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QUESTÃO NEGRA | No dia 25 de junho aconteceu a primeira plenária de negras e negros do MRT

A plenária contou com mais de 60 pessoas e foi parte de um processo de reflexão e recuperação histórica e estratégica da questão negra no Brasil que antes levou à publicação do livro "Questão negra, marxismo e classe operária no Brasil".

quarta-feira 29 de junho de 2016 | Edição do dia

Neste livro, definimos como a elite nacional se forma espremida entre a pressão da metrópole e a repressão à luta negra. É a partir dessa caracterização da força do papel da população negra no país que passamos a refletir como se dá a relação entre a estratégia revolucionária apresentada pelo trotskismo e a questão do combate ao racismo.

Essa retomada dos fios de continuidade da tradição revolucionária desenvolvida por Trotsky, CLR James e Breitman, ambos militantes do Socialist Workers Party dos EUA durante os anos iniciais de formação da Quarta Internacional aprofundaram nossa referencia e inspiração em Trotsky e nesses importantes estrategistas negros, levando a que publicássemos essas linhas no livro "A Revolução e o Negro".
A plenária realizada no sábado foi resultado de todo esse processo. Foi aberta com composição honorária da mesa por Freddie Gray, Luana Barbosa e os operários em luta na França e fisicamente composta por Marcello Pablito, diretor do SINTUSP, membro da Secretaria de Negras e Negros e Combate ao Racismo do SINTUSP e dirigente do MRT, Jennifer Tritstán, estudante da Fundação Santo André, militante do MRT e da Faísca - Juventude Anticapitalista e Revolucionária, Lourival Aguiar, trabalhador metroviário demitido político pelo governo Alckmin, militante do MRT e do Movimento Nossa Classe, e presidida por Letícia Parks, diretora do Centro Acadêmico do curso de Letras da USP, militante do MRT e da Faísca.

O papel da identidade negra no processo de unidade das fileiras operárias

Pablito abriu os trabalhos denunciando que o racismo surge com o capitalismo e por isso não acaba com o fim da escravidão e que por isso o papel da classe operária no combate ao racismo é central, uma parte fundamental de seu combate por uma sociedade livre de exploração é o fim das opressões. Num país como o Brasil, com maioria de população negra é maior país negro fora da África, o processo de identificação da classe operária como majoritariamente negra cumpre um papel fundamental em relação ao seu posicionamento político antirracista, abraçado o conjunto das demandas negras como suas e dando passos gigantes no sentido de desconstruir a divisão da classe operária entre negros e brancos, uma tarefa até hoje cumprida pela ideologia burguesa que impede que os trabalhadores se solidarizem entre si até o final.

Seguidas da intervenção de Pablito, vieram uma série de companheiros dizer como a identidade negra cumpriu um papel emancipador em suas vidas, argumentando como o marxismo revolucionário fez parte do processo de se ver enquanto negra ou negro e como a batalha pelo fim da divisão entre trabalhadores negros e brancos é uma tarefa apaixonante para os revolucionários. Enquanto a esquerda seguir tratando a questão negra como uma demanda acessória às lutas, dando importância secundária ou diretamente ausente, seguiremos tendo um caminho aberto para aqueles que entendem que lutar contra o racismo é apenas uma tarefa dos negros. É por isso que queremos construir uma alternativa para a organização dos negros que coloque a necessidade da unidade dos trabalhadores e jovens na luta contra o racismo, com os negros tomando a vanguarda desse processo, mas contando com o apoio e a dedicação de cada um de nossos companheiros e companheiras brancos, asiáticos, etc.

Trabalhadoras e trabalhadores intervieram dizendo que não se sentem representados nem pela esquerda que secundariza a questão negra, nem pelas direções de alguns grupos de combate ao racismo, que apesar de darem um combate correto às estruturas racistas de nossa sociedade, alimentam a divisão entre os trabalhadores e impedem que possamos atacar como classe o inimigo em comum daqueles que lutam contra o racismo é daqueles que lutam contra a exploração: a burguesia.


Em uma conjuntura de crise internacional e nacional: apresentar uma saída revolucionária para as negras e negros

Nesse segundo bloco, Jennifer abriu o ponto nacional, demonstrando como a questão negra aparece no centro das principais saídas dadas pela burguesia e pelos trabalhadores para a crise politica. Os cenários de desenvolvimento da crise política apontam, seja com mais repressão, seja com os trabalhadores entrando em cena, a importância das reivindicações dos negros para que a classe operária possa dar uma saída independente. Nessa crise que vivemos, a burguesia vem tentando fortalecer uma ferramenta como o Judicário, que para qualquer negra ou negro em nosso país representa um mecanismo de duríssima repressão, de legitimação da ação genocida da polícia e de agente desse genocídio através do sistema penitenciário. Não acreditamos no judiciário, não estamos com os golpistas que querem fortalecer ele e impor um cenário de mais cortes e ataques em nosso país sobre a juventude e os trabalhadores.

É a serviço da necessidade de resolver os profundos dramas da população negra que colocamos nosso programa de Assembléia Constituinte Livre e Soberana, porque a demanda da terra, da moradia, da educação, da saúde e da vida contra o genocídio praticado pelas polícias, são todas demandas que passam em primeiro lugar pelos negros. Uma Assembleia como essa arrancada através de mobilização independente dos trabalhadores, seria um ferramenta de forte aliança e unidade entre os distintos grupos de trabalhadores.

Também é a serviço disso que colocamos candidaturas como a de Diana, que sempre se colocou ao lado dos trabalhadores terceirizados, de Carol no RJ, de Danilo e de Maíra, para no terreno da própria burguesia disputar com ideias que apontem um caminho independente e revolucionário para os trabalhadores e jovens negros.

Aguiar seguiu a intervenção de Jennifer reafirmando que devemos entramos em campo como revolucionários apresentando nossos métodos de aliança entre trabalhadores e jovens, de unidade entre negros e brancos, para apresentar uma alternativa de organização para as negras e negros que não signifique o falido projeto do PT nem se somar as fileiras da esquerda Lava-Jato, como PSOL e PSTU, que durante os últimos meses, de maneiras mais ou menos explicitas, apoiaram o golpe institucional praticado contra Dilma.

Nós, apresentando toda nossa denúncia a trajetória de traição do PT, que passou por enviar tropas brasileiras ao Haiti, aprofundar a divisão entre os trabalhadores negros e brancos com a terceirização, negar direito a permanência aos estudantes cotistas e aplaudir a entrada das UPPs nas favelas do RJ e BA, nos mantivemos contra o golpe praticado pela direita herdeira dos latifundiários escravagistas desse país. Aguiar também saudou o movimento de reorganização dos negros que rompem com o PT por todos esses motivos e que decidem também não se organizar com a direita golpista, e propôs que apresentemos uma saída que não separe os negros dos trabalhadores como propõem os afrocentristas e os populistas. Por isso deliberamos construir uma agrupação junto a jovens e trabalhadores negros independentes junto aos militantes negros do MRT.


O Esquerda Diário em 5 línguas: ferramenta internacional para a luta dos negros e por uma saída revolucionária da crise

Nesse segundo bloco de debate, Letícia interviu colocando que a crise internacional entra em uma segunda fase marcada pela crise orgânica nos países centrais. Vemos nos EUA as feições de luta de classes e de tentativas de saídas da burguesia que mostram, de um lado, como a luta de classes é marcada pela questão negra através da luta mundialmente conhecida como #BlackLivesMatter, e do outro como para resolver a crise a burguesia dá alternativas ainda mais à direita, como o racista Trump. Infelizmente, pela falta de alternativas revolucionárias, os jovens viram como saída o fenômeno Sanders, uma alternativa que se diz socialista mas que nada sobre a onda do neoreformismo, tentando humanizar o inumanizável capitalismo. Alternativas assim surgiram na Europa em crise, como o Podemos ou o Syriza, que já se mostraram incapazes de responder a brutal crise migratória que assola as massas em guerra na África e Oriente Médio.

Precisamos apresentar uma saída que coloque à frente o marxismo revolucionário, com centralidade da classe operária tomando pra si cada uma das demandas dos negros, que também são suas em um país como o nosso. É por isso que viemos tocando internacionalmente a rede do Esquerda Diário, nossa principal ferramenta de combate internacional, vide a fundação do Left Voice, parte do salto que estamos dando para um Esquerda Diário em 5 línguas no mundo.

Compartilhamos a seguir um vídeo de Julia Wallace, do Left Voice, direto da Califórnia saudando a plenária e comentando a situação do movimento Black Lives Matter nos EUA:


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