×

Eleições Apeoesp 2023 | Fraude histórica nas eleições da APEOESP para eleger como chapa única Bebel (PT), PSOL e PCB. É preciso retomar o sindicato para os professores

Depois de 6 anos, na última sexta-feira, 26, ocorreu a eleição do maior sindicato da América Latina, a Apeoesp, sindicato de professores do Estado de São Paulo que é há mais de duas décadas dirigido pela mesma burocracia do PT e PCdoB e que tem Maria Isabel Noronha, a Bebel, à frente. Além de uma política que veio tornando o sindicato cada vez mais afastado da base dos professores, a eleição foi marcada por fraudes e mais fraudes, uma prática tradicional da burocracia cutista da ArtSind e que dessa vez serviu para excluir a oposição da diretoria do sindicato, pela primeira vez em décadas formando uma diretoria de chapa única, sem participação proporcional das demais chapas.

quarta-feira 31 de maio de 2023 | Edição do dia

As últimas eleições da Apeoesp ocorreram há 6 anos atrás, um fato em si chamativo que um sindicato tenha por 6 anos consecutivos a mesma conformação de gestão, claro, com Bebel (deputada estadual de SP pelo PT) na sua presidência. Foram 6 anos em que os professores viram um sindicato ainda mais burocratizado, onde tiveram que passar pela pandemia, volta das aulas, o avanço das reformas como o novo ensino médio e da precarização da educação causados por governos da direita tradicional como Doria e também da extrema direita, como o bolsonarista Tarcísio, e infelizmente não puderam contar com seu sindicato como uma ferramenta de luta e de organização que pudesse unificar as forças dos professores e colocá-las em movimento para enfrentar cada um dos ataques e defender outra perspectiva de educação longe das mãos dos monopólios do Itaú e da Lemann.

Essa realidade foi sentida nas eleições com a diminuição da sindicalização, já que é cada vez mais comum que os professores não vejam porque se sindicalizar diante de um sindicato que está mais preocupado com o mandato parlamentar de Bebel, que inclusive vota pelo aumento salarial de Tarcísio, do que com organizar sua luta. Isso fez com que as eleições fossem mal divulgadas, sem discussões na base, e sem nenhuma política de sindicalização para que os professores pudessem participar desse processo, em especial os professores categoria O, que pelo nível de precarização dos contratos e dificuldades de atribuírem aulas são ainda menos sindicalizados que os efetivos.

Estavam concorrendo às eleições a chapa 1, que é composta pela burocracia da ArtSind da Bebel, PCdoB, e que esse ano foi somada à ex-oposição com Resistência, MES e Unidos/RS do PSOL, PCB e outros grupos que são parte do antigo Fórum das Oposições (ou ex-oposições); a chapa 2, composta por PSTU, por nós do MRT, CST e Comuna (PSOL) formando cerca de 20 grupos que compõe a Oposição Unificada Combativa, e a chapa 3, da Unidade Popular, que mostrou unidade com a burocracia da chapa 1 em várias subsedes.

Mas para além da baixa sindicalização a eleição foi marcada fortemente por incontáveis fraudes do início do processo ao fim da sua apuração. Para começar, todo o processo é controlado a mãos de ferro pela chapa 1. Os mesários que controlam as urnas são em sua quase totalidade mesários da chapa 1, os únicos que recebem liberação do dia de trabalho. As urnas são guardadas em lugares onde apenas a chapa 1 pode controlar, em subsedes como Campinas por exemplo, as urnas são levadas para a casa dos mesários na noite anterior das eleições.

No dia das eleições as urnas eram transportadas sem lacres, fechadas num saco plástico com um elástico, os lacres eram totalmente violáveis com um adesivo que cola e descola fácil e a chave das urnas ficavam nas mãos da chapa 1. Além de fiscais da chapa 2 serem impedidos de fiscalizar as urnas na hora do almoço, por exemplo. O resultado disso não foi outro, no fim do dia, mesmo com a baixa sindicalização, urnas onde não haviam fiscais da chapa 2 chegavam “cheias” de voto, com atas que não constavam o número final de votantes e os membros da chapa 2 que compõe a comissão eleitoral eram impedidos de verificar todas as urnas. Em Araçatuba por exemplo, onde a chapa 2 não tinha fiscais, o quórum foi o mais alto do estado com mais de 2500 votos.

Na apuração estadual que percorreu todo o sábado em São Paulo o nível de fraudes se mostrou ainda mais escandaloso, eram incontáveis as assinaturas dos cadernos de votantes que tinham muita semelhança de grafia ou diretamente eram idênticas, chegando a ter urnas com assinaturas iguais às do mesário. Várias urnas tinham votos dobrados em bloco de uma forma impossível que os votos tenha entrado um de cada vez, urna com buraco, cédulas sem rúbricas, ou uma diferença substantiva entre número de assinaturas e número de votos, também foi possível identificar.

*Caderno de votantes com grafias e assinaturas idênticas.

*Votos encontrados dobrados juntos dentro da urna e urnas que chegavam sem lacres.

Quando os escrutinadores da chapa 2 viam os inúmeros indícios de fraudes acionavam a comissão eleitoral, que em sua totalidade era composta pela chapa 1, e a resposta era a de apurar os votos mesmo assim, mesmo quando os indícios eram provas cabais de fraude, e inclusive quando esses membros da comissão eleitoral eram os da Resistência-PSOL, o que é ainda mais expressivo de que essas correntes que debandaram para a chapa da Bebel estão assimilando também seus métodos burocráticos e fraudulentos diante das eleições para se manter entranhados no aparato sindical.

Esse nível de fraude teve o objetivo de fazer com que a chapa da Oposição não conseguisse ultrapassar os 20% necessários para eleger membros para a Diretora Estadual Colegiada (DEC) e foi exatamente o que aconteceu, já que a chapa 2 terminou as eleições com 12,25% dos votos, a chapa 3 com 2,83%, o que somadas não ultrapassa a barreira. Já a chapa 1 terminou com 82,78% dos votos, um número que certamente não é representativo do apoio que Bebel tem na categoria, e que só foi garantido com uma política burocrática, uma eleição anti-democrática e incontáveis fraudes eleitorais.

A chapa 2, a única oposição de fato à chapa da Bebel e de seus aliados, mostrou para a categoria que na Apeoesp existe sim uma oposição, que está no chão das escolas, debatendo com cada professor que é preciso retomar o caminho da mobilização, confiando em nossas próprias forças para enfrentar Tarcísio e as reformas, para efetivar os professores categoria O para terem os mesmos direitos e para que o sindicato seja de fato nossa ferramenta de organização, independente dos governos como o de Lula-Alckmin que na última semana veio fazendo aprovar um arcabouço fiscal que será um novo teto de gastos, significando arrocho salarial e que tem até mesmo o Fundeb como parte dos limites de gastos, ou seja, colocando a educação em jogo para pagar dívida pública para os banqueiros.

Além disso, a chapa 2 também conseguiu conquistar subsedes que podem agora ser um ponto de apoio, uma fortaleza, para todos os professores que buscam uma alternativa antiburocrática para o nosso sindicato, como em Santo André, na Lapa, Mauá, e São João da Boa Vista. A professora Maíra Machado, do Nossa Classe Educação, que foi candidata a vice-presidenta pela chapa 2 e uma das professoras que esteve à frente da vitória em Santo André declarou: O que venceu em Santo André foi a unidade da oposição combativa e dos professores e professoras do chão da escola, a unidade entre efetivos e contratados! A Chapa2 venceu para fortalecer a luta com independência de classe e a organização da nossa categoria pela base, para enfrentar Tarcísio e o conjunto dos ataques à educação como o Novo Ensino Médio. Defendendo a independência política do governo, de que nossa classe e sindicatos precisam para enfrentar o arcabouço fiscal e a "boiada" que está passando contra indígenas e o meio ambiente. Nossa campanha foi orgânica, com trabalho de base e envolvimento da professorada e assim fizemos valer o voto e a vontade dos professores, mesmo em uma eleição muito antidemocrática, controlada pela Chapa1 da Bebel, sem nenhuma garantia da integridade do processo. Queremos que Santo André seja uma alternativa para avançar contra esses métodos da burocracia que afastam os professores e enfraquecem nossa luta”.

Essas eleições só reafirmaram que mais do que nunca é preciso construir uma força no interior da categoria de professores que tenha como objetivo retomar o sindicato para as mãos dos trabalhadores, unificando suas demandas com as demandas da juventude e da comunidade escolar e se colocando em luta independente dos interesses dos governos. Esse é o objetivo do Nossa Classe Educação que compôs esse processo como parte da chapa 2 e é essa batalha que chamamos as professoras e professores a darem conosco.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias