Diretora do SINTUSP (Sindicato dos Trabalhadores da USP), organizadora de livros sobre feminismo e também dirigente do grupo de mulheres Pão e Rosas e do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), Diana Assunção foi entrevistada pelo Esquerda Diário para falar sobre a campanha de Andreia, ex-cipeira demitida política da JBS.
segunda-feira 28 de setembro de 2015 | 00:17
Fale sobre a luta e a demissão de Andreia, vocês participaram?
A luta contra a cobrança das refeições na JBS de Osasco foi uma incipiente luta espontânea dos trabalhadores, como vimos em diversas categorias recentemente, quando os sindicatos não se colocam a frente dos interesses da classe, mas que foi duramente reprimida com um ataque direto a uma das lideranças do movimento. Andreia já era conhecida por sua postura crítica à patronal, que por sua vez é amplamente reconhecida, até pela grande mídia, por seu desrespeito aos direitos trabalhistas . O trabalho que Andreia fez como cipeira era considerado exemplar pelos trabalhadores.
Quando a empresa em que trabalhavam, a Seara, foi comprada pela JBS, os trabalhadores passaram a se enfrentar com uma série de ataques diretos, como a retirada do plano odontológico, mudança com elevadíssimo encarecimento do convênio médico e a cobrança das refeições. Nesse momento, Andreia e um setor de operários organizaram um abaixo-assinado contrário à cobrança das refeições e pedindo diálogo, contando com amplo apoio em poucos dias, veio o ataque a ela. Nós, desde fora, acompanhamos e apoiamos a resistência dos operários da JBS de Osasco, assim como encampamos a campanha em defesa de Andreia.
Você é do SINSTUSP, e qual o sindicato da JBS? Eles são ativos na campanha?
A planta da JBS de Osasco está na base do Sindicato dos Frios, dirigido pelo PCO (Partido da Causa Operária). Quando ela nos procurou colocando sobre sua demissão, a primeira orientação que discutimos foi procurar o seu sindicato e de fato, eu e alguns diretores do SINTUSP, como Bruno Gilga e Marcelo Pablito, acompanhamos Andreia várias vezes à sede do Sind. Frios, em busca de desenvolvermos uma campanha unificada pela sua defesa, denunciando duramente a empresa por essa arbitrariedade. Fizeram apenas uma panfletagem por parte do sindicato em que tratavam do caso de Andreia, não construíram de forma ativa a campanha, o que consideramos um erro grave, se quer assinaram a convocatória do ato e não sabemos se estarão na manifestação na Av. Paulista.
E você vê alguma ligação desse ato com a conjuntura política do país?
Com certeza, primeiro, como já coloquei, o processo de mobilização que desembocou na demissão da Andreia já fazia parte da politização e movimentação operária que existe nas fábricas por fora dos sindicatos burocratizados. Além disso, a JBS vem figurando nos jornais não mais só pelos temas trabalhistas que já é famosa, mas apareceu citada nas investigações da Lava Jato e pode ter seus principais representantes depondo na CPI do BNDES.
A crise política e econômica instaurada no país será cada vez mais jogada nas costas dos trabalhadores e a JBS já demonstra ser uma empresa especialista em aumentar sua lucratividade com a super exploração. Além disso, o fato de ser tão ligada ao Estado, sendo a principal doadora para as campanhas presidenciais de Dilma e Aécio, assim como ter sido financiada com R$ 8 bilhões pelo BNDES, para além de outros elementos que viemos denunciando no Esquerda Diário [link para nota “Campeã nacional enche o bolso com alta do dólar”] apontam a possibilidade de crise nessa empresa, em questão de tempo, e não podemos deixar os trabalhadores pagarem.
Casos como o de Andreia Pires devem existir aos milhares país afora, Andreia é uma mulher trabalhadora que se levantou frente a essa gigante, é um exemplo da coragem necessária para os trabalhadores vencerem e por isso seguimos firma na sua campanha, dando peso para o ato nessa terça-feira, 29, em frente a Fiesp na Av. Paulista, às 17:30h.
