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Arte Revolucionária e a Quarta Internacional

Leon Trótski

Arte Revolucionária e a Quarta Internacional

Leon Trótski

Publicamos abaixo a tradução para o português de uma carta de Trótski à conferência de fundação da Quarta Internacional, 1 de julho de 1938.

Caros Camaradas:

Lamento profundamente que circunstâncias desfavoráveis não me permitam participar em sua conferência. A vanguarda dos trabalhadores de todo o mundo aguarda suas respostas às questões mais candentes de sua luta por liberdade.

Estou, entretanto, suficientemente familiarizado com a discussão que está ocorrendo em diferentes países sobre os problemas fundamentais do movimento de trabalhadores, e com os documentos que foram enviados para sua avaliação, para ter a certeza de assegurar-lhes de minha completa solidariedade com o trabalho que foram chamados a cumprir.

Em todo o curso de sua história, o proletariado nunca foi tão completamente enganado e traído por suas organizações como o é hoje, vinte e cinco anos após o começo da Primeira Guerra Mundial e poucos anos, talvez apenas poucos meses, antes do início da Segunda Guerra Mundial.

A Internacional Social-Democrata, como demonstrado pela última e mais recente experiência governamental de Leon Blum na França, é um adjunto do aparato estatal burguês, que o invoca em seu auxílio nos períodos mais difíceis para o trabalho mais infame: em particular, para preparar uma nova guerra imperialista.

O papel da Terceira Internacional é – se algo assim é possível – ainda mais criminoso e nocivo, pois oculta os serviços que presta ao imperialismo com a autoridade roubada da Revolução de Outubro e do Bolchevismo.

No solo da Espanha, o Stalinismo mostrou com particular clareza que assumiu o posto de polícia internacional contra a revolução proletária, o mesmo papel que o czarismo cumpriu contra a revolução burguesa.

O anarquismo oficial, pela sua política vergonhosa na Espanha, convenceu as massas de trabalhadores do mundo inteiro que não podem confiar nele. Como a burocracia das duas Internacionais pseudo-marxistas, a burocracia anarquista teve sucesso em tornar-se uma com a sociedade burguesa.

Para prevenir o naufrágio e degradação da humanidade, o proletariado necessita de uma perspicaz, honesta e corajosa liderança revolucionária. Ninguém pode prover esta liderança exceto a Quarta Internacional, baseando-se na experiência completa das derrotas e vitórias passadas.

Permitam-me, no entanto, lançar um olhar na missão histórica da Quarta Internacional, não apenas com os olhos de um revolucionário proletário mas com os olhos do artista que sou por profissão. Nunca separei essas duas esferas da minha atividade. Minha pena jamais serviu como um brinquedo para minha diversão pessoal ou das classes dominantes. Sempre me forcei a descrever os sofrimentos, esperanças e lutas da classe trabalhadora pois é como eu encaro a vida, e portanto a arte, que é uma parte inseparável dela. A atual crise capitalista não-resolvida carrega consigo uma crise de toda a cultura humana, incluindo a da arte.

De certo modo a situação mundial impele artistas talentosos e sensíveis à estrada da criatividade revolucionária. Mas essa estrada, infelizmente, está obstruída com os cadáveres podres do reformismo e do Stalinismo.

Se a vanguarda do proletariado mundial encontrar sua liderança, a arte de vanguarda encontrará novas perspectivas e uma nova esperança. Enquanto isso, a dita Internacional Comunista, que nada traz ao proletariado além de derrotas e humilhações, continua dirigindo a vida intelectual e a atividade artística da ala esquerda da intelligentsia internacional.

Os resultados dessa hegemonia atingem particularmente a URSS, isto é, o país onde a atividade criativa revolucionária deveria ter alcançado seu maior desenvolvimento. A ditadura da burocracia reacionária sufocou ou prostituiu a atividade intelectual de uma geração inteira. É impossível olhar sem repugnância física para as reproduções das pinturas e esculturas soviéticas, onde funcionários armados com pincéis, sob fiscalização de funcionários armados com armas, glorificam como “grandiosos” e “gênios” seus chefes, que na realidade não tem o menor lampejo de genialidade ou grandeza. A arte da época Stalinista entrará para a história como a expressão mais espetacular do declínio mais abismal que a revolução proletária já viveu.

Apenas um novo ascenso do movimento revolucionário pode enriquecer a arte com novas perspectivas e possibilidades. A Quarta Internacional obviamente não pode tomar o papel de dirigir a arte, isto é, dar ordens ou prescrever métodos. Tal atitude frente à arte poderia apenas entrar nos crânios dos burocratas de Moscou embriagados de onipotência. Arte e ciência não encontram sua natureza fundamental através de mecenas; a arte, por sua própria existência, os rejeita. A atividade criativa revolucionária tem suas leis internas próprias mesmo quando conscientemente serve ao desenvolvimento social. Arte revolucionária é incompatível com falsidade, hipocrisia e o espírito de acomodação. Poetas, artistas, escultores, músicos encontrarão seus caminhos e métodos por si mesmos, se o movimento revolucionário das massas dissipar as nuvens do ceticismo e pessimismo que escurecem o horizonte da humanidade hoje. A nova geração de criadores devem ser convencidos que a face das antigas Internacionais representa o passado da humanidade, não seu futuro.

Fonte: Writtings of Leon Trotsky (1937-1938), Pathfinder Press (NY), 1976. Tradução de Felipe Colares


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