homem de abusar, mas também a posição das mulheres de serem abusadas”.

E seguiu com uma frase do mesmo calibre: “Temos que corrigir aquele que abusa e temos que dizer à pessoa abusada que ela não pode permitir que isso aconteça”.
A Ministra da Mulher, Isabel Plá, saiu com declarações dizendo que o presidente não pretendeu “responsabilizar as mulheres”, mas já era tarde demais, pois estava em evidência a misoginia de Piñera e a desvalorização em relação às mulheres, que não é novo, e que demonstra que essas declarações não foram um deslize ou mal entendido, e sim o que ele realmente pensa.

A frase de Piñera gerou o repúdio imediato nas redes sociais e em particular no mundo das organizações feministas.

Neste ano foram registrados cinco feminicídios no Chile, enquanto que em 2019 ocorreram um total de 46 crimes, segundo as cifras oficiais.

Segundo a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal), o braço da ONU para o desenvolvimento na região, ao menos 3.529 mulheres foram assassinadas somente em 2018 por razões de gênero no continente.