Um trabalhador que trabalhou demais precisa pensar. Mas como pensar? Primeiro é preciso se perguntar por que o olho está roxo e por que o estômago está roncando. Entender que o seu corpo é concreto, um corpo surrado e faminto, é um ponto de partida importante para este trabalhador concluir que não é o pensamento que determina o ser e sim o ser social que determina o pensamento. Os trabalhadores que sabem que fazem parte de uma classe, lutam e precisam aprender a conhecer cada vez mais. O trabalhador que não sabe e que portanto não luta, precisa aprender a conhecer, precisa aprender a lutar. Este mesmo trabalhador que não sabe e não luta, compreende que veio do útero da sua mãe e que é brasileiro. Mas o seu passado está muito além do útero da mãe: o que ele sabe sobre a história do Brasil?
Alguns “ fatos “ da história do Brasil são lembrados pelo trabalhador que ainda não conhece a história do Brasil:
ERA UMA VEZ...
Pausa:
Como o trabalhador que ainda não sabe pode avaliar os acontecimentos narrados acima? Primeiramente ele precisa de ferramentas, de materiais adequados.
MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA O TRABALHADOR PENSAR A HISTÓRIA DO BRASIL:
1- Lente de aumento
2- Banana de dinamite
3- Despertador
Com estes materiais o trabalhador está equipado para um exame crítico. Vejamos: a lente de aumento possibilita ir além das falsas aparências. A partir de agora o trabalhador faz uso da lente de aumento para estudar história. O proletário descobre que muito antes da Princesa Isabel e dos interesses do Capital inglês oitocentista, existiu uma gigantesca luta de séculos contra a escravidão protagonizada pelos próprios cativos: uma luta que vai do Quilombo de Palmares e chega no movimento abolicionista. O proletário entende que a nossa formação histórica na América portuguesa envolveu a destruição de povos indígenas e a utilização de escravos de origem africana nas fazendas de engenho. O proletário observa que os Bandeirantes não tinham nada de heroicos, que eram caçadores de índios e de escravos fugitivos. O proletário descobre que os povos indígenas lutaram, resistiram contra a colonização. O proletário percebe que na prática a Independência do Brasil gerou um Estado opressor voltado exclusivamente para os interesses econômicos das classes proprietárias. O proletário conclui que este Estado assumiu ao longo da história formas autoritárias, como ilustra por exemplo o Golpe de 1964: foram 21 anos de perseguições, prisões, torturas, assassinatos, exílio e censura.
Após utilizar a lente de aumento o trabalhador faz uso da banana de dinamite para explodir as falsas imagens da história do Brasil: vão pelos ares as distorções e os ocultamentos presentes na construção das narrativas dominantes. Agora o proletário tem em mãos um despertador colocado entre ele e o nosso passado: revendo a nossa história a partir das lutas dos oprimidos o despertador toca, repica, faz um alerta para que o trabalhador compreenda a luta de classes. Ele passa a ouvir inclusive a história do movimento operário brasileiro. Agora este proletário que não sabia, sabe porque apanha e passa fome.
Imagem: "Juramento da Princesa Isabel Como Regente do Estado e Como Herdeira do Trono Brasileiro ", de Victor Meirelles
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