Onda de calor no Canadá com centenas de mortos. Ondas de frio polar no cone sul. Um prédio desaba em Miami, relacionado ao aumento do nível do mar na Flórida. A destruição ambiental promovida pelo capitalismo começa a dar as caras.
sábado 3 de julho de 2021 | Edição do dia
Quarenta e nove graus no Canadá. Num país onde as temperaturas no verão não costumam passar de 20 graus, a onda “incomum” de calor já matou mais de 600 pessoas. Enquanto isso, o cone sul vê as temperaturas mais baixas em muitos anos, causando neve em estados brasileiros como Minas Gerais. Mortes também são registradas, principalmente de moradores de rua. O Brasil enfrenta sua pior crise hídrica em 91 anos correndo o risco de apagão, devido à falta de chuva. Um prédio desaba em Miami e uma das causas é o aumento do nível do mar. Tudo isso no meio de uma pandemia, causada pelo avanço sobre as florestas e os habitats naturais.
Esses acontecimentos estão longe de ser pontual. Nos últimos anos, vimos alguns fenômenos naturais “extremos” (como ondas de calor, furacões etc) - que já eram recorrentes – se tornando mais forte. Ao mesmo tempo vemos eventos “extremos” que eram incomuns acontecendo com mais frequência. E até mesmo vemos eventos extremos que não ocorriam começar a ocorrerem.
Se a sincronia dos eventos que ocorreram essa ano assusta, os últimos anos também viram cenas assustadoras, como a onda de calor devastadora na Sibéria ano passado e onda de calor no Irã em 2017, quando as temperaturas chegaram a 54 graus. Ou como se esquecer do dia em que São Paulo anoiteceu as 3 da tarde, em 2019?
É exatamente assim que a crise climática se parece. E isso não tem nada de natural. Ainda que o mundo vinha numa tendência de aumento da temperatura nos últimos 10 mil anos, os últimos 150 viram esse processo se acelerar de forma exponencialmente. Tampouco podemos dizer que estamos condenados a isso. Hoje temos tecnologia e conhecimento científico o suficiente para superar a crise ambiental colocada. No entanto, dentro desse sistema capitalista, toda a tecnologia desenvolvida acaba por degradar ainda mais o meio ambiente.
Nesse sentido, também é importante desconstruir a noção passada pelos filmes apocalípticos sobre o meio ambiente, em um dia está “tudo bem” e no outro o mundo acabou. Pelo contrário, a dinâmica que irá seguir é essa que vemos agora.
Isso não quer dizer que seja menos grave. Em cada evento desse, seja uma onda de calor, um deslizamento ou uma pandemia, serão inúmeras vidas perdidas e sofrimento, principalmente para a classe trabalhadora e para os mais pobres.
Mas aí que reside também é um elemento estratégico para a esquerda. Cada catástrofe ambiental revelará também contradições de classe. A humanidade não é atingida de forma igual pela catástrofe climática. Os trabalhadores e o povo pobre são o setor mais atingido. Ao mesmo tempo cada catástrofe ambiental dessa também tem potencial de desencadear movimentos de luta de classes.
Nesse sentido, a tarefa da esquerda revolucionária é justamente batalhar para que em cada conflito tome um viés anticapitalista, a única solução real capaz de resolver esse problema até o fim.
Ver também: Declaração FT: O capitalismo destrói o planeta, destruamos o capitalismo