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Irlanda | Trabalhador precário brasileiro vira herói após impedir ataque à uma escola em Dublin

“Tirei o capacete e dei na cabeça dele”, declarou o carioca Caio Benício. O ataque vitimou 3 crianças e 2 adultos.Após o ataque, atribuído a um imigrante argelino, eclodiram as manifestações mais violentas já registradas em décadas na Irlanda com a extrema-direita liderando protestos contra imigrantes no país.

domingo 26 de novembro de 2023 | Edição do dia

Aos jornais irlandeses, o brasileiro Caio Benício, que interrompeu a jornada de trabalho sobre sua moto para golpear com capacete o assassino que esfaqueava covardemente uma menina disse: "pelo jeito eles (os manifestantes) odeiam imigrantes. Bem, eu sou um imigrante e fiz o que pude para tentar salvar a menininha. Se as vítimas sobreviveram, serei grato por ter estado no lugar certo, na hora certa. Se a menininha não sobreviver aos ferimentos, vou sempre pensar que poderia ter agido mais rápido, mas como estou me recuperando de uma cirurgia no joelho, demorei um pouco para sair da moto".

Veja o vídeo com sua fala:

Nos protestos contra imigrantes que sucederam o ataque na escola, cerca de 500 pessoas tomaram as ruas da cidade, bondes e ônibus foram incendiados, viaturas da polícia destruídas e lojas foram saqueadas. As autoridades irlandesas avaliam que os protestos xenófobos podem continuar e que a propagação de ideologias relacionadas à extrema-direita nas redes sociais tem sido um elemento perturbador.

Em contrapartida, os grandes jornais do país e o próprio primeiro-ministro Leo Varadka afirmaram que o carioca Caio Benício é um herói por ter impedido os assassinatos, assim como afirmaram que o ataque envergonha o país. Caio descreveu o nervosismo com o qual foi conduzido à delegacia para prestar depoimento. "Estava tremendo todo" e afirmou que o autor do ataque era “um maluco, não era terrorista". A motivação do crime ainda está sendo investigada pela polícia. Mas se por um lado o ataque motivou protestos xenófobos violentos no país, por outro é preciso dizer que parte da população organizou uma campanha de arrecadação para “pagar uma cerveja” ao brasileiro que juntou 100 mil euros em apenas 7 horas.

É verdade que este ressentimento contra estrangeiros buscando melhores condições de vida ou mesmo asilo político nos países europeus com suas economias em crise não representa a maioria da população irlandesa, como mencionou o primeiro-ministro Leo Varadkar, ao tentar cobrir com panos quentes a situação, no entanto, é inegável a escalada do fenômeno de extrema-direita ao redor do mundo nos últimos anos e esses protestos contra imigrantes, que vemos na porta de centros de refugiados na Irlanda agora, são reflexo dessa conjuntura desse sistema de exploração e opressão em crise cada vez mais profunda.

A guerra na Ucrânia acirra a disputa entre blocos imperialistas tentando sobrepor suas dificuldades para expandir seus insaciáveis lucros, da mesma forma a nova fase de massacres do Estado ilegítimo e terrorista de Israel sobre a Palestina também é sintomática de um capitalismo a beira do colapso lutando para se manter a partir do controle militar em regiões estratégicas como as que resguardam reservas de petróleo no Oriente Médio tornando a Palestina alvo do imperialismo genocida e resultando na maior taxa de refugiados no mundo. Algo que implica em maior número de imigrantes nos países imperialistas com suas crises econômicas onde as ideologias de extrema-direita desviam o foco dos problemas estruturais do capitalismo para culpar suas vítimas alimentando discursos de ódio racistas e xenófobos.

A precarização do trabalho, cada vez maior em nosso planeta, atingiu também a Caio Benício vivendo na Irlanda como entregador de aplicativos sem seus direitos trabalhistas reconhecidos. Mesmo sendo retratado como herói, o imigrante brasileiro segue trabalhando sob condições degradantes numa sociedade com valores deteriorados com a qual se defronta atualmente com seu capacete emprestado, após o seu ter sido detido pela polícia como prova na investigação ao ataque que revela uma sociedade doente. Diante dessa conjuntura de iminente colapso do sistema capitalista que indicam o início do fim das ilusões de um “mundo globalizado harmonicista” com suas crises e guerras, precisamos estar atentos aos processos de luta que abrem oportunidades de processos revolucionários que podem pôr fim a esse sistema que nos encaminha à barbárie. Por isso é tão imprescindível nesse momento trabalharmos para erguer auto-organização revolucionária internacional da classe trabalhadora em todo o mundo que possa se enfrentar com as raízes das contradições desse sistema que geram tantos conflitos, preconceito e ódio, e que também nos ameaça diante da emergência climática ao devastar a natureza em nome do poder imperialista e do lucro. É fundamental para nós construirmos organizações revolucionárias, que tenham total independência de classe, e que coloquem na ordem do dia o direito à autodeterminação nacional dos povos oprimidos, que lutemos em todo o mundo por uma Palestina operária e socialista, nos marcos de uma federação socialista do Oriente Médio, pelo fim da invasão russa e da OTAN na Ucrânia em favor da população que morre convocada para guerras que não lhes pertence, é preciso evocar as forças das ruas contra o capitalismo e suas extrema-direitas, levantar assembléias de base em todos os países contra a ofensiva neoliberal que corrói nossos direitos aumentando a exploração sobre nós. A classe trabalhadora com suas famílias e aliados no movimento de libertação de mulheres, negros, LGBTQIA+, e juventude são uma imensa força social que precisa se colocar mais ativamente em movimento. Não temos tempo a perder!




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