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Denúncia | Moradores da Zona Norte de São Paulo denunciam falta de água há 5 dias na região

O Esquerda Diário recebeu relatos de moradores de diferentes bairros da região Norte da cidade de São Paulo, abastecidas pela Sabesp, que estão sem água em casa desde o início desta semana. Veja as denúncias em formato de mensagens, áudios e vídeos que descrevem as dificuldades cotidianas da falta de água e exigem respostas frente a situação revoltante que passam no dia a dia.

sábado 25 de novembro de 2023 | Edição do dia

O Esquerda Diário recebeu relatos de trabalhadores de bairros da Zona Norte de São Paulo como Jardim Cruz do Corisco, Jardim Corisco, Jardim Santa Cruz, Fontális, Cachoeira, Vila Rica, entre outros, que são abastecidos pela Sabesp e estão sem água em casa desde o início desta semana.

As denúncias descrevem os sentimentos de humilhação e revolta com as dificuldades cotidianas da falta de água, situação que tende apenas a piorar caso o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) avance com seu plano privatista para a Sabesp, que envolve ainda o Metrô e a CPTM. A situação é alarmante, pois há regiões que nesta sexta (24) completam 5 dias sem nem uma gota de água. Não há água para fazer comida, manter a higiene pessoal ou da casa, e nem para beber. A maior parte dos moradores têm sido obrigados a comprar galões de água e marmitas para não morrerem de sede e fome.

“Várias crianças aqui da região não têm ido a escola porque faz dias que não conseguem tomar banho. E as que vão pra escola vão sujas e com fome pra aula, porque não tem como fazer comida pela falta de água.” (Flavia*, 34 anos, moradora do Jardim Corisco) *nomes fictícios para preservar a identidade dos denunciantes

(Continua após o vídeo)

A falta de abastecimento de água pela Sabesp está relacionada com a recente falta de energia pela Enel em São Paulo, que se estendeu por dias e assolou a população, além de paralisar as estações e afetar o nível dos reservatórios, que passam agora por manutenção. A suposta “eficiência” das privatizações cai por terra com a crise energética causada pela Enel privatizada, agora em relação à água vemos como as consequências da crise ambiental, produto da irracionalidade capitalista, recaí sobre as costas da população e dos trabalhadores para que os grandes empresários continuem a lucrar com os serviços básicos.

Pois é um fato que em sua sanha privatista, Tarcísio e os inúmeros governos tucanos anteriores do Estado de São Paulo, vem destruindo a empresa que fornece água para maior parte dos municípios do Estado de São Paulo, precarizando os postos de trabalho existentes e por consequência o serviço prestado. Mas é importante frisar que isso não se dá por responsabilidade dos trabalhadores, mas sim do Governo do Estado, que sucateia o serviço para justificar dessa forma sua privatização e a entrega de uma empresa de arrecadação crescente e milionária para os seus aliados empresários.

“Nesses dias onde os termômetros batem recorde, e a necessidade de se hidratar e de se higienizar se faz presente, não se tem água nem para o mínimo. Os vasos sanitários estão entupidos de dejetos, as louças abarrotadas na pia. Enfim um total desrespeito com as pessoas e chega a ser desumano o que estão fazendo com a população” (Marcela*, 32 anos, moradora do Jardim Cruz do Corisco) *nomes fictícios para preservar a identidade dos denunciantes

Todos os relatos apontam a necessidade dos moradores comprarem água não só para beber mas também para conseguirem tomar um banho ou escovar os dentes. Outros, que não conseguem pagar por um serviço que já pagam nas contas mensais e agora não tem acesso, se apoiam na solidariedade de vizinhos, familiares e amigos, ou tentam aproveitar a água da chuva para manter o básico dentro de casa.

“Eu fiquei sem água até para beber, se é que você quer saber, o que me salvou foi o vizinho que trouxe um galão aqui pra mim, porque senão não tinha água nem pra fazer janta, entendeu? Na hora de pagar eles vêm e cobram, aí a gente paga e falta água. É uma calamidade” (Celma*, 68 anos, moradora de Fontális) *nomes fictícios para preservar a identidade dos denunciantes

“Sou moradora da região do Jardim Santa Cruz, sou moradora há 27 anos aqui e nunca passei por um momento tão constrangedor, né, não é nem constrangedor, é revoltante, nunca passamos por um momento tão longo sem água, (...) estamos desde o dia 21. O que eu estou tendo como recurso no momento é me deslocando pra um lugar muito distante pra tomar banho na casa de parentes, hoje infelizmente não teve como fazer comida aqui em casa, estamos comprando marmita, meu filho hoje foi pra escola sem almoço. Faço um apelo aos responsáveis pois a população carece de uma solução urgente, isso é um descaso, a gente merece o mínimo de dignidade humana” (Ione*, 40 anos, morado do Jardim Santa Cruz do Corisco) *nomes fictícios para preservar a identidade dos denunciantes

“Não tenho mais nem copo, nem prato, eu tô usando coisa descartável já porque não tem um pingo d’água na minha casa, o banheiro não dá nem pra entrar, isso é um absurdo. A água acabou na terça-feira à tarde e até agora não chegou a água na Vila Rica e nem na região do Cachoeira, isso é um descaso, eu não tô trabalhando a 3 dias, quem vai arcar com esse prejuízo?” (Marcos*, 32 anos, morador do Vila Rica) *nomes fictícios para preservar a identidade dos denunciantes

(Continua após o vídeo)

Os moradores relatam que a Sabesp não oferece nenhuma previsão para o retorno da água, enquanto esperam respostas com uma dificuldade enorme de fazer as coisas mais simples do dia a dia. A principal preocupação dos moradores recai sobre as necessidades de crianças e idosos.

“Na hora de cobrar eles vêm, a gente paga e falta água. Pagamos as contas certinho todo mês e na hora de ter respostas eles não dão, nem o mínimo que seria liberar um pouco de água à noite pra encher as caixas eles faz” (Simone*, 35 anos, moradora do Fontális) *nomes fictícios para preservar a identidade dos denunciantes

Como elaboramos aqui, a Sabesp já não é uma empresa completamente estatal, ela é uma sociedade com ações negociadas em bolsa sobre a qual o governo detém o controle majoritário, e é esse controle que Tarcísio quer vender, um passo que levará a uma desorganização ainda mais alarmante do sistema hídrico de São Paulo, com impactos regionais e nacionais também na geração de energia. Já o início da privatização provocou a grande seca de 2014, ou melhor, foi o que agravou uma prolongada estiagem e a transformou em uma seca dramática.

Das empresas da Bovespa a Sabesp é a que melhor remunera seus acionistas, enquanto não promove investimentos para garantir e melhorar a distribuição de água para a população. Estima-se, segundos fontes oficiais, que mais de 30% da água tratada pela Sabesp se perde em vazamentos. É mais lucrativo para os acionistas minoritários desperdiçarem água, que a população valoriza cada gota para conseguir se manter, do que investir para melhorar a distribuição. Em outubro as chuvas bateram o recorde histórico para o mês, no entanto toda a água escorreu para os esgotos, pois a Sabesp não tem nenhum sistema de captação e tratamento da água da chuva.

Por isso é urgente que os moradores que agora agonizam a falta de água, bem como todos que se solidarizam com essa situação, estarem lado a lado dos trabalhadores da Sabesp, dos metroviários e ferroviários que farão uma paralisação no próximo dia 28 em defesa dos serviços públicos e de qualidade, em rechaço às privatizações de Tarcísio. É necessário batalhar para que a distribuição de água e energia seja 100% pública e controlada pelos trabalhadores junto à população, que como se mostra pelos relatos conhecem muito melhor as necessidades, e não por poucos empresários que desperdiçam nossos recursos enquanto lucram com nossa miséria.




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