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NOVA JUVENTUDE | Entrevista: ’a crise política exige uma resposta revolucionária da juventude’

sexta-feira 1º de abril de 2016 | Edição do dia

Sobre o lançamento da nova juventude revolucionária, que ocorrerá neste sábado na Alameda Glete, 1018 - Próximo ao Metrô Santa Cecília, o Esquerda Diário entrevistou Jéssica Antunes, do centro acadêmico da Letras da USP e Tatiane Lima, do Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp, para contar um pouco de como estão avaliando a situação política do país e quais as necessidades que elas veem de uma nova juventude nesse contexto.

Esquerda Diário: como vocês avaliam o contexto do lançamento dessa nova organização de juventude no país?

Jéssica Antunes: O momento político que vivenciamos no Brasil é mais do que propício para pensar uma nova juventude revolucionária. De certa forma, depois de vivenciar os anos de crescimento do “lulismo”, em que o governo se orgulhava em dizer que os “bancos nunca lucraram tanto”, enquanto aparecia como um governo de concessões, mostra sua verdadeira cara ajustadora preparando uma série de ataques para a juventude. Cortes na educação, saúde precárias, transporte lotados, desemprego enorme para a juventude, enfim, o capitalismo brasileiro que roubar nosso direito ao futuro.

Nós temos onde nos espelhar para desenvolver nossa luta. Somos parte daqueles que querem seguir as grandes jornadas de junho e a luta dos secundaristas de SP, que derrotaram os planos de ajuste e fechamentos de escola do governo Alckmin. Nesse sentido, a nova situação exige uma resposta, e o discurso reformista do passado já não cola no presente. O futuro é de lutas, e precisamos de uma juventude que ultrapasse os limites das organizações burocráticas e engessadas, mas também que seja uma força de centenas ou milhares nacionalmente para bater com um punho só nos governos, reitorias e todos que queiram descarregar a crise nas nossas costas e oferecer uma perspectiva revolucionária de transformação social do país.

Esquerda Diário: Como vocês avaliam que a nova juventude deve se posicionar frente aos avanços da direita no país?

Tatiane Lima: Com a enorme crise econômica que estamos vivenciando, que afeta a vida dos jovens e dos trabalhadores, a situação é de grande descontentamento e revolta contra os governos e o sistema político. Nesse contexto, a esquerda precisa dar uma resposta, para que os jovens não caiam em armadilhas. É nesse contexto que a maior armadilha aparece: a velha direita reacionária, que tem no seu projeto mais ajustes, mais cortes, mais restrição de nossas liberdades, mais conservadorismo. Agora como com esse discurso não vão atrair a juventude, querem colocar “novas figuras” pra “velhas políticas”, como Kim Kataguiri.

A juventude não acredita nessa armadilha e nem pode permitir que utilizem de mecanismos reacionários do sistema político para atacar a nossa já degradada democracia. Por isso nos colocamos contra o impeachment dos conservadores e contra todas as manobras reacionários do jogo político, que só tem o intuito de piorar ainda mais nossa situação, e abrir mais espaço para o imperialismo no pais.

Um exemplo disso tem sido o pintado como “herói” pelos jornais, o juiz Sergio Moro, que com todas as suas regalias - salários que dizem atingem R$80 mil, formação política no berço do imperialismo (EUA) – vem atuando a seu bel prazer com a operação Lava Jato, utilizando mecanismos como delações, conduções a força para depoimentos etc., que fazem lembrar a ditadura..

Se fazem isso com gente poderosa, imaginem o que não vão querer fazer com a juventude nos bairros operários e nas favelas?

Esquerda Diário: Mas a luta contra a direita não é aposta a luta contra os ataques do governo do PT, não?

Jéssica Antunes: De maneira alguma, pelo contrário, a luta mais ferrenha contra a direita pressupõe também a total independência para combater os ataques do PT. Isso porque, em primeiro lugar, é preciso reconhecer que o próprio PT é responsável por abrir espaço em cada ministério, em cada cargo político, em cada aliança com setores da oposição de direita e mesmo setores reacionários. Esses setores foram ganhando espaço no governo, levaram a mão, o braço e agora querem tudo.

Isso porque o PT além de já ter sido um governo de total conciliação com banqueiros e empresários, no último período veio adotando quase completamente o programa da direita. Entregando a Petrobrás, rifando a previdência, seguro-desemprego, negando direito ao aborto, enviando tropas para o Haiti, enfim, são muitos ataques, que se consolidaram agora no imenso plano de ajustes do último período, aumentando impostos, inflação e oferecendo os mais ferrenhos cortes para a juventude e os trabalhadores.

Por isso é fundamental que organizações como a CUT, a UNE e a UBES parem de instrumentalizar a luta com a direita para defender esse governo, mas que sim rompam com ele e levam adiante um plano de luta sério contra o impeachment, as manobras golpistas de Sérgio Moro e seus amigos do judiciário - afinal, quem julga esses juízes? - e os ataques do governo do PT.

Esquerda Diário: Qual seria a resposta política revolucionária que uma juventude revolucionária deveria colocar frente a essa situação?

Tatiane Lima: Essa crise política vai mostrando para a juventude e os trabalhadores que esse sistema político está apodrecido pela corrupção e já nasceu, em sua transição pactuada, cheio de vícios da ditadura militar, que vive nesse regime até hoje. Sem mudar as regras do jogo não adianta mudar os jogadores.

Por isso, queremos abrir a discussão com todos os jovens da necessidade de lutarmos por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana imposta pela força da mobilização para atacarmos a impunidade pela raiz, julgar todos os corruptos por júri popular, eleger novos deputados e juízes que sejam revogáveis a qualquer momento, por nós e não por eles mesmos, e que todos recebam o salário de uma professora. Podemos reduzir a jornada de trabalho e dividir os empregos entre os jovens desempregados, que já chegam a 20%, suspender o pagamento da dívida pública para ao invés de mandar nossos impostos para os imperialistas, colocar na saúde e na educação que estão uma calamidade, além de estatizar todo o ensino privado, garantindo educação pública, gratuita e de mesma qualidade para todos os jovens do país, fazer finalmente a reforma agrária, entre outras transformações estruturais. Só assim podemos arrancar nossos direitos democráticos e fazer com que os capitalistas paguem pela crise, avançando junto aos trabalhadores e a juventude para uma luta diretamente anticapitalista e revolucionária que avance para um governo dos trabalhadores e da população pobre.

Questionar cada uma das mazelas do capitalismo é parte de buscar dar uma resposta política de fundo para a crise que vivemos hoje. Seja nas distintas formas de opressão, como na intensa exploração capitalista que a juventude é ainda mais fortemente submetida, mas também nas distintas crises internacionais, com governos de ditadores que ainda se perpetuavam no mundo árabe, com uma arrasadora crise econômica que trás mais miséria e pobreza, com a crise dos imigrantes, que buscam fugir das bombas imperialistas e encontraram cercas e muros nos outros países, enfim, como dizia o revolucionário Leon Trotski, se o capitalismo não pode lidar com os problemas que criou, então que morra.

É nessa perspectiva que achamos que devemos criar uma nova juventude anticapitalista e revolucionária no país. Esse é o nosso convite. Toda revolução começa com uma faísca; nossa revolução é socialista, e queremos ser essa faísca revolucionária.




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