×

JUVENTUDE NACIONAL | Quais as perspectivas para a juventude anticapitalista e revolucionária?

Entrevistamos jovens militantes do MRT e da Faísca - Anticapitalista e Revolucionária sobre os debates na política nacional e internacional após o II Congresso do MRT.

quarta-feira 29 de março de 2017 | Edição do dia

O Esquerda Diário conversou com jovens militantes do Movimento Revolucionário de Trabalhadores e da Faísca – Juventude Anticapitalista e Revolucionária, que nos dias 17, 18 e 19 de março estiveram presentes no II Congresso do MRT, que contou com a presença de muitos jovens militantes como delegados, secundaristas, universitários de instituições públicas e privadas, bem como de jovens trabalhadores. Nessa entrevista eles contam um pouco sobre as discussões que estão fazendo acerca dos rumos da política nacional e internacional, e também sobre os principais debates e perspectivas que resultaram dessa jornada de discussões:

“Nosso congresso se deu ao calor dos acontecimentos do dia 15 de março, grande parte das nossas discussões a respeito da juventude foram no sentido de se pensar qual o papel de uma juventude anticapitalista, revolucionária e pró-operária, como a Faísca, num momento em que a classe trabalhadora começa a entrar em cena. Junho de 2013 e as ocupações de secundaristas e universitários foram parte de forjar uma geração de jovens que questionam profundamente esse regime podre. A consolidação do golpe institucional, o fortalecimento da direita nas eleições, e a aprovação de ataques como a PEC 55, levaram a uma situação mais à direita. Mas, o 15M mostrou uma enorme disposição de luta dos trabalhadores e um apoio popular muito forte. Debatemos como esse novo cenário abre ainda mais espaço para avançarmos na construção da Faísca, como forte agrupação nacional de juventude, profundamente aliada aos trabalhadores e aos setores mais oprimidos da sociedade, batalhando por uma perspectiva que vá muito além da miséria do possível que o capitalismo quer nos impor. Uma juventude disposta a acordar cedo para panfletar nas portas das fábricas, a estar lado a lado com os trabalhadores em suas lutas, greves e piquetes, mas também em sua vida cotidiana, debatendo dia a dia a necessidade da revolução. Como parte de avançar nesse desafio, queremos depois de três meses de debates, atualizar nosso manifesto programático à luz do que foi o 15M e do novo momento político que se abre. Utilizando-o como uma importante ferramenta para chegar a um número cada vez maior de jovens pelo Brasil, como parte da nossa luta junto aos trabalhadores, para derrotar de vez os ataques do governo golpista, como as reformas da previdência, trabalhista, do ensino médio e a terceirização. ”
Sagui, secundarista de Campinas

“Outro debate importante foi a respeito da convulsiva situação internacional, marcada por uma profunda crise política, econômica e social em países centrais para o sistema capitalista. Que tem sua expressão máxima na ascensão de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, representando a cara mais machista, racista e xenófoba do imperialismo. Diante disso ressaltamos a necessidade de aprofundar ainda mais nosso perfil anti-imperialista, com uma forte campanha em defesa dos imigrantes nos Estados Unidos e em todo o mundo, tendo em vista as políticas xenófobas que vêm sendo adotadas por Trump e outros países europeus. Em um momento de profunda crise de representatividade, num cenário de crise orgânica, é necessário fortalecer uma alternativa que possa combater as alternativas demagógicas da extrema-direita, como Trump, Le Pen, e outros. Ao mesmo tempo que mostre os limites das alternativas neo-reformistas, que buscam melhorias por dentro do capitalismo, como o Syriza e o Podemos, ou mesmo Bernie Sanders. É desde esse ponto de vista que encaramos a construção do portal Esquerda Diário e da nossa rede internacional de diários, como parte de atualizar o conceito de jornal leninista para os modelos do século XXI, e principalmente da nossa batalha pela construção de uma alternativa anticapitalista e revolucionária dos trabalhadores, das mulheres e da juventude.”
Odete Cristina, estudante da USP

“Discutimos também, como a força da luta das mulheres e do povo negro obriga que a burguesia tente, a todo custo, separar nossas demandas das demandas do conjunto da classe trabalhadora, utilizando para isso diversas estratégias. Se pensamos na luta do povo negro, primeiro criaram o mito da democracia racial, agora enquanto nos levantamos com nossos Blacks para gritar que nossas vidas importam, tentam apresentar saídas individuais, como o empoderamento ou a visibilidade, que são incapazes de responder até o final nossas angústias e sonhos, porque o capitalismo precisa oprimir para melhor explorar. Como parte dessa reflexão, fruto de importantes avanços que tivemos com as elaborações “Questão Negra, Marxismo e Classe Operária no Brasil” e “A Revolução e o Negro”, publicados pela editora Iskra, debatemos a necessidade de fortalecer cada vez mais nosso perfil anticapitalista no combate ao racismo, batendo de frente com o mito da democracia racial e as falsas alternativas burguesas. Tendo como uma das campanhas mais importantes a luta pela retirada imediata das tropas brasileiras do Haiti, somada a plenos direitos civis e trabalhistas aos imigrantes haitianos no Brasil.”
Pammella Teixeira, diretora do D.A. da Biologia na UFMG

“As mulheres vêm mostrando sua força em todo mundo, nossa luta ganhou as ruas de diversos lugares e nossa força se expressou numa paralisação internacional, em mais de 50 países, no último 8 de março. Nós queremos junto às mulheres do Pão e Rosas construir um forte movimento de combate ao machismo que se combine com a luta intransigente contra a transfobia e o racismo, numa perspectiva de ruptura com esse sistema de miséria que é o capitalismo. Como parte de avançar nessa perspectiva debatemos no Congresso o papel do nosso Manifesto Internacional do Pão e Rosas, como uma importante ferramenta para discutirmos com centenas e milhares de mulheres, como as que aqui no Brasil foram parte da primavera feminista, das ocupações secundaristas, da paralisação no 15M e que cada vez mais se levantam contra o machismo e os ataques do governo golpista de Temer.”
Virginia Guitzel, ativista LGBT e jovem trabalhadora na área da saúde em Santo André

“Os dias 8 e 15 de março expressaram a disposição de luta de uma parcela importante de trabalhadores, mulheres e jovens em nosso país, mesmo com o corpo mole das grandes entidades sindicais e estudantis para organizar nossa luta desde cada local de estudo e trabalho, conforme vimos com a falta de qualquer ação que pudesse mudar a aprovação da terceirização irrestrita. Para que a nossa força continue em cena e seja um fator decisivo no cenário atual, é fundamental que entidades como CUT, CTB, UNE, UBES, frentes como a Povo sem Medo e a Brasil Popular, e partidos de esquerda como o PSOL, coloquem todas as suas forças para organizar uma greve geral imediata, convocando para isso comitês massivos e organizados desde cada fábrica, cada escola, cada universidade, avançando para eleger delegados que possam se articular nacionalmente, coordenando a luta contra a reforma da previdência, a reforma trabalhista e a terceirização, organizando um plano de lutas que possa tornar concreto a demanda do "Fora Temer". Nós da juventude do MRT, juntamente com os companheiros da Faísca, desde as entidades que somos parte da gestão junto a diversos companheiros independentes, como na Faculdade de Educação da USP e no Serviço Social da UERJ, viemos dando passos importantes para que os estudantes voltem a ver as entidades como um instrumento para sua organização e tomem nas suas próprias mãos a atuação política cotidiana, em cada sala de aula, pela base, com comandos e atividades unificadas, entre estudantes, professores, funcionários e outros setores em luta, para que possamos debater juntos os rumos da nossa mobilização. Estaremos nas ruas nesse dia 31, lutando contra todos os ataques, mas também exigindo que seja organizada uma verdadeira greve geral desde já, aproveitando a disposição que nossa classe vem demonstrando.”
Carolina Cacau, estudante da UERJ, professora e ex-candidata a vereadora do MRT pelo PSOL, no Rio de Janeiro

“Um dos grandes debates na esquerda hoje é qual a alternativa que podemos dar diante do fortalecimento de setores da direita nos governos e da crise da estratégia de conciliação petista. Alguns setores da esquerda como o MAIS, o PSOL e o PSTU, defendem "Eleições Gerais", sob novas regras, como uma resposta política. Mas como uma nova votação pode ser uma alternativa independente do PT, se todas as pesquisas eleitorais apontam que o candidato mais forte à presidência do país nesse momento é Lula? Dizem que essa eleição se daria sob novas regras. Novas regras que seriam definidas por quem? Pelos mesmos políticos corruptos que hoje estão no congresso aprovando duríssimos ataques contra nós? Essa política acaba encobrindo pela esquerda a política de "Diretas Já" do PT e trabalhando, mesmo que de forma indireta, para a volta de Lula. Para nós do MRT uma resposta revolucionária nesse momento se daria por meio de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana. Imaginemos que com a força da nossa organização, por meio de amplos e massivos comitês de luta, consigamos finalmente construir uma greve geral que derrube a reforma da previdência, a terceirização irrestrita, os ataques e até mesmo o golpista Temer. O que faríamos depois? Lutaríamos para uma nova eleição que pudesse recompor tudo de novo ou batalharíamos para que fôssemos nós, com nossos delegados eleitos desde cada local de estudo e trabalho, os que definíssemos os rumos do país? Com certeza a última opção, que seria concretizar a política de uma constituinte imposta pela força da nossa mobilização. Nessa constituinte, nós, como ala revolucionária, atuaríamos para mostrar que é necessário avançar em uma ruptura mais profunda com esse sistema, batalhando por um governo operário que rume ao socialismo.”
Guilherme K, estudante de ciências sociais na UFRGS

“Estamos entrando no nono ano da crise capitalista, em todo o mundo a juventude vem buscando alternativas diante desse cenário. Para nós, não é possível derrotarmos essa direita que vem tentando se alçar como alternativa radical se nos mantivermos presos a um projeto que busque conciliar duas classes radicalmente antagônicas. O Syriza traiu o povo grego aceitando a humilhação imposta pela Troika, mesmo depois da população ter votado massivamente por não aceitar um acordo de submissão. Sanders decepcionou milhares de jovens que simpatizaram com a ideia do socialismo no coração da maior potência imperialista do mundo ao apoiar Hillary Clinton como candidata à presidência dos Estados Unidos. A estratégia de conciliação petista levou à consolidação do golpe institucional, que fortaleceu a burguesia para avançar contra os direitos dos trabalhadores, das mulheres e da juventude. Para nós do MRT, está colocando um momento único onde podemos disputar amplos setores de trabalhadores e jovens para as ideias anticapitalistas e revolucionárias. Buscando dar uma resposta para que sejam os capitalistas a pagarem pela crise que eles mesmos criaram. E como parte dessa batalha, lutaremos pela reconstrução de um partido internacional da classe trabalhadora, que leve consigo as demandas de todos aqueles setores oprimidos e explorados por esse sistema de misérias, para fazer uma verdadeira revolução social capaz de mudar radicalmente a sociedade em que vivemos.”
Tatiane Lima, estudante da Unicamp




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias