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[XIII conferência da FT-QI] - A luta por recriar o internacionalismo revolucionário

[XIII conferência da FT-QI] - A luta por recriar o internacionalismo revolucionário

Durante três dias de debates e trocas, nos dias 9, 10 e 17 de março, realizou-se a XIII Conferência da Fração Trotskista pela Quarta Internacional (FT-QI), com delegações de todos os grupos que integram nossa corrente internacional. Dezenas de delegados e delegadas participaram da conferência, em um debate entusiasmado sobre os desafios que os revolucionários enfrentam em um cenário mundial com características convulsivas, tendências à polarização e aumento do militarismo. Em um momento em que também emergem setores de vanguarda que se mobilizam contra o genocídio na Palestina em vários países e também contra os planos de saque mais brutais do imperialismo e da burguesia, como na Argentina.

Na conferência anterior da FT-QI, em maio de 2023, houve um debate importante sobre a luta de classes na França, onde a Révolution Permanente (RP) desempenhou um papel destacado no processo de luta contra Macron e na união da vanguarda. A luta contra a reforma da previdência, embora derrotada, faz parte de um processo mais amplo que vem desde o movimento contra a reforma trabalhista em 2016, passando pela rebelião dos Coletes Amarelos em 2018 e por todas as lutas que se desenvolveram nos últimos anos. Nesse contexto, é que a RP busca ser parte do processo de constituição de um partido revolucionário na França. No último 6 de março, realizou um importante evento sob o lema "Recolocar a revolução na agenda". Mais de 1200 pessoas participaram e assistiram ao evento. Entre outros, o trabalhador ferroviário e dirigente da RP, Anasse Kazib, o economista e filósofo Frédéric Lordon, o advogado de direitos humanos franco-palestino Salah Hamouri, a militante da luta imigrante Mariama Sidibé, o líder sindical perseguido Christian Porta, a dirigente da RP Daniela Cobet e a militante do Du Pain et Des Roses (Pão e Rosas), Sasha Yaropolskaya, fizeram uso da palavra.

Ato do Révolution Permanente em 6 de março com mais de 1200 pessoas

Este ano, como desenvolveremos mais adiante, estiveram no centro das deliberações, por um lado, a intervenção da FT-QI de conjunto no movimento internacional em apoio ao povo palestino e contra o genocídio que atualmente está se desenvolvendo, e em particular nos Estados Unidos e na Europa, onde isso se expressa com especial força. Por outro lado, a Conferência dedicou um dia especialmente à discussão sobre a intervenção do PTS contra o plano de guerra desencadeado pelo governo de Milei contra as maiorias trabalhadoras, entendendo que se trata de um laboratório da luta de classes, bem como da ofensiva do imperialismo na região.

Bloco do Pan y Rosas no México no 8M com mais de 1000 pessoas

Foram debates dentro do contexto de uma intensa atividade que as diferentes organizações da FT-QI vêm desenvolvendo. No México, o Movimento dos Trabalhadores Socialistas (MTS) realizou uma importante mobilização no dia 8 de março, onde mais de mil companheiras marcharam com o Pão e Rosas. Na Espanha, a Corrente Revolucionária de Trabalhadoras e Trabalhadores (CRT) acaba de inaugurar seu novo centro cultural no bairro de Vallecas, em Madri, que atraiu uma grande quantidade de jovens. Na Alemanha, a Organização Internacionalista Revolucionária (RIO) em breve realizará seu acampamento de verão perto de Göttingen com cerca de 200 companheiras e companheiros. Em setembro do ano passado, a FT-QI Europa como um todo realizou seus acampamentos com mais de mil jovens e trabalhadores. No Brasil, o Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT) está promovendo um importante evento para o início de abril com intelectuais e ativistas, como Ricardo Antunes, Jorge Souto Maior, Paulo Galo, entre outros, contra o projeto de lei de Lula que legaliza a precarização do trabalho. Estas, entre outras atividades e iniciativas, estão sendo conduzidas pelas organizações da FT-QI em cada país ao mesmo tempo em que participam ativamente do movimento internacional pela Palestina, buscando convergir com a nova vanguarda que está surgindo e desenvolver a mobilização e auto-organização, denunciando o papel cúmplice dos Estados imperialistas ao mesmo tempo em que defendem um programa por uma Palestina operária e socialista.

Imagens da inauguração da Casa Marx da CRT em Madrid

Por sua vez, a FT-QI continua desenvolvendo a Rede Internacional de diários digitais da FT-QI, que atualmente conta com 15 jornais e abrange 7 idiomas (espanhol, inglês, francês, português, alemão, catalão e italiano). Assim como uma série de debates e elaborações teóricas, que constituem o ponto de partida do intercâmbio internacionalista diário que foi a base das discussões na XIII Conferência. Esses podem ser lidos todas as semanas nas diferentes publicações teóricas: Ideias de Esquerda e Armas da Crítica da Argentina, Left Voice Magazine dos EUA, Contraponto do Estado Espanhol, Ideias de Esquerda do Brasil, RP Dimanche da França, Ideias Socialistas do Chile, Ideias de Esquerda do México, Ideias de Esquerda da Venezuela, Klasse Gegen Klasse Magazin da Alemanha e Egemonia da Itália. Também com o Centro de Pesquisas e Publicações "León Trotsky" (da Argentina e do México), com o Campus Virtual, bem como com Edições Iskra do Brasil, Edições IPS da Argentina, ou éditions Communard.e.s da França, entre outras iniciativas.

Diários da Rede Internacional impulsionados pela FT-QI

Participaram delegações do Partido de Trabajadores por el Socialismo (PTS) da Argentina, do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) do Brasil, do Partido de Trabajadores Revolucionarios (PTR) do Chile, do Movimiento de los Trabajadores Socialistas (MTS) do México, da Liga Obrera Revolucionaria (LOR-CI) da Bolivia, da Corriente Revolucionaria de Trabajadoras y Trabajadores (CRT) do Estado espanhol, da Révolution Permanente (RP) (RP) da França, do Revolutionäre Internationalistische Organisation (RIO) da Alemanha, do Left Voice dos Estados Unidos, da Liga de Trabajadores por el Socialismo (LTS) da Venezuela, da Corriente de Trabajadores Socialistas (CTS) do Uruguay, da Corriente Socialista de las y los Trabajadores (CST) do Peru, da Organización Socialista Revolucionaria (OSR) da Costa Rica e da Frazione Internazionalista Rivoluzionaria (FIR) da Italia. Além dos delegados, outros membros das direções das organizações da FT-CI participaram da conferência como observadores. As sessões contaram com tradução simultânea para espanhol, alemão, francês, italiano e inglês.

No sábado, 10 de março, debatemos sobre as tendências da situação internacional e as tarefas dos internacionalistas. A sessão de domingo, 11, concentrou-se na situação que a Argentina atravessa, com uma crise significativa exacerbada desde a posse de Javier Milei, bem como discutindo os desafios do PTS para enfrentá-la. Na terceira sessão, houve um rico intercâmbio sobre as lutas ideológicas que temos delineado nos diferentes grupos, tanto a nível nacional quanto internacional, como parte da luta pela recomposição do projeto socialista no século XXI.

Contra o genocídio na Palestina, o militarismo e o saque imperialista

A sessão sobre a situação internacional baseou-se nos artigos apresentados por Claudia Cinatti ("O interregno convulsivo da situação internacional") e por Juan Chingo ("O crescente caos da situação mundial") como parte dos materiais preparatórios da conferência. Com a contribuição de numerosos delegados e delegadas, discutiu-se o aumento do militarismo imperialista, dois anos após a guerra na Ucrânia, enquanto continua o brutal genocídio sionista contra o povo palestino. Analisou-se o crescimento das chamadas novas direitas em escala global, o surgimento de nacionalismos e políticas racistas nas fronteiras, bem como o reforço dos mecanismos de saque imperialista em relação aos países semicoloniais e dependentes. Considerou-se a importância do movimento internacional em apoio ao povo palestino e contra o genocídio, especialmente em países como os EUA, Reino Unido, países da União Europeia e Oriente Médio - um movimento de vanguarda que se expressou em mobilizações massivas, ações nos locais de trabalho e estudo e até mesmo algumas ações de "bloqueio" por parte de sindicatos combativos contra a venda de armas para Israel. Em diferentes países, todos os grupos da FT têm participado ativamente, buscando desenvolver a mobilização e a auto-organização, denunciando o papel cúmplice dos Estados imperialistas, ao mesmo tempo em que defendem um programa por uma Palestina operária e socialista.

Bloco do Left Voice em ato em solidariedade a Palestina em Nova York

Durante a sessão, reafirmou-se a definição que já havíamos adotado na conferência anterior: as tendências profundas da época imperialista de guerras, crises e revoluções, como Lenin as chamou na época, estão começando a ter cada vez mais relevância. Em seguida, decidiu-se impulsionar de forma unificada três campanhas políticas que consideramos fundamentais para a luta internacionalista e anti-imperialista na atualidade.

Em primeiro lugar, intensificar a campanha contra o genocídio na Palestina, contra a cumplicidade imperialista com o Estado de Israel e por desenvolver um forte movimento internacionalista da classe trabalhadora, das mulheres e da juventude.

VÍDEO: Révolution Permanente na Praça da República em uma das mobilizações em solidariedade a Palestina:

Em segundo lugar, promover uma grande campanha contra o militarismo e a militarização das fronteiras. Isto é de extrema urgência diante dos discursos belicistas desenfreados que têm sido ouvidos ultimamente por parte de chefes de Estado e ministros imperialistas. Também é crucial enfrentar as políticas e discursos xenófobos que, desde Trump até Biden, às extrema-direitas europeias, mas também os governos "progressistas", estão empregando numa ofensiva repressiva contra pessoas migrantes. Da mesma forma, foi proposta a denúncia da militarização e criminalização do protesto e da pobreza em países da América Latina, onde diversos governos usam a retórica de combate "ao narcotráfico" ou "ao terrorismo" para implementar políticas repressivas e de segurança.

Bloco do Pan y Rosas do Estado Espanhol contra a Guerra na Ucrânia: nem Putin nem a OTAN.

Em terceiro lugar, decidiu-se impulsionar uma grande campanha pela anulação de todas as dívidas dos países semicoloniais e contra o saque imperialista. Isso é fundamental para unificar as lutas da classe trabalhadora, migrantes, mulheres e juventude dos países do centro imperialista com aqueles da periferia capitalista, em uma luta internacionalista comum.

Para expressar essas campanhas, foi aprovada a publicação do Manifesto: Três propostas urgentes para lutar por um internacionalismo socialista: contra o genocídio na Palestina, o militarismo e o saque imperialista. O objetivo é convidar todas as organizações, militantes e indivíduos que compartilhem dessa perspectiva para lutar em conjunto por blocos e coalizões em diferentes países, que possam expressar um ponto de vista de independência de classe e socialista diante dos desafios mais prementes do momento.

Argentina: contra a ofensiva de Milei e o FMI, um laboratório de resistência

A segunda sessão da conferência internacional foi dedicada à situação na Argentina. O plano de guerra lançado por Javier Milei contra o povo trabalhador é um avanço da ofensiva do imperialismo na região, às custas da fome e da miséria do povo.

O debate foi aberto com um informe de Emilio Albamonte, que publicamos aqui para leitura. Neste relatório, ele abordou a situação do país, do governo e das classes, bem como as contradições que se apresentam à burguesia para o avanço do plano Milei e o significado desse ataque para o proletariado e os setores populares. Também abordou a situação da classe trabalhadora e das classes médias, quais fenômenos estão se desenvolvendo e, nesse contexto, as tarefas do PTS diante dessa situação.

Bloco do PTS, junto às assembleias de bairro em mobilização contra a Lei Ómnibus de Milei

A partir do informe, uma ampla discussão se desenvolveu com a intervenção dos delegados dos diferentes países. Debateu-se sobre a relação do PTS com os novos setores de vanguarda, especialmente com as assembleias de bairro como instâncias de auto-organização, assim como a estratégia de promovê-las e desenvolver a articulação com outros setores, buscando uma dinâmica onde essas instâncias se desenvolvam como comitês de ação e com a perspectiva de estabelecer organismos de frente única de massas, o que na tradição das revoluções é chamado de "conselhos" ou em russo "soviets", como uma questão fundamental do ponto de vista revolucionário.

Além disso, discutiu-se sobre as possibilidades abertas pelos novos fenômenos do ponto de vista da luta por um partido revolucionário na Argentina, luta política e programática com o peronismo para o desenvolvimento de uma perspectiva independente na vanguarda e, dentro disso, a proposta dos 10 pontos para unir o povo trabalhador, a juventude e as mulheres contra Milei e o poder econômico predatório apresentada pelo PTS. Também foi discutida a importância da luta contra Milei na Argentina do ponto de vista da relação de forças na região e como laboratório da luta de classes.

A luta ideológica como parte da luta pela reconstrução do projeto socialista

A terceira sessão da conferência discutiu as batalhas ideológicas e a disputa pelos "sentidos comuns" para a reconstrução do projeto socialista. A discussão baseou-se nas contribuições de Matías Maiello, Notas sobre a luta de ideologias para além da Restauração burguesa, e de Juan Dal Maso, A imagem no espelho, que foram publicadas no Ideias de Esquerda, assim como muitas contribuições escritas de camaradas de diferentes países que foram trocadas durante o último mês, incluindo Notas sobre a luta ideológica e a atualidade da teoria da revolução permanente de Josefina L. Martínez, Automatismo Sociedade Anônima de Ariane Díaz e Disputa ideológica e nova direita: sobre os referenciais intelectuais de Javier Milei de Farid Reyes, que publicamos na edição de hoje do Ideas de Izquierda argentino e outros que iremos publicar em próximas edições.

As contribuições foram abordadas em três níveis. Um primeiro nível, de "luta teórica", mais diretamente ligado à luta para construir um partido revolucionário e influenciar a vanguarda. Um segundo nível, mais de massas, ligado a como influenciar com nossas ideias os sentidos comuns. E um terceiro nível, referente aos instrumentos e/ou táticas que empregamos para a luta ideológica em cada um dos níveis anteriores. Por sua vez, como parte do intercâmbio, foi abordada a relação com setores da intelectualidade de diferentes países das organizações da FT-QI.

Alguns livros da éditions Communard.e.s, editora do Révolution Permanente

As contribuições que ocorreram foram abordadas em três níveis. Em um primeiro nível, de "luta teórica", mais intimamente ligado à luta para construir um partido revolucionário e influenciar a vanguarda; em um segundo nível, mais voltado para as massas, ligado a como influenciar nossas ideias no senso comum; e em um terceiro nível, referente aos instrumentos e/ou táticas que adotamos para a luta ideológica em cada um dos níveis anteriores. Por sua vez, como parte do intercâmbio, foi discutida a relação com setores da intelectualidade de diferentes países das organizações da FT-QI.

A luta teórica foi abordada do ponto de vista de fornecer respostas, a partir de uma perspectiva socialista, às grandes crises que atravessam o capitalismo contemporâneo: a crise da democracia burguesa, a crise do neoliberalismo/capitalismo contemporâneo, a crise da globalização e a crise ecológica. Nesse sentido e respectivamente, opor o desenvolvimento da democracia soviética ou conselhista como forma superior de democracia de classe; a ideia de planejamento democrático da economia como alternativa; a luta por uma perspectiva internacionalista e anti-imperialista; e a perspectiva socialista para conquistar uma relação harmônica com a natureza.

Alguns livros de Ediciones IPS.

Por outro lado, foi abordado o nível mais amplo da luta pelo senso comum. A crise do "neoliberalismo progressista" e da "globalização" levanta uma série de discussões em relação aos dois pólos das ideologias soberanistas/identitárias por um lado, e o chamado "neoliberalismo popular" por outro, que em vários aspectos são contraditórias entre si, embora em um contexto de generalização da ideologia do consumo como forma de realização do indivíduo isolado. A conferência discutiu como lidar com esses debates, levando em conta que nossa tarefa de recriar o imaginário socialista hoje tem mais um caráter preparatório, e cujo desdobramento estará diretamente ligado aos fenômenos políticos e à luta de classes. Nesse sentido, foi destacada a atualidade da teoria-programa da revolução permanente, que inclui a questão da estratégia soviética, como uma grande ferramenta para a luta ideológica e política.

Alguns livros das Edições Iskra.

Um conjunto de debates com perspectiva na luta por um partido mundial da revolução socialista.

A conferência internacional permitiu aprofundar o intercâmbio internacionalista entre os diferentes grupos da FT-QI, em um momento de grandes crises e mudanças abruptas em nível mundial. No mundo, os tambores de guerra ressoam e as potências imperialistas se preparam para maiores confrontos e guerras reacionárias, enquanto intensificam seus ataques contra a classe trabalhadora e os povos oprimidos. Os grandes capitalistas acumulam riquezas inimagináveis, enquanto milhões de seres humanos morrem de fome, guerras e doenças curáveis. Hoje, é mais importante do que nunca lutar para construir partidos revolucionários e um partido mundial da revolução socialista, que para nós é a IV Internacional. Lutar para que as novas invenções e progressos técnicos não sejam utilizados para fins destrutivos e mortais, como fazem os capitalistas, mas sim para libertar a humanidade do fardo do trabalho, da miséria e da exploração.

A seguir, disponibilizamos algumas das contribuições que serviram de base para esses debates durante os três dias da XIII Conferência da FT-QI:

* O convulsivo interregno da situação internacional, por Claudia Cinatti
* O crescente caos da situação mundial, por Juan Chingo
* La lucha recién comienza. La crisis Argentina y las tareas de los revolucionarios, por Emilio Albamonte
*Apontamentos sobre a luta de ideologias para além da Restauração Burguesa, por Matías Maiello
* A imagem no espelho, por Juan Dal Maso
*Apuntes sobre la lucha ideológica y la actualidad de la teoría de la revolución permanente, por Josefina L. Martínez
*Automatismo Sociedad Anónima, por Ariane Díaz
*Disputa ideológica y nueva derecha: sobre los referentes intelectuales de Javier Milei, por Farid Reyes


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