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COMO BARRAR OS ATAQUES? | CUT costura acordo com governo para passar ataques em parcelas

Se a CSP-Conlutas quer verdadeiramente construir uma paralisação ou greve nacional para barrar os ataques, deveria começar por reunir todas as forças de vanguarda para realmente “incomodar” a burguesia nos dias de ação unificados de luta. Para tal, é necessário organizar seriamente assembleias e plenárias regionais nas bases dos sindicatos e oposições sindicais dirigidos e influenciados pela esquerda antigovernista, ligando as lutas próprias de cada categoria à luta nacional contra os ataques do governo.

Daniel MatosSão Paulo | @DanielMatos1917

quarta-feira 22 de abril de 2015 | 00:00

Em função dos protestos contra a chamada “lei da terceirização” (PL 4330), que se alastraram pela internet e culminaram com uma jornada de manifestações, cortes de rodovia e paralisações de alguns setores no dia 15 de abril, a demagogia petita ganhou projeção na conjuntura política nacional. Na abertura do Congresso da CUT, Lula apelou para que Dilma “tente evitar” a aprovação da lei em tramitação no congresso regulamenta a expansão da terceirização do trabalho no país.

Por trás da cara de pau, mais um momento da campanha eleitoral para 2016 e 2018, para as quais o PT busca diferenciar-se das medidas mais de direita do governo Dilma para não perder demasiado apoio de sua base social.

Quanto cinismo! Justamente sob os 12 anos de governo petista 90% dos empregos criados recebem menos de 2 salários mínimos, saltou de 4 para 12 milhões o número de terceirizados e mais de 20 milhões são vítimas da rotatividade do trabalho todos os anos. No mesmo discurso que se contrapunha à PL 4330, Lula defendia o restante dos ajustes implementados pelo governo, reivindicando os ajustes que ele mesmo fez em 2003.

O teatro da CUT

A CUT conta com 2,1 mil sindicatos registrados, o que significa 2,4 milhões de sócios (segundo o índice de representatividade criado pelo governo, que cruza o número de sindicatos filiados e dos trabalhadores a eles associados), representando 36,5% do movimento sindical. Isto lhe dá direito a cerca de 50 milhões de reais anualmente apenas do imposto sindical obrigatório que o governo recolhe e repassa às centrais.

O contraste entre essa “pequena” força e o que a CUT efetivamente mobilizou no dia 15 mostra que seu objetivo não é lutar contra a terceirização, e sim pressionar o Congresso e o governo por um ataque mais “light”. Não poderia ser diferente, já que a CUT não esconde que seu projeto alternativo à PL 4330 é uma regulamentação da terceirização tal como existe hoje, garantindo a precarização do trabalho que impõe condições de vida ultra precárias para um enorme contingente da classe trabalhadora e garante lucros exorbitantes aos empresários.

A disposição de luta que vem se expressando em greves como a da Volks de São Bernardo, da GM de São José e dos professores em vários estados contra os planos de ajuste que buscam descarregara crise sobre as costas dos trabalhadores apenas deixa mais evidente o papel da CUT de contenção dessa energia para amortecer o choque entre a insatisfação popular e os ataques do governo do PT. As paralisações parciais e os cortes de rodovia que houveram no dia 15 foram mais uma demonstração dessa disposição de luta que a burocracia cutista busca desviar e conter.

Para esse teatro a CUT conta com inestimável ajuda do MTST. Apesar de criticar as medidas direitistas do governo federal, o dirigente dos sem-teto, Guilherme Boulos, subordina a luta contra o ataques à defesa de Dilma diante do fortalecimento da direita tucana. Para tal, esconde a mobilização contra o pacote de ajustes do PT por trás de uma propaganda genérica “Contra a direita” e por “mais direitos”, como se os principais ataques em curso não fossem responsabilidade direta do governo petista.

Negociações em curso: ataques parciais, mas ataques enfim

Nos últimos dias veio a público a disposição do governo de acordar um recuo em parte das Medidas Provisórias decretadas na virada do ano, que retiram direito trabalhistas e previdenciários de seguro desemprego, auxílio doença, entre outros. O governo estaria disposto a recuar parcialmente em alguns dos ataques para passá-los no que têm de essencial.

Desta forma, a burocracia cutista posa de “lutadora”, Lula faz sua demagogia, Dilma aparece fazendo algumas “concessões”, e o governo petista vai impondo os ataques tão caros à patronal a conta-gotas.

PSOL e PSTU vão a reboque da burocracia cutista

É difícil de acreditar que, mesmo depois de compartilhar por tantos anos os mesmos espaços sindicais com a burocracia cutista, as direções do PSTU e do PSOL ainda se sentem seduzidos pelo jogo de cena de burocratas profissionais como os que dirigem a CUT. Mas essa é a dura realidade que se expressa quando não vemos nenhuma crítica – nenhumazinha que seja – à burocracia cutista nos balanços do dia 15 nas páginas de internet desses dois partidos.

Pelo contrário, na página do PSTU, assim como na da CSP-Conlutas, vemos a defesa de uma “greve geral” que, ao não estar ligada a uma denúncia séria ao papel de contenção da CUT e nem tampouco a um plano sério de mobilização dos setores de vanguarda, não pode mais que fomentar ilusões de que a burocracia cutista possa fazer uma luta séria contra os ataques do governo. Nas palavras de Luciana Genro, pasmem, o PSOL chega a parabenizar a CUT por sua iniciativa na convocatória do dia 15. Ao mesmo tempo em que o a bancada do PSOL propõe emendas no PL 4330, unindo-se à CUT no objetivo de reformá-lo.

O que aconteceu com o PSOL e o PSTU para acreditarem que os “demônios” que os fizeram romper com a CUT agora viraram os “anjos” que vão “salvar” a classe trabalhadora dos ataques petistas? Por que embelezar as manobras através das quais a burocracia se empenha em lavar a CUT e do PT? Palavras esquerdistas que agitam a “greve geral” como se essa fosse cair do céu ou brotar da terra como num passe de mágica, para além de cobrir com um discurso vermelho a impotência da própria esquerda antigovernista, não vão ajudar a criar as forças necessárias para verdadeiramente barrar os ataques.

Um verdadeiro plano de luta para barrar os ataques

Enquanto a CSP-Conlutas não tiver uma orientação clara para que, no marco da unidade na ação contra os ataques do governo, possa emergir como uma alternativa política independente da burocracia sindical; sem um plano de mobilização a partir das assembleias de base para que setores de vanguarda da classe trabalhadora possam lutar por uma verdadeira paralisação nacional contra do esforço de contenção da direção vendida da CUT, não vai haver nenhuma “greve geral”, e nem muito menos que isso.

Se a CSP-Conlutas quer verdadeiramente construir uma paralisação ou greve nacional para barrar os ataques, deveria começar por reunir todas as forças de vanguarda para realmente “incomodar” a burguesia nos dias de ação unificados de luta. Para tal, é necessário organizar seriamente assembleias e plenárias regionais nas bases dos sindicatos e oposições sindicais dirigidos e influenciados pela esquerda antigovernista, ligando as lutas próprias de cada categoria à luta nacional contra os ataques do governo. Essa é a batalha que nós do Movimento Revolucionário de Trabalhadores demos em nossas categorias para construir a jornada de luta do dia 15 e seguimos dando para as próximas batalhas. E foi a voz que o Esquerda Diário buscou expressar em todo o país.

Se o PSOL quer realmente lutar contra os ataques do governo, deveria colocar suas bancadas parlamentares a serviço de fortalecer as greves de resistência que veem sendo protagonizadas por várias categorias e projetar a voz dos sindicatos de vanguarda que se propõem a realmente mobilizar suas bases para construir uma mobilização nacional contra os ajustes. Seria fundamental conseguir mobilizar os metroviários de São Paulo para que eles assumam em suas mãos um papel de vanguarda. Embelezar a burocracia sindical vai contra criar essa força. Os trabalhadores sabem que esses dirigentes traidores os deixam à própria sorte quando vem repressão, como aconteceu na greve do metrô do ano passado e em anos anteriores.

Para criar essa força é necessário unificar pela base os trabalhadores de vanguarda da GM de São José dos Campos, do Sintusp e de todas as oposições sindicais dirigidas pela CSP-Conlutas em São Paulo. Um polo de vanguarda que, mobilizando-se de forma unificada e com o apoio dos parlamentares do PSOL, poderia realmente projetar uma voz independente da burocracia sindical, que seja ouvida por setores mais amplos da classe trabalhadora e possa gerar as forças necessárias para dobrar a vontade do governo e colocar a classe trabalhadora no centro da cena política nacional.


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