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Contra a burocracia | Viva a luta dos Professores do Ceará contra o governo e a burocracia sindical! Retomar os sindicatos para as mãos dos trabalhadores!

As imagens vindas do Ceará na última quinta feira (04/04) são impressionantes. Durante a assembleia centenas de professores se revoltaram contra o golpe da diretoria do sindicato, ligada majoritariamente pelo PT e PCdoB, que foi expulsa e teve que sair escoltada por seguranças bate paus. O evento demonstra, ainda que de forma embrionária, que os trabalhadores possuem condições para assumir o protagonismo contra o pacto reacionário do Governo de Frente Ampla de Lula-Alckmin sustentado pela burocracia sindical.

Felipe GuarnieriDiretor do Sindicato dos Metroviarios de SP

domingo 7 de abril | Edição do dia

Quem viu o vídeo da assembleia dos professores da rede estadual do Ceará se deparou com uma contagiante e nova cena política nacional. Mais de 3 mil professores lotaram o ginásio Aécio de Borba em Fortaleza para rechaçar o acordo rebaixado negociado entre a burocracia sindical do PT/ PCdoB e o governador Elmano de Freitas (PT). A diretoria do sindicato impediu a aprovação da greve, bate paus da burocracia agrediram trabalhadoras e a assembleia ganhou contornos de uma verdadeira rebelião. Os trabalhadores prevaleceram, responderam com uma tempestade de cadeiras e aos gritos de “Golpistas” expulsaram a diretoria da APEOC e só assim pode ser encaminhado um plano de luta que dará continuidade à mobilização: com a paralisação de várias escolas no proximo dia 08/04 e uma manifestação em frente a sede do governo no Palácio da Abolição às 08h da manhã.

A pauta dos professores do Ceará faz parte de uma mesma luta dos professores e trabalhadores da educação no Brasil. Reposição e equiparação salarial entre efetivos e temporários, pagamento retroativo do piso do magistério e de gratificações atrasadas, e uma batalha cotidiana contra as terríveis condições de trabalho e a estrutura das escolas no país. Foi nesse contexto, que recentemente milhares de professores e trabalhadores da educação dos estados de SP, MG, Santa Catarina, Pará realizaram greves para lutar por seus justos direitos.

Se num primeiro momento a burocracia sindical da CUT e CTB, que estão a frente da maior parte dos sindicatos ligados à educação, não fizeram nada para unificar as lutas, agora no Ceará esses mesmo setores dão uma aula de gangsterismo sindical para fazer prevalecer os interesses do governo petista. Se não bastasse a tentativa de golpe na assembleia, no dia seguinte a nota da Direção da APEOC conseguiu ser ainda mais canalha, acusou os trabalhadores de “criminosos”, que praticam o “banditismo”, ameaçam os trabalhadores com “processos jurídicos” e pasmem ainda dizem no final que: “fascistas não passarão”.

Enquanto insinuam que os trabalhadores são os fascistas, a extrema direita continua se fortalecendo com a politica de conciliação de Lula e do PT. Além disso, toda a direita e os capitalistas continuam tendo muito espaço para “passar” no governo, compor ministérios, aprovar o arcabouço fiscal, manter as reformas trabalhista e da previdência, e aprofundar a precarização do trabalho com o recente PL da Uberização.

O pacto reacionário do Governo de Frente Ampla para tentar manter a estabilidade do regime burguês vem apresentando contradições. Demonstram a ausência de condições estruturais do lulismo senil assentar sua hegemonia diante a crise orgânica. Mesmo com o fortalecimento dos poderes bonapartistas do STF, a impunidade a cúpula militar na investigação do assassinato a Mariele Franco e nas recentes declarações de Lula sobre esquecer o “Golpe de 1964” que garantiram uma segunda anistia aos militares, a última reunião ministerial evidenciou o aumento da reprovação do governo como um aspecto importante de crise.

Se não podemos descartar o fato que nessa crise a extrema direita fortalecida pela política de conciliação segue sendo um dos principais fatores de instabilidade do governo de frente ampla, o episódio dessa quinta- feira no Ceará é uma expressão, ainda que molecular, pela esquerda, que ressaltam as fissuras da sustentação da burocracia sindical da política do governo petista no movimento operário. Primeiro, pelo fato que existe uma importante crise de legitimidade dos sindicatos, fruto da ofensiva ideológica burguesa, principalmente desde o golpe institucional de 2016 para a aprovação das contras- reformas, mas por outro lado pelo papel traidor desempenhado pelas principais direções do aparato sindical CUT/CTB- Força Sindical- UGT. Essas direções vem rifando os direitos dos trabalhadores, para reaver o imposto sindical, manter seus privilégios e aumentar seus poderes no regime.

Esse cenário promove fenômenos complexos e contraditórios na realidade política. Como entre os trabalhadores de aplicativo, que rechaçam o PL da Uberização de Lula, mas ao mesmo tempo muito desses setores questionam a organização sindical, afinal sentem que a sua estrutura está vinculada aos interesses do governo e não representam a luta por plenos direitos.

Também por isso a luta dos professores do Ceará deve ser apoiada, já que aponta e fortalece um caminho alternativo ao atual pacto reacionário que vigora no país. A burocracia sindical não merece a confiança dos trabalhadores, como o PSol que integra o governo de frente ampla sistematicamente atua em prol disso no movimento sindical. Cobrem pela esquerda um papel nefasto da burocracia sindical, muitas vezes agitando “que a luta dos trabalhadores é que vai favorecer a direita” e o que resta é sempre apoiar os governos petistas. O exemplo disso é a própria corrente Resistência-PSol, uma das principais entusiastas em SP da aliança de Boulos com a golpista Marta Suplicy, distante da luta de classes, e que no Ceará compõe junto com o PT e PC do B a diretoria da APEOC. Será que depois do que aconteceu nessa assembleia, onde inclusive uma militante foi agredida pelos seguranças da burocracia, a Resistência-PSOL não vai romper com essa diretoria? E mais ainda, será que vão continuar defendendo no movimento sindical chapas com a burocracia da CUT e CTB como fazem na Apeoesp em SP?

Os sindicatos não podem ser organismos vinculados aos governos, e Trótski já alertava que sua estrutura vinculado ao estado capitalista era garantida pelo papel desempenhado pela burocracia sindical:

Os burocratas fazem todo o possível, em palavras e nos fatos, para demonstrar ao estado "democrático" até que ponto são indispensáveis e dignos de confiança em tempos de paz e, especialmente, em tempos de guerra. O fascismo, ao transformar os sindicatos em organismos do estado, não inventou nada de novo: simplesmente levou até às últimas consequências as tendências inerentes ao imperialismo. [1]

Os professores em luta do Ceará deram um grande exemplo e ajudam a recuperar o fôlego da classe trabalhadora para retomar nas suas mãos os sindicatos. É verdade que se trata de um primeiro passo, mas não menos importante do ponto de vista estratégico de construir um novo tipo de sindicalismo no país. Que batalhe pela frente única operária e a unidade das fileiras da classe trabalhadora e seja capaz de reorganizar o movimento operário numa perspectiva independente dos governos e patrões, baseado na auto organizaçãoe na democracia operária. Com assembleias verdadeiramente democráticas e comandos de greve eleitos na base, que possam organizar e decidir os rumos do movimento.

Viva a luta dos Professores do Ceará!


[1Trótski - Os sindicatos na época da decadência imperialista





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