Policial Militar de folga atirou em jovem negro pois achou que ele tinha roubado seu celular, que estava em seu próprio carro.
quarta-feira 11 de agosto de 2021 | Edição do dia
FOTO: Reprodução/Polícia Civil de SP
Silvio Pereira dos Santos Neto, cabo da Polícia Militar de SP foi preso em flagrante no último sábado (07/08) após matar o jovem negro Clayton Abel de Lima num bar na zona norte da cidade de São Paulo. Segundo o dono do bar, os dois chegaram juntos ao local e tiveram uma discussão após Silvio acreditar que Clayton havia furtado seu celular, atirando contra ele. O aparelho, após realização da perícia, estava no carro do policial. As informações são da Ponte Jornalismo.
De acordo com o boletim de ocorrência, os policiais militares que foram acionados para atenderem a ocorrência afirmam que viram o policial Silvio Neto“agitado”, “aparentando estar embriagado”, e que teria dito a eles que tinha sofrido uma tentativa de roubo e que reagiu contra o suspeito. O proprietário do estabelecimento, porém, disse que por volta das 3h da manhã Silvio e Clayton haviam entrado juntos no local, aparentando estar muito bêbados. Em seguida, conta a testemunha, eles foram para o fundo do bar, onde existem três máquinas caça-níquel inoperantes e ouviu Silvio questionando a Clayton onde estava seu celular, que respondia não saber. O cabo ainda teria ido até o dono e também perguntado sobre o aparelho, que disse desconhecer. Depois, viu Silvio retornar ao fundo do bar e ouviu um disparo.
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O dono afirma que correu e viu Clayton caído no chão e que tirou a arma das mãos do cabo e a descarregou. Silvio tentou pegá-la de volta e apresentou sua carteira funcional de policial militar, mas o homem não a devolveu. A testemunha disse que pediu para as pessoas presentes no local chamarem o resgate e a polícia. Quando os PMs chegaram, entregou a eles o revólver.
A equipe de perícia do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, identificou que Clayton estava apenas com seu documento de identidade e um cartão bancário em seu nome, sem nenhuma arma ou aparelho celular. Ele foi atingido por um tiro no tórax. O carro de Silvio, que estava estacionado na mesma rua, a poucos metros do local, também foi periciado. Nele, estavam um cartão do SUS e um comprovante de banco em nome de Clayton, além do aparelho celular do cabo.
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O delegado Ricardo Lemes de Araujo, do DHPP, entendeu que o crime não tem relação com a função policial. Além disso, justifica que ele tinha relação com a vítima, já que os pertences foram encontrados em seu veículo e o dono do bar testemunhou a ação. Araujo indiciou o cabo por homicídio doloso (quando há intenção de matar) ao argumentar que ele “não estava confinado em situação de perigo que justificasse reação imoderada e desproporcional, consistente em disparar contra indivíduo desarmado, o levando a óbito no local”.
No relatório final da investigação, o delegado também sustenta que o caso “não é compatível com o instituto da legítima defesa” pois a vítima não estava armada e o cabo não tinha nenhum sinal de luta corporal. Araujo também pediu a prisão de Silvio, que foi convertida em preventiva (sem prazo determinado) em audiência de custódia. O cabo está detido no Presídio Militar Romão Gomes.
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Na segunda-feira (09/08), o Ministério Público Estadual pediu a realização de perícia no celular de Silvio e ofereceu denúncia contra ele por homicídio qualificado por motivo fútil e que dificultou a defesa da vítima. “O crime foi cometido por motivo torpe consistente em vingança por um suposto furto de celular que o indiciado acreditava que a vítima tivesse cometido contra ele”, argumentou a promotoria. “Foi, ainda, cometido mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, que não imaginava que seria alvejada pelo indiciado e foi atacada por ele de forma inesperada”.