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Meio Ambiente | Recorde da temperatura global: uma prévia da catástrofe prometida pelos patrões e seus Estados

Nos últimos dias, a temperatura média global atingiu um pico repentino. Suas consequências são uma prévia de um aquecimento de +1,5°C que será amplamente superado se as tendências atuais continuarem. Situação que volta a destacar a urgência de tomarmos as rédeas das colossais forças movidas diariamente segundo a anarquia capitalista e recusarmos o futuro de catástrofes que os Estados e os patrões nos reservam.

segunda-feira 12 de junho de 2023 | Edição do dia
Foto: Jonathan Lidbeck

Nos últimos dias, a temperatura média mundial registrou um pico tão repentino quanto elevado. Na sexta-feira, atingiu a máxima histórica para o mês de junho de 16,77°C, ou 0,9°C acima das médias dos anos 1979 a 2000.

Uma situação que vê coincidirem anomalias recordes na temperatura do mar no Atlântico Norte, enquanto os níveis de gelo marinho estão os mais baixos na Antártica. Embora essas anomalias históricas estejam obviamente ligadas às mudanças climáticas, sua intensidade e natureza extremamente repentina surpreenderam muitos cientistas que trabalham com o assunto.

Debates estão em andamento para tentar rastrear a origem dessa situação extremamente preocupante. Um “ponto de inflexão” foi atingido? A situação se deve ao retorno observado no início de junho do fenômeno climático El Niño, que leva ao aumento da temperatura? As reduções nas emissões de dióxido de enxofre - um gás nocivo proveniente da combustão de combustíveis de barcos e da indústria, que leva a uma redução das temperaturas - estariam envolvidas?

A análise é dificultada pelo vínculo indiscutível, mas complexo, que une as condições meteorológicas em um momento preciso e a evolução global do clima sob a influência das emissões de gases de efeito estufa. Da mesma forma, a grande complexidade do sistema climático faz com que a situação seja, sem dúvida, o resultado de uma multiplicidade de fatores interligados, ligados ao aquecimento global em curso.

Populações expostas ao calor recorde

A única certeza para o momento é que haverão consequências dramáticas para os habitantes e a biodiversidade em escala planetária. Um mapa de anomalias de temperatura ajuda a entender a extensão da situação: no dia 11 de junho, desvios recorrentes de +6 a +8°C ou até +10°C em comparação com a média dos anos 1979-2000 foram observados ​​em muitas regiões.

Mapa de anomalias de temperatura em 11 de junho em comparação com a média do período 1979-2000. Reanalisador climático.

Na China, que enfrenta ondas de calor há várias semanas, um novo marco foi alcançado com a temperatura oficial de 48,5°C registrada no domingo em Xinjiang. Um recorde para a China em junho. Enquanto isso, a Índia é igualmente atingida por várias ondas de calor mortais: o leste do país registrou temperaturas entre 42 e 45°C no sábado. Combinadas com umidades relativamente altas, elas criaram condições de tempo úmido potencialmente letais. O corpo confrontado com o calor intenso não consegue mais se resfriar adequadamente através da transpiração se o ar ambiente estiver muito carregado de umidade.

O vizinho Bangladesh enfrenta calor semelhante, ao qual se acrescentam sucessivos cortes de energia. Também no Vietnã, a produção de eletricidade reduzida pela seca e abalada pela forte demanda devido à necessidade de resfriamento não resistiu ao choque, deixando a população enfrentando múltiplos cortes e calor intenso.

Fora da Ásia, México, Caribe e Porto Rico também enfrentam calor extremo. Enquanto isso, os normais para a estação também são superados na Europa, África e na América do Sul, enquanto os incêndios no Canadá continuam.

Essa situação deixa milhões de pessoas expostas ao calor intenso, potencialmente letal. Os casos do Vietnã e de Bangladesh também ilustram o papel decisivo das condições de vida das pessoas em sua capacidade de enfrentar tais episódios de calor. A qualidade das habitações, a disposição das cidades e dos espaços verdes, a possibilidade de pagamento de meios de refrigeração na ausência de gestão coletiva destes, a solidez das infraestruturas energéticas ou a possibilidade de interromper uma atividade profissional ao ar livre ou fisicamente extenuante são de fato os elementos determinantes para enfrentar o calor. Tantos elementos de que são privados os trabalhadores mais precários e as populações dos países dominados, tornados sacrificáveis pelas patronais e seus governos diante da crise climática.

Um breve vislumbre de um mundo a +1,5°C

Em 8 de junho, o pico de temperatura foi tal que, durante um dia, a temperatura média global atingiu +1,51°C em comparação com a era pré-industrial. As altas temperaturas atuais e suas consequências devastadoras oferecem, portanto, um breve vislumbre de um mundo inteiro a +1,5°C. Justamente o que seria o objetivo hipócrita de limitar o aquecimento global até 2100, estabelecido pelos vários Estados durante os acordos de Paris em 2015.

Essa “meta” de 1,5°C já seria um desdobramento devastador para a vida de milhões de pessoas, como ilustra a situação atual. Mas obviamente, nas mãos dos Estados e dos patrões, será largamente ultrapassada. Assim, em maio, a Organização Meteorológica Mundial alertou que havia 66% de probabilidade de que o aumento das temperaturas globais ultrapassasse pelo menos temporariamente 1,5°C… antes de 2027!

Em 2021, um relatório das Nações Unidas estimou que as políticas estatais levariam a um aquecimento de 2,7°C, se implementadas. Uma trajetória que levaria 2 bilhões de pessoas a serem expostas a temperaturas insuportáveis ​​até 2030 e 3,7 bilhões em 2090. Embora as emissões devam ser reduzidas pela metade até 2030, um estudo publicado na Earth System Science Data em 8 de junho concluiu que elas nunca estiveram tão altas e que o aquecimento global está se intensificando em ritmo frenético, a mais de 0,2°C por década.

Resumindo: a burguesia continua poluindo massivamente para acumular lucros cada vez maiores, com a ajuda dos Estados. Diante desse futuro infernal que eles nos prometem, do qual o atual pico de temperatura é apenas uma pequena amostra, é vital puxar o freio de mão da revolução operária e socialista internacional. Uma perspectiva concebível apenas sob a condição de acabar com um sistema capitalista fundamentalmente ecocida, independentemente de quem tenta fazê-lo durar, desde os Estados até as empresas que eles apoiam. Somente a aliança dos trabalhadores e de todos os oprimidos pode possibilitar a construção de uma alternativa, mobilizando aqueles trabalhadores e trabalhadoras que ocupam posições centrais na produção para acabar com um sistema que ataca suas condições de vida e seu meio ambiente, em todo o mundo. Uma constatação que deve ser debatida no movimento climático e na juventude que tem saído às ruas nos últimos anos contra o ecocídio, para chegarmos a uma estratégia viável contra o capitalismo e pelo planeta.




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