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sexta-feira 3 de abril de 2015 | 00:01

No dia 18 de março, de 2015, na cidade de Araraquara, interior de São Paulo, a jovem negra trans Renata (nome fictício foi dado para preservar sua identidade de gênero) de 13 anos é brutalmente assassinada com quinze facadas, duas delas em seu rosto, no qual os agressores deixam claro que não basta matar, mas precisam acabar com sua identidade gênero, demonstrando o caráter de ódio do crime.

É desfigurando dessa maneira o corpo e a identidade de combate a moral burguesa que se apresenta a transfobia, como ódio incontrolável as identidades “não-cisgeneras”.

Renata entrou nas frias estatísticas de assassinatos de LGBT junto com João Donati, morto em Mato Grosso do Sul no ano passado; e o recente caso de Peterson, espancado por colegas da escola, por seus pais serem LGBT e os milhares de casos anuais invisibilizados pelo preconceito.

Renata teve que enfrentar no seu cotidiano um mundo de miséria sexual e econômica.

A menina foi abandonada aos dois meses por sua mãe que enfrentava problemas psiquiátricos. Foi criada pelos avos, levada a um abrigo e denunciada ao conselho tutelar por ter de ajudar a sua família no complemento da renda, entregando marmitas pelo bairro onde morava.

Com a denúncia de trabalho infantil, ela passou por duas vezes pelo abrigo municipal, e nas ruas, assumiu sua identidade de gênero sendo empurrada para a prostituição infantil.

Segundo a polícia civil, quatro suspeitos, todos menores de idade, são considerados culpados pelo assassinato, ocorrido por dívidas de trafico e prostituição.
As mídias locais e a polícia procuram colocar “panos quentes” na situação, para culpar a vitima e colocar sua relação com o tráfico de drogas e a prostituição como consequência lógica de sua morte.

Escondem, assim, a profunda marginalização que sofre a comunidade trans, que é compulsoriamente entregue a esta vida do tráfico e da prostituição sendo estas consequências responsabilidade dos governo e do Congresso, que se calam frente a esta triste realidade.

A mídia trata de matar duas vezes as trans em suas reportagens, retratando suas mortes e também as retratando com seus nomes de registro tirando, assim, sua autonomia e todo histórico de combate pessoal para enterrar toda a sua antiga identidade de gênero. Por fim este ato trata de transformar as travestis e transgêneras clandestinas de sua própria vida e luta.

Por não quererem questionar até o fim seu assassinato, reforçam o cotidiano de opressões sofridas que invisibilizam e, por isso, matam milhares de jovens que são impedidos de determinar sua sexualidade e construir seu gênero e raça. As mesmas condições estruturais permitem que siga toda a condição de fragilidade e de “desassistência”, que impôs a prostituição e o tráfico de drogas a ela.

Estes e outros casos de assassinatos de LGBT,- no Brasil, morrem um homossexual a cada vinte e seis horas e as travestis seguem com a perspectiva de vida de apenas 35 anos-, entram em contradição com as paradas gays, que no Brasil sempre são alardeadas pelo seu tamanho e demonstração de “tolerância” a diversidade, porém, hoje seguem controladas pelos grandes donos dos hotéis, casas noturnas e famosas baladas de São Paulo, impedindo que sejam verdadeiros atos políticos que denunciem estes escandalosos casos de violência, assassinatos, mutilações e discriminações.

Por isto, os dados estatísticos mostram um país que tem a muito depor em contrário a suas paradas, tendo as maiores taxas de mortes por preconceito de gênero e sexualidade.

Renata engrossava as duras fileiras dessa realidade brasileira da prostituição e do abandono infantil e sua vida retrata as duras penas que inúmeras crianças brasileiras sofrem. Estima-se que quinhentas mil crianças estão sujeitas a prostituição infantil, isto apenas no período da copa do mundo.

Vynicius Campos, Militante da Juventude às Ruas e expulso politico da UNESP/Araraquara, fala “não podemos confiar nos partidos da ordem, mas somente os setores LGBT se organizando junto classe trabalhadora que poderemos fazer frente à transfobia. Isto se exemplifica nos recentes ataques aos direitos trabalhistas e aliança com as bancadas evangélicas e da bala mostram que o PT em nome da governabilidade rifa as lutas dos setores LGBTs e da mulher. Para tamanha missão, centros acadêmicos e sindicatos devem se comprometer nos atos de rua e fazendo atividades que discutam a transfobia no espaço de trabalho e estudo”. Completa, ainda que “repressão e opressão são duas faces de uma mesma moeda, tanto as expulsões na UNESP quanto esse assassinato tem em comum em que ambos questionam a moral burguesa. Por isso chamamos todos os setores da universidade e centros acadêmicos a participar do Ato do dia 4 abril, em frente à prefeitura, de Araraquara, às 14h00. Chega de assassinatos à transexuais e travestis! Ocupar as ruas contra a homofobia e a transfobia”




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