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Eleições APEOESP | O que está em jogo com as eleições da Apeoesp?

No próximo 26 de maio, ocorrerão as eleições para a direção do sindicato dos professores do estado de São Paulo, a Apeoesp, entre os maiores da América Latina.

sábado 6 de maio de 2023 | Edição do dia

São 3 chapas concorrentes, com integrantes de diversas organizações políticas: a chapa 1 que é situação há décadas, composta por PT, PCdoB, Apeoesp na escola e na luta, MES - TLS e XV de Outubro, Resistência, Unidos pra Lutar (esses quatro grupos, integrantes do PSOL), Conspiração Socialista, PCB e outros grupos, com Bebel Noronha à cabeça; a chapa 2, a Oposição Unificada Combativa, composta por PSTU, MRT – Nossa Classe Educação e CST e outras correntes da oposição, como o POR, Oposição Revolucionária e LUTE e setores independentes, com Flavia Bischain (PSTU) e Maíra Machado (MRT) à cabeça; e a chapa 3, composta pelo Movimento Luta de Classes - UP. A principal diferença dessas eleições para a última que ocorreu há 6 anos (sim, 6 anos!) é que uma parte da oposição à chapa 1 rompeu com a então chamada Oposição Unificada e se integrou justamente a chapa de Bebel Noronha e do PT, que dirigem o sindicato há décadas. Mas qual é a importância disso tudo para os professores, para a educação e inclusive para o nosso país? O que está em jogo com essas eleições?

A Apeoesp, além de ser o maior sindicato da América Latina, reúne uma categoria de trabalhadores que acumula um histórico imenso de luta, que cumpriu um papel enorme nas greves e na formação do próprio PT na década de 1980, na resistência ao neoliberalismo tucano e em todas as lutas em defesa da educação e do salário, que se coloca como uma barreira contra o projeto de precarização que vem sendo implementado há mais de 3 décadas pelo PSDB e agora se aprofunda com o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos). As professoras e professores do estado mais rico do país muitas vezes demonstramos disposição para nos organizar e lutar, e na maioria das vezes nos deparamos com a política traidora de Bebel e companhia que buscou sufocar tal disposição. Essa é a primeira importância desse sindicato e, portanto, de suas eleições: a oposição nesse sindicato tão importante é uma referência e um ponto de articulação para o movimento sindical combativo e independente do PT, questão fundamental no momento em que vivemos.

O fato do professorado defender a educação não é pouca coisa. Por ser uma categoria que está cotidianamente em contato com a infância e a juventude, percebemos os diversos problemas sociais decorrentes da imensa desigualdade do país, da exploração do trabalho dos jovens e de suas mães e pais que é cada vez mais esmagadora, do machismo, do racismo e da LGBTfobia; e cada alune vítima desses problemas que encontramos nos atinge. E por ser uma categoria que cada vez mais tem seu trabalho inviabilizado pela superlotação das salas, pela falta de profissionais da educação, pela péssima estrutura dos prédios, pela falta de materiais, pela sobrecarga de trabalho, pelos obscenos baixos salários, e um longo etecétera, sentimos na pele o projeto dos governos de submeter sempre mais os filhos da classe trabalhadora, e nós mesmos, a um futuro de precarização da vida. A cada aula que não conseguimos dar por conta desse acúmulo de problemas, mais nosso profundo desânimo se transforma em raiva e revolta. E esse é o ingrediente principal da disposição de luta, que tem o potencial de questionar e colocar em xeque toda essa estrutura de precarização da educação, que se liga à precarização do trabalho e da vida do conjunto da classe trabalhadora.

Portanto, o fato de termos há tanto tempo uma direção política cujo objetivo é nos neutralizar, abafar essa revolta, em nome de viabilizar a sua entrada no Estado e seus acordos para governar para os mesmos que precarizam a educação, é um imenso problema. Como sabemos, o PT assumiu o comando do governo federal em 2003 pela primeira vez. Desde então, de um partido de conciliação de classes se tornou administrador do próprio estado capitalista, o que significou, naquele primeiro momento de avanço da economia, algumas concessões para a classe trabalhadora (o que, perto dos imensos ataques que sempre sofremos, foram um pequeno alívio momentâneo), porém significou e significa também a salvaguarda do próprio regime de exploração e opressão, em benefício exclusivo da classe dominante. Essa política foi a que abriu caminho para o golpe de 2016, o governo Bolsonaro e toda a ofensiva contra os nossos direitos nos últimos anos. E mesmo quando processos de resistência ocorreram, como a ocupação das escolas contra justamente a reforma do Novo Ensino Médio ou a greve geral, o PT e a direção da Apeoesp foram uma barreira para a luta se desenvolver. Hoje, Lula governa junto com um dos principais algozes em SP da educação e dos trabalhadores, Geraldo Alckmin, e com os grandes conglomerados da educação privada, como a fundação Lehman e o Todos pela educação, que tem profundos interesses ligados à precarização da educação pública, a começar pelo próprio Novo Ensino Médio – e por isso já temos a resposta do governo: não o revogarão.

Essa é a lógica de todo esse partido, o que fica claro na atuação de Bebel Noronha, presidente do sindicato que se elegeu deputada estadual e hoje faz acordos com o próprio governador Tarcísio de Freitas. Um exemplo disso foi o seu voto a favor de seu aumento de salário escandaloso e ter sido parte do convite (apesar das tímidas críticas pessoais que fez para salvar o que resta da sua imagem) a esse grande algoz da classe trabalhadora e da educação para o último 1º de maio – sinal que transmite à nossa classe de que podemos ter uma aliança, podemos confiar em tipos como ele. É por isso que nos atos, de cima do caminhão de som, nos boletins do sindicato, em vídeos, a direção faz intervenções bonitas, com frases fortes e de combate, muitas vezes concordando com as demandas mais sentidas do professorado, mas na prática política, não constroem a organização da luta, não debatem com os educadores, dificultam a comunicação entre o professorado, esvaziam as reuniões e as assembleias, não estão no chão da escola; porque sabem que a organização independente dos professores é um entrave aos acordos com a direita.

Ao contrário dos setores da oposição que se bandearam para a Chapa 1, não achamos que uma unidade no sindicato com o PT vai avançar sequer um passo na luta contra Tarcísio e a direita e contra os ataques à educação que o governo Lula vai manter. A unidade precisa ser construída a partir das escolas e impondo assembleias democráticas para organizar a nossa luta. A união se forja na luta pela efetivação imediata, sem necessidade de concurso, de todos os categoria O e contratados, pois nada nos divide mais que termos professores de primeira e segunda categoria. E a cada ano temos visto Bebel e a maioria que controla burocraticamente o sindicato minar e boicotar a unidade entre efetivos e contratados.

Por isso temos a necessidade premente de desatar as amarras da Apeoesp com o Estado e com um governo que já anunciou que não vai revogar a reforma do ensino médio e que está levando adiante uma nova lei de teto de gastos. Lutar contra essas medidas de forma efetiva: é isso que chamamos de independência política dos governos e dos patrões. O sindicato não pode ter nenhum comprometimento com esses setores, justamente porque esse comprometimento significa que eles ditarão como e quando (e se) as nossas demandas serão colocadas em pauta; significa que a gente deverá substituir a nossa aliança com a juventude e o conjunto da classe trabalhadora em organização e luta pela espera por um “momento propício” para que os governos nos atendam – que nunca vem e nem virá, já que nossas demandas mais estruturais se chocam frontalmente com os interesses da classe dominante para a educação. Enquanto tivermos uma direção no sindicato que nos oriente por essa lógica, será muito mais difícil revelar a força política do professorado, que tem o potencial de incendiar outros setores da classe trabalhadora justamente por poder ligar tantas demandas sentidas dessa classe.

Diante desse cenário, se torna um problema enorme que grupos antes integrantes da oposição, como o MES e o Resistência, hoje decidam somar forças com quem trai sistemática e historicamente as nossas lutas. É uma ofensa à nossa inteligência que se denominem enquanto A "Oposição Unificada" que passa a integrar a chapa 1, como se ainda pudessem ostentar um rótulo que não tem nada a ver com a realidade, pois integram o governo Lula junto com Alckmin e integram a chapa de Bebel e do PT. Querem com isso criar uma confusão para que os professores não saibam que a única oposição que mantém a tradição de luta antiburocrática é a chapa 2. Inclusive a Chapa 3 (Movimento Luta de Classes) está também com a Chapa 1 em várias regionais e subsedes do sindicato, além da grande parceria entre a UP e as burocracias cutistas em outros sindicatos,que só se lança para tentar dividir os votos da oposição e assim fortalecer a Chapa 1. E fazem isso justamente para apagar a existência de uma política contrária ao que estão fazendo.

Todos esses setores dizem que é preciso fortalecer a Apeoesp. Com isso temos completo acordo! No entanto, como é possível fortalecer o sindicato ao lado daqueles que são os principais responsáveis pelo seu enfraquecimento? Portanto, a unidade com Bebel, o PT e o PCdoB não fortalece o sindicato, uma vez que o professorado percebe que essa política é, no mínimo, ineficaz, e por isso cada vez mais se afasta do sindicato, se desfilia, busca saídas individuais, e não coletivas, pro enorme desgaste que é dar aulas no caos em que transformaram a educação pública.

Além disso, justificam unificação com a chapa 1 pela necessidade de combater a extrema direita. Mas como desenvolvemos acima: não é possível derrotá-la se a política do grupo que orienta o sindicato é de aliança com setores da direita tradicional, como Alckmin, que são os que sempre alimentam a precarização da educação pública e a expansão do ensino privado e de seus interesses. E como infelizmente pudemos observar no último período com os ataques nas escolas e o clima de terror orquestrados pela extrema direita, é justamente essa precarização do ensino que abre espaço para a política desses setores.

E também não será com a política totalmente incoerente da chapa 3, conformada pela UP, que será possível avançar na necessária independência política para a Apeoesp: eles lançam outra suposta chapa de oposição, mas regionalmente nas subsedes estão aliados à chapa 1. Ora, a organização do sindicato começa exatamente pelas subsedes, onde o sindicato está (ou deveria estar) mais próximo das escolas, onde é possível estabelecer uma organização em menores grupos que possam se articular e integrar o conjunto da categoria, e diga-se de passagem é onde mais se expressa o desgaste e rechaço que essa direção majoritárias da Apeoesp recebe dos professores. Se nesses espaços, a pretensa oposição da Chapa 3 está com a Chapa 1, esse processo inicial é interrompido de cara e se fortalecem os braços dessa burocracia que é sustentada materialmente pelas subsedes. Conformarem uma chapa estadual sozinhos, então, se torna, além de incoerente, ineficaz e vazio de potencial de organização do professorado.

Por isso, nós do Nossa Classe – Educação compomos a chapa 2, Oposição Unificada Combativa, e chamamos as professoras e professores a apoiar, espalhar nossas ideias e votar. Através dela, queremos batalhar com o conjunto da categoria por essa mais que necessária política de independência em relação aos governos, estadual e federal, e de ampla democracia dentro do sindicato, para que o professorado decida por suas demandas e pelos rumos de sua organização política e luta. É de fundamental importância que a Apeoesp seja um polo de organização independente do PT e de sua política de conciliação, pois, como dissemos, por conta de nossa relação tão próxima com a nossa classe, podemos ser exemplo e também contribuir para a organização independente do conjunto da classe trabalhadora nacionalmente.




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