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OPINIÃO
Centrais propõem aliança com patronal e Doria por novo auxílio e não organizam plano luta
Ítalo Gimenes
Mestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

Na quarta-feira passada, 16, foi lançada uma carta assinada por centrais sindicais e associações patronais articulada com o governador João Dória propondo uma aliança entre seus sindicatos patronais com empresários das indústrias e os governadores em prol de um auxílio emergencial de R$600 entre outras medidas.

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Foto: Governador João Dória com o sindicalista Paulinho da Força ECOM-PMSP/2017

O governador de São Paulo teria sido o articulador da reunião no fim de março entre cinco centrais sindicais e entidades do setor produtivo, da qual saiu a carta “Brasil unido para proteger a vida”, endereçada ao próprio governador, além de parlamentares e outros governos estaduais, chamando a pressionarem o governo federal por essas medidas.

O documento é assinado pela Força Sindical, UGT, CSB, NCST, organizações patronais apoiadoras do golpe e da necessidade de reformas como a trabalhista e da previdência, mas também a CTB, central dirigida pelo PCdoB, geralmente associada à CUT do PT, que não assina o documento.

Junto dos sindicatos, assinam associações comerciais como a Abrinq, associação de indústrias de brinquedo, Sindusfarma, das indústrias farmacêuticas e o Instituto Ethos, que tem mais de 500 empresas associadas, e o movimento Não Demita, criado por cerca de 40 grandes empresas e que já conta com milhares de participantes.

Além do auxílio, defendem “mais vacinas”, lockdown, recursos ao SUS e, não obstante, “renovar as medidas de proteção dos empregos e salários”. Com isso estão pedindo para Bolsonaro voltar com as medidas da MP 936, chamada de MP da Morte por condicionar a “manutenção de empregos” com a suspensão de contratos ou reduções de jornada com redução de salário por parte dos patrões. Uma verdadeira “bolsa empresário”, que deu à patronal o direito de descontar os custos da crise e da pandemia sobre os trabalhadores, desobrigando que paguem salários, enquanto a fome e o desemprego só aumentaram.

Na prática a MP 936 aplicou os efeitos da Reforma Trabalhista nas indústrias com apoio dos sindicatos patronais, mas também a CUT e CTB, menos ligadas à patronal. O auxílio emergencial vem como medida a “remediar” a fome criada pelos próprios empresários. Lamentável é ver entidades que deveriam organizar a luta contra esses empresários pedirem seu apoio ao auxílio com o fundamento de que “aquece consumo” e, portanto, salva as próprias empresas.

As organizações sindicais signatárias da carta fazem dos sindicatos peça auxiliar da demagógica pressão patronal contra o governo federal no combate a pandemia. Não deixam dúvida disso quando enaltecem “o esforço do Governo do Estado de São Paulo para fornecer mais vacinas, assim como todas as iniciativas de governantes e dirigentes para enfrentar essa crise sanitária e econômica”. Fazem do esforço de pesquisadores e trabalhadores responsáveis pelos insumos e a produção da vacina arma política do tucano golpista.

Doria e toda a patronal são algozes dos trabalhadores, é um escândalo que estejam propondo aliança com eles para “pressionar o governo”, cujos ataques esses empresários nunca deixarão de apoiar, como a MP 936. Agora com 4 mil pessoas morrendo por dia em meio ao aumento do desemprego, da fome, enquanto novas fortunas aparecem na mídia, esses empresários viram que as chances de maior explosão social estão colocadas. O Paraguai significou um tremor sísmico breve mas muito próximo, e nos EUA, no Chile, na França, os ventos são de tempestade. Por isso buscaram atuar no sentido de moderar o negacionismo e belicismo de Bolsonaro contra os governadores, como ficou expresso no setor que assina a carta dos 500.

Setores como Luiza Trajano, defensora da privatização dos Correios, alguns setores do capital financeiro, que salvaram seus lucros não pagando salários ou mantendo os trabalhadores não essenciais produzindo brinquedos, móveis, carros, agora fazem demagogia de "opositores racionais" ao Bolsonaro, depois de todo esse tempo o apoiando. Salvaram seus lucros na pandemia expondo milhares de trabalhadores e impedindo que a produção das indústrias fosse convertida na produção de respiradores, UTIs, e outros insumos necessários para combater a pandemia. Não estão nem aí com a vida dos trabalhadores, são cumplices e os maiores beneficiados do genocídio de Bolsonaro.

Mas agora, acovardados como sempre foram, querem a união de esforços de todo o regime golpista para acelerar a vacinação e voltar alguma medida de auxílio para tentar conter os ânimos. Jogam alguns anéis às brasas para não queimar os dedos. A reabilitação eleitoral de Lula é parte disso, preparando uma saída conciliada do governo Bolsonaro, ainda que seja ainda limitado o apoio patronal à volta de Lula. Mas também, junto a ele organizações sindicais voltam a entrar em cena depois de serem sistematicamente excluídas pelos golpistas de qualquer influência nas decisões do Estado e tiveram suas bases de poder atacadas.

A carta é um sinal dado pelas organizações sindicais mais patronais da plena disposição de levarem adiante seu papel de administradores dos ataques capitalistas na pandemia e de apoiadores de qualquer opção política desejada pela patronal. É só lembrar que Paulinho da Força Sindical e UGT foram apoiadoras de Bolsonaro. Ao invés de lutar contra as demissões, como na Ford, em rodoviários, e tantos outros lugares, colocaram seus escritórios e reuniões do Zoom a serviço de planejar a implementação dos cortes e demissões da MP 936. Não só as patronais, mas também a CTB e a CUT, mesmo essa não assinando o documento. Provaram com isso, com a garantia da passividade e desorganização das lutas isoladas, de que são uma peça não só útil, mas necessária hoje para manutenção do regime do golpe institucional e seu legado econômico.

Cientes de que entregam por dia barbaridades maiores que as do dia anterior que, apesar de terem imposto duras derrotas, alguma hora um acúmulo de derrotas pode virar impulso para o seu contrário, uma luta feroz contra toda a herança do passado. Por isso, afiam suas espadas, com medidas repressivas como a LSN e arbitrariedades do judiciário, das forças armadas, aumento do aparato repressivo policial, para lançarem contra as organizações dos trabalhadores. Mas também elaboram uma reorganização das suas "polícias nos sindicatos" como parte do seu plano de salvar o legado econômico do golpe, devolvendo-lhes algum espaço maior no poder.

Funcionais a esses setores patronais, a CUT e CTB, dirigidas pelo PT e PCdoB buscam construir o seu acordo com o regime transformado pelo golpe de 2016, em que esses partidos e sindicatos voltem a ter maior protagonismo na sua condução, apesar aprofundamento do papel autoritário das Forças Armadas e o Judiciário. Mostra de que sustentam esse governo Bolsonaro e seus ataques, apesar de se colocarem como oposição ao governo, contribuindo com a política cúmplice dos juízes e governadores das mortes provocada por Bolsonaro defendendo os mesmos interesses patronais e capitalistas que o sustentam.

Vivemos uma situação onde Dória manda novamente o retorno presencial das escolas, com a comunidade sem o direito de decidir, que já levou a morte inclusive de crianças pela pandemia. Merendeiras no Rio de Janeiro estão há quatro meses trabalhando sem salário, com trabalhadoras morrendo de Covid nessa situação. Com a polícia desalojando ocupação e uma escolinha no CCBB em Brasília. Ao mesmo tempo, as trabalhadoras da LG de Taubaté e das suas empresas terceirizadas fazem uma forte luta contra o fechamento da fábrica, batalhando para unir efetivas e terceirizadas. Dezenas de categorias lutam por vacina, sobretudo nos transportes como nos rodoviários de Natal, Recife, DF e outras capitais, assim como metroviários de São Paulo e entregadores, mas também garis no Rio de Janeiro. As centrais deviam estar propondo um grande chamado nacional aos trabalhadores, organizado em um plano de luta para ser discutido nas assembleias de base, que buscasse unificar essas diversas expressões de descontentamento. Em primeiro lugar a CUT e a CTB, obrigando às centrais patronais a moverem suas bases.

É unindo os trabalhadores contra os seus inimigos e não com eles que é possível impor saída para a pandemia e a crise, começando com um plano de emergência que seja por vacina para todos com quebra das patentes e expropriação dos laboratórios e indústrias químicas. Mas também testagem massiva, disponibilização de prédios ociosos e salas de hotéis para criação de clínicas de isolamento voluntário e de UTI, separadas entre si. Ampliação de leitos e contratações da saúde, unificando do sistema público e privado, rumo ao SUS 100% estatal sob controle dos trabalhadores da linha de frente. A liberação imediata dos serviços não essenciais com obrigação patronal pelo pagamento dos salários e programa de crédito ao pequeno empresário. Assim como um auxílio emergencial digno, de no mínimo R$ 1000,00.

 
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