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PETRÓPOLIS
A culpa é da chuva?
Arthur Alves

Já passa de 70 o número de mortos pela tragédia que ocorreu em Petrópolis-RJ no dia de ontem, revolta define o sentimento.

Mais uma vez nos dirão: foi uma tragédia natural, choveu demais!

Basta uma rápida olhada para a história para vermos o total oposto: foi uma tragédia planejada!

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Foto: UOL

Ao longo da história do nosso país, a população periférica, em sua maioria composta de negros e negras, foi sendo submetida a uma profunda precarização das condições de vida, tendo que sobreviver e construir suas casas em locais de risco, com falta de saneamento básico e infraestrutura. Se olhamos hoje, vemos que quase nada mudou. Milhões de brasileiros seguem nessas condições desumanas de sobrevivência, e a cada nova enchente temos um novo número de mortos.

Mas, mortos? Ou assassinados?

Peço licença ao leitor para uma breve citação de Frederich Engels, em seu livro "A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, escrito em 1845:

"Quando um indivíduo causa a outro um dano físico de tamanha gravidade que lhe causa a morte, chamamos esse ato de homicídio; se o autor sabe, de antemão, que o dano será mortal, sua ação se designa por assassinato. Quando a sociedade põe centenas de proletários numa situação tal que ficam obrigatoriamente expostos à morte prematura, antinatural, morte tão violenta quanto a provocada por uma espada ou um projétil; quando ela priva milhares de indivíduos do necessário à existência, pondo-os numa situação em que lhes é impossível subsistir; quando ela os constrange, pela força da lei, a permanecer nessa situação até que a morte (sua consequência inevitável) sobrevenha; quando ela sabe, e está farta de saber, que os indivíduos haverão de sucumbir nessa situação e, apesar disso, a mantém, então o que ela comete é assassinato. Assassinato idêntico ao perpetrado por um indivíduo, apenas mais dissimulado e pérfido, um assassinato contra o qual ninguém pode defender-se, porque não parece um assassinato: o assassino é todo mundo e ninguém, a morte da vítima parece natural, o crime não se processa por ação, mas por omissão – entretanto não deixa de ser um assassinato."

Entenda-se por "sociedade", o "poder da classe que atualmente possui o poder político e social e que, portanto, também é responsável pela situação dos que não participam do poder. Essa classe dominante, na Inglaterra e nos outros países civilizados, é a burguesia" nas palavras de Engels.

Se vemos dessa forma, não fica difícil perceber que há uma classe que decide de forma totalmente consciente manter a população numa situação de miséria, violência, opressão e exploração. A tragédia anunciada que ocorreu em Petrópolis é mais uma das muitas expressões cotidianas desse fato.

A especulação imobiliária joga ao azar milhões de pessoas que não tem condições de construir ou comprar uma moradia digna, e as empurra para as ocupações de áreas de risco, onde, no anseio de ter um teto para abrigar a si e aos seus familiares, constrói suas casas do jeito que for possível. O governo tem plena consciência de quais são as áreas de risco, sempre teve. Mantém as pessoas morando nessas áreas até que tragédias aconteçam pra depois falar que foram "as fortes chuvas". Negam-se a investir e construir moradias dignas pra população enquanto vivem tranquilamente em suas mansões, enquanto as funcionárias e funcionários deles perdem literalmente tudo nas enchentes.

Se não gera lucro, não é interesse dos capitalistas. Dar condições dignas de moradia para toda a população não gera lucro, não irão fazer.

Aumentam o custo de vida, precarizam as condições de moradia, de trabalho, de acesso à saúde, impedem a classe trabalhadora de ter acesso às condições mínimas de subsistência durante toda a vida e repetem de forma cínica: "foi uma tragédia natural”.

Não se pode combater a chuva, mas definitivamente podemos nos organizar e combater a classe que nos impede de resolver cada uma das mazelas que o capitalismo, seu sistema, nos impõe. Afinal, não somos somente vítimas de toda essa situação, somos também sujeitos que podem atuar e transformar a realidade em que vivemos.

Capitalistas, a culpa é de vocês!

 
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