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Psicologia e Marxismo | “Não posso viver se o partido considerar que não sou marxista" Resposta de Vygotsky à acusação stalinista a que foi submetido

Traduzimos do Cuaderno de notas de Vygotsky, sua defesa e rechaço a acusação stalinista a que foi submetido no início dos anos 1930. Essa acusação se localiza no cenário de burocratização da URSS, em que o stalinismo se consolida como a expressão política de uma casta burocrática que começou a se formar após a revolução e se estabeleceu após a morte de Lenin, que travou contra essa casta seu último combate. Sob Stalin, comunistas de oposição foram perseguidos e mortos, incluindo a maioria dos dirigentes da Revolução Russa e todo o Comitê Central do Partido Bolchevique que havia feito a Revolução em 1917.

domingo 31 de março | Edição do dia

Declaração ao diretor do Instituto Estadual de Pedagogia de Leningrado

O documento é um rascunho de uma declaração ao diretor do Instituto Pedagógico do Estado de Leningrado, na qual Vygotsky tenta responder às acusações a que foi submetido pela comissão de expurgo do Instituto Psicológico de Moscou. As comissões de expurgo eram compostas por dirigentes do partido que verificavam em que medida os trabalhadores de todos os partidos, as instituições da URSS correspondiam ao modelo “construtor do comunismo”. Um dos mais famosos "expurgos gerais" começou em janeiro de 1933 e continuou ao longo dos anos. 400 mil pessoas foram expulsas das fileiras do partido e trabalhadores não partidários também foram demitidos de seus empregos. É provável que Vygotsky tenha sido vítima precisamente desse expurgo. Como prova disso, citamos um episódio semelhante relatado anos depois por Bluma V. Zeigárnik:

"Lembro-me que Vygotsky correu pela sala como uma fera envenenada e disse: “Não posso viver se o partido considerar que não sou marxista”"

Anotação de Vygotsky em tinta azul

"Ao Diretor do Instituto Pedagógico do Estado de Leningrado

Através de uma cópia da resolução da comissão de expurgo do Instituto de Psicologia de Moscou que recebi, soube que todos os pressupostos teóricos dos quais parto em meu trabalho foram descritos como “teoria idealista e burguesa” (p. 1) e “concepção antimarxista” (p. 11). Uma vez que essa decisão foi tomada pela comissão de expurgo sem uma análise prévia e aprofundada da minha teoria (e) exclusivamente com base nas declarações feitas durante o expurgo pelos colaboradores do Instituto de Psicologia, presumo que as acusações contra a minha teoria se baseiam num mal-entendido e não correspondem à realidade.

Sempre considerei que o meu trabalho está dentro do sistema da ciência soviética, e não fora dele. Subjetivamente, interpretei meu trabalho como uma parte ativa na construção de uma psicologia marxista, e até hoje continuo pensando que meu trabalho também objetivamente tem certo valor positivo na luta contra teorias idealistas e burguesas."

(Aqui a folha está cortada)




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