Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, deu declaração kafkiana em entrevista à CNN nessa quarta-feira. Ele defendeu a privatização da Petrobrás já que ela “só distribui e escolhe os melhores caminhos para performar recursos para distribuir dividendos”. Impressionante a lógica sem pé nem cabeça do aliado de Bolsonaro.
quarta-feira 13 de outubro de 2021 | Edição do dia
Os malabarismos retóricos para vender a maior empresa pública do país chegam a níveis estarrecedores. Mas Arthur Lira talvez tenha vencido o troféu de argumento mais estapafúrdio.
Em entrevista para a CNN, ele afirmou: “Há uma política que tem que ser revista, porque ela nem é pública e nem é privada, completamente. Ela só distribui e escolhe os melhores caminhos para performar recursos para distribuir dividendos. Essa é a pergunta que tem que ser feita: não seria o caso de privatizar a Petrobras? Não seria a hora de se discutir qual é a função da Petrobras no Brasil?”
A lógica de Lira é um despautério total. As razões principais por trás dos altos preços, na verdade, estão no fato de parte da Petrobrás ser privada, pois os acionistas lucram horrores com a gasolina a R$ 7,00 e o botijão a mais de R$ 100,00. Ou seja, privatizá-la vai atender ainda mais aos interesses de quem lucra com o combustível caro...
Enquanto Bolsonaro e Lira insistem em culpar exclusivamente o ICMS, eles se silenciam sobre o fato da atual gestão da empresa nivelar o preço de venda das refinarias de acordo com o mercado internacional – ou seja, de acordo com os interesses dos acionistas. Quanto mais caro o combustível, mais lucro para os acionistas. A conclusão lógica seria estatizar 100% a Petrobrás e colocá-la nas mãos dos próprios trabalhadores, premissa inicial para deixar de transferir lucro para os grandes acionistas. E não vendê-la 100%.
Mas lógica coerente não é com a direita. Eles se aproveitam da crise social decorrente desse aumento, que impacta principalmente as famílias mais pobres, para avançar na rapina do patrimônio público – por trás da retórica kafkiana, há o bom e velho interesse privado do grande capital.
Além dos lucros dos acionistas, pesa também no preço final na bomba os lucros das distribuidoras e também o ICMS, que se mantém o mesmo percentual há anos.