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SAÚDE FEMININA | O coletor menstrual: preconceitos, tabus e interesses capitalistas

Os tabus sobre a sexualidade feminina propiciam que se perpetue o negócio das grandes empresas por cima da saúde das mulheres.

terça-feira 20 de outubro de 2015 | 00:00

Foto: elcacomixtle.blogspot

No dia 22 de setembro soubemos da trágica notícia da morte da britânica Jemma-Louise Roberts, de 13 anos, por causa da Síndrome de Choque Tóxico (SCT) associado a utilização de absorventes internos (o conhecido "OB").

A Síndrome consiste em uma infecção originada pela bactéria Staphylococcus Aureus que pode chegar a ser mortal. Ao que parece, o material pelo qual estão feitos os absorventes internos produziria fibras que propiciariam um ambiente favorável para a proliferação das bactérias. A absorção parece apontar como principal culpada.

As recomendações para evitar a Síndrome são, entre outras, evitar o uso de absorventes internos com alta absorção e utilizá-los entre 4-6 horas. Entretanto, nasceu uma alternativa: o coletor menstrual, também conhecido como copo menstrual.

O coletor menstrual é feito de silicone e tem forma de um recipiente, como um funil, de tal forma que recolhe o fluxo menstrual sem absorver, o que faz com que não se altere nem o pH nem a flora da vagina evitando candidíase vaginal, secura vaginal, alergias e o mais importante, o SCT.

A sexualidade das mulheres, um rentável negócio capitalista

Uma mulher utiliza cerca de 240 absorventes internos por ano, o que supõe um gasto de uns 50 euros anuais, ou 500 euros em 10 anos (cerca de R$ 223,00 por ano ou R$ 2.230,00 em dez anos). O coletor, por sua vez, custa entre 15 e 30 euros (cerca de R$ 68,00 a R$ 135,00) e não é necessário trocá-lo de 10 a 15 anos. Como é evidente, isto se torna um problema para as grandes empresas, que no caso do seu uso se popularizar, veriam seus lucros diminuídos.

De novo, são as principais empresas e laboratórios farmacêuticos transformando a saúde das mulheres em rentável negócio. O coletor menstrual, não só é uma alternativa mais econômica que os absorventes internos e os absorventes comuns, mas além de tudo é mais seguro e saudável, protegendo de irritações, evitando inúmeros incômodos e diversas doenças.

Sem dúvida, o negócio dos absorventes internos e dos absorventes comuns, assim como toda a indústria da higiene íntima feminina faz parte desse grande dispositivo de controle sobre os corpos das mulheres que é o patriarcado. O patriarcado estabelece inúmeros tabus e preconceitos sobre os corpos impedindo de nos relacionar com nosso próprio corpo, de conhecê-los e decidir nossa sexualidade de forma consciente: desde a ideia de que a vagina das mulheres é algo sujo e que portanto, devemos evitar tocar, até a ideia de que a menstruação é algo para envergonhar-se, ocultar e viver na intimidade.

Preconceitos fortemente enraizados na mentalidade das mulheres e que provoca rechaço de muitas ao coletor menstrual. Temos inculcado em nós a idéia tão profunda de que a menstruação é algo sujo e repugnante, que o uso do coletor menstrual também termina sendo assim, uma vez que nos permite um contato mais íntimo com o sangue que sai da nossa vagina uma semana a cada mês.

Isto é um exemplo da alienação imposta para o nosso próprio corpo, o senti-lo estranho, fora do nosso controle e nossos desejos. Algo que contrasta fortemente com a sexualidade masculina.

De fato, os homens não tem nenhum problema em colocar as mãos em seu genital, seja para coçar quando queira ou se masturbar. No entanto, no caso da mulher, “não é próprio de uma moça” colocar a mão entre as pernas, seja para coçar, masturbar ou colocar um absorvente ou coletor menstrual.

Está mais do que na hora de que nós mulheres nos organizemos, alcemos nossas vozes e tomemos o controle dos nossos corpos. Que seja nossa a decisão do que utilizar e desmistifiquemos a menstruação como algo asqueroso e nossos genitais como algo impuro e intocável. Coloquemos nosso conforto e nossa saúde acima dos interesses de todas empresas, para quais somos apenas lucro.

Tradução: Tassia Arcenio

Publicado originalmente no La Izquierda Diario




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