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Há 83 anos do assassinato de Trotski, três textos e uma pergunta: por que Trotski?

Luno P.

Laura Sandoval

Araçá

Há 83 anos do assassinato de Trotski, três textos e uma pergunta: por que Trotski?

Luno P.

Laura Sandoval

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Acerca dos 83 anos do assassinato de um dos principais dirigentes da Revolução Russa, em matéria dos debates sobre arte, cultura e moral, queremos questionar e responder: o porquê Trótski?

Se chama Trótski. O Leão da Revolução Russa de 1917, organizador do exercito vermelho e a verdadeira face do diabo para a burguesia e sua quinta roda no movimento comunista, o stalinismo.

Ele quem muito escreveu sobre problemas teóricos e políticos, sobre a vida e sobre o progresso, estava embebido da certeza e fé consciente do futuro da humanidade.

Ele era um poeta, um escritor de língua e canetas afiadas, que no curso da revolução se prostou a pensar o papel da arte, da literatura, da transformação da moral, como parte central das tarefas revolucionárias. E não poderia ser diferente, já que na “meia-noite do século” - nos termos de Victor Serge - a arte estava submetida a ponta dos fuzis, da perseguição e censura de Stalin e da barbárie do fascismo hitlerista.

Trótski foi assassinado, com uma picareta empunhada nas mãos de Ramón Mercader aos mandos de Stálin. Mas Tróstki vive. Vive na sede por um mundo que valha a pena ser vivido. Em cada batalha estratégica pela revolução. Vive na centralidade do anseio pela liberdade da arte.

Mas de que Tróstki falamos? Falamos daquele que era o pior pesadelo dos burocratas e capitalistas, o “ogro da subversão internacional", nas palavras de Winston Churchill, mas também daquele que dedicou anos de reflexão sobre a relação da arte, da cultura, da moral e da revolução, plasmados em livros como o "Literatura e Revolução" e "Problemas da vida cotidiana", ambos de 1923.

Falamos do Trótski das vitais lutas políticas com aqueles que queriam criar uma arte "revolucionária" em laboratório, artificial, e por isso versava sobre a relação da arte e do partido, das vanguardas e do próprio fazer artístico, num ímpeto de defesa intransigente da arte contra as posturas avessas à produção artística que, naquele momento, já serviam como sinais do complexo processo de burocratização, onde o único papel da arte se resumia à propaganda, o que também serviu para assentar as bases da política oficial para a arte da URSS stalinizada, o realismo socialista.

Falamos do Trótski que tinha gosto pelas experimentações formais e conceituais, mas não sem críticas. Do Trótski que o futuro comunista permitiria que arte e a vida se fundissem de tal forma que "a vida enriquecerá em proporções tais que se modelará, inteiramente, na arte”, e por isso, via um único caminho possível: a revolução e a luta inconciliável pela independência e liberdade da arte.

E sem nenhum medo, Tróstki dizia: a revolução comunista não teme a arte! Dizia isso ao lado de surrealistas como Breton e Rivera, exilado no México, onde formularam o Manifesto por uma Arte Revolucionária Independente, que lançava ao mundo a máxima "pela independência da arte - para a revolução; a revolução - para a liberação definitiva da arte". Buscavam organizar o conjunto dos artistas, comunistas e intelectuais que defendiam a arte revolucionária independente contra as perseguições reacionárias e proclamavam bem alto seu direito à existência, numa plataforma chamada Federação Internacional de Arte Revolucionária e Independente (FIARI), que nunca chegou a se desenvolver, principalmente devido ao assassinato de Trostki.

E porque queremos falar deste Trótski? Porque, quando abrimos os nossos olhos, vemos hoje uma juventude imersa na precarização do trabalho, tendo que segurar os lucros capitalistas sob as miras e balas da polícia. Uma juventude que viveu, após 4 anos de um governo de extrema direita, hoje tem que ouvir que o máximo que pode ser efeito é atenuar em alguns graus a opressão capitalista, enquanto os governos da frente ampla mantém e avançam em ataques contra os nossos direitos.

Queremos esse Trótski porque ansiamos pela arte. Porque queremos ela livre para que se funda com a vida. Porque não aceitamos a miséria do possível que nos impõem. E para isso, queremos retomar a subversividade daqueles que no campo da arte, da política, do programa e da estratégia, se recusam à conciliar, e não dão um passo atrás, amparados por século de lutas dos oprimidos e explorados contra a sua opressão e exploração.

E no sentido dessa batalha central, esta edição especial do Carcará trás 3 documentos - entre cartas e artigos - que costuram a abordagem e visão que Trótski tinha sobre a arte, a cultura e moral. São eles:

A transformação da moral

Uma tradução para o português do artigo conhecido como “The Transformation of Morals”, escrito em outubro de 1923, e publicado pela primeira vez em inglês em Inprecorr, Vol. 3, No. 67. Nele, Trótski discute de que é apenas com a tomada do poder pela classe trabalhadora que se cria as premissas para uma transformação completa da moral, sendo esta uma tarefa consciente e deliberada.

Arte Revolucionária e a Quarta Internacional

Outra tradução para o português de uma carta de Trótski à conferência de fundação da Quarta Internacional, 1 de julho de 1938, onde o autor discute que apenas um novo ascenso do movimento revolucionário pode enriquecer a arte com novas perspectivas e possibilidades e que a Quarta Internacional não pode tomar o papel de dirigir a arte, isto é, dar ordens ou prescrever métodos.

"Pela liberdade da arte" - Carta a Breton

E uma última tradução para o português de uma carta de Trótski a André Breton escrita em 22 de dezembro de 1938 e publicada no Bulletin of the Opposition, número 74 (fevereiro de 1939) e na Partisan Review, inverno de 1939, onde Trotski discute sobre a FIARI e a luta pela liberdade da arte.


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Luno P.

Professor de Teatro e estudante de História da UFRGS

Laura Sandoval

Estudante da Letras - USP

Araçá

Estudante de Letras da UFRN e militante da Faísca Revolucionária
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