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Argentina | Após desvalorizar a moeda e subir as contas, Sergio Massa pede "esforço compartilhado" da população argentina

O ministro da Economia da Argentina e candidato à presidência pela coalizão governista Unión por la Patria fez a declaração no contexto do anúncio de um acordo de preços com supermercados e atacadistas. Algumas horas antes, o governo argentino havia anunciado um aumento nas tarifas de eletricidade, descarregando a crise na classe trabalhadora e no povo pobre para honrar a submissão ao FMI.

sábado 19 de agosto de 2023 | Edição do dia

Sergio Massa anunciou na noite desta sexta-feira um acordo de preços com supermercados e atacadistas. O ministro da Economia e candidato à presidência da Argentina destacou que haverá aumento de 5% ao mês em produtos de consumo pelos próximos 90 dias. Enquanto a extrema-direita de Milei capitaliza eleitoralmente o descontentamento com as políticas de ajuste, como demonstraram as primárias na última semana, o governo de Fernández e seu candidato presidencial, apoiados por Lula, seguem sua política de conciliação de classes submissa ao FMI e os grandes grupos econômicos.
Apesar de a desvalorização de 22,5% que implementou após o PASO (primárias) ter atacado fortemente os salários dos trabalhadores, já desvalorizados pela inflação, Massa clamou aos consumidores por fazerem um “esforço compartilhado”. Porém, como explicou, a medida vai implicar benefícios fiscais para as empresas que aceitarem aderir ao programa: “O Estado renuncia à cobrança de impostos para evitar que o aumento dos custos seja repassado para os preços”.

O que Massa disse sobre o acordo com supermercados e atacadistas

Os aumentos percorrerão uma trajetória de 5% ao mês pelos próximos 3 meses. Por outro lado, empresas, supermercados e redes atacadistas absorvem parte da perda de rentabilidade”, detalhou. “Parte do esforço é feito pelo Estado porque colocamos dois programas. Um, de benefícios fiscais, e outro, de crédito a taxa subsidiada para PMEs que abastecem supermercados para garantir essa trajetória de 5% ao mês em todos os produtos de consumo de massa na Argentina”, disse o ministro.

Segundo informações dadas por Massa, serão 52,3 mil produtos afetados pela medida, e na terça-feira será divulgada a lista completa de supermercados e atacadistas que aderirão. Até agora, Dia, Carrefour, Coto, Chango Más, Makro, Vital, Maxiconsumo, entre outros, participam do acordo. Apesar disso, deve-se notar que os acordos de preços buscados até agora não conseguiram resolver o problema da inflação na Argentina, seja por congelamento ou aumentos acordados.

O ministro encerrou a entrevista coletiva agradecendo às grandes redes de supermercados e aproveitou para tentar se desvincular de sua responsabilidade diante da perda crescente do poder aquisitivo da população: "Além da desvalorização de 22,5% que o FMI impôs à Argentina, esse custo não pode ser pago pelo povo, temos que fazer um esforço compartilhado”.

Estima-se que a inflação em agosto pode chegar a 14%

Aumenta tudo, exceto os salários

Horas atrás, o governo havia anunciado um aumento nas tarifas de eletricidade. A secretária de Energia, Flávia Royon, confirmou nesta sexta-feira que haverá reajustes nas contas de serviços de energia, devido ao impacto da desvalorização que o Governo aplicou após as PASO.

Apesar de suas tentativas de se desculpar diante da crise econômica que atinge a população, a verdade é que a gestão de Massa à frente do Ministério da Economia foi fortemente repudiada pelas urnas no último domingo, 13 de agosto, nas PASO, onde o peronismo ficou em terceiro lugar e assim acumulou uma perda de 6 milhões de votos desde 2019.

Alguns consultores já estimam que, com a desvalorização, a inflação em agosto pode chegar a 14%. Como apontam os depoimentos recolhidos pelo La Izquierda Diario Argentina após os aumentos nos alimentos ocorridos esta semana, “tudo sobe, menos os nossos salários”.

Deve-se notar que o candidato a ministro realizou uma desvalorização - que deliberadamente ocultou durante sua campanha eleitoral - para honrar a dívida com o FMI que o governo de Mauricio Macri e Patricia Bullrich de Cambiemos contraíram.

O Unión por la Patria, ex-Frente de Todos, nada mais fez do que cumprir integralmente o acordo com a organização, e Javier Milei, o vencedor das PASO, anunciou esta sexta-feira durante uma reunião com representantes do FMI que pagará cada centavo da dívida. "Não vamos dar calote no FMI ou na dívida soberana", disse ele. Do La Libertad Avanza, eles garantiram que, caso Milei seja eleito presidente, ele fará “um importante ajuste fiscal, mais importante do que o exigido pelo próprio Fundo".

O que fazer diante da pulverização salarial?

Como apontou o comunicado divulgado pela Frente de Izquierda Unidad, "aqueles que acusam que ’a direita vem pelos teus direitos’ estão aplicando um ajuste e agora uma desvalorização no mesmo sentido que os anunciados por seus adversários eleitorais: que o povo trabalhador seja quem paga o ajuste, enquanto os grandes grupos econômicos aumentam seus lucros e os dólares evadem”.

As burocracias da CGT e das CTAs são garantidoras do ajuste contínuo que o Unión por la Patria está realizando, com Sergio Massa à frente e o aval de Alberto Fernández, Cristina Kirchner e Juan Grabois.

Por isso, através do PTS, partido irmão do MRT na Argentina, levantamos que é urgente a realização de assembléias nos locais de trabalho, de estudo e nos bairros para discutir ações para exigir uma greve nacional ativa dessas centrais, que seja o início de um plano nacional de luta, e coordenar por baixo ações entre o sindicalismo combativo, o ativismo popular de base e antiburocrático, até derrotar o ajuste do FMI implementado pelo governo, apoiado por Bullrich e a extrema-direita de Milei que se propõem a aprofundá-lo ainda mais.

Da Frente de Esquerda, levantam a necessidade de se organizar por :

  • Um aumento emergencial para todos os trabalhadores e aposentados, no valor da cesta básica familiar, exigindo que todos os dissídios sejam desde já reabertos, e que os salários sejam indexados automaticamente todos os meses de acordo com o custo da cesta básica.
  • Aumento significativo da assistência social aos desempregados e do cumprimento da entrega de alimentos nos refeitórios sociais.
  • Erguer comitês de trabalhadores e consumidores para garantir o controle efetivo dos preços nos locais de produção e comércio.
  • A redução da jornada de trabalho para gerar trabalho para todos sem redução salarial, com plenos direitos, sem flexibilização e com salário mínimo igual à cesta básica familiar.
  • Dinheiro para salário, trabalho, moradia, saúde e educação pública, não para a dívida externa e o FMI.



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