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Declaração Révolution Permanente | Níger: não à intervenção militar, não às sanções! Imperialismo francês fora da África!

Enquanto o ultimato da CEDEAO expirou ontem à noite, uma intervenção militar no Níger envolveria a região em um conflito sangrento, a serviço dos interesses do imperialismo francês e ocidental. França e grandes potências, fora da África! Declaração do Révolution Permanente, organização irmã do MRT na França e parte da FT-QI.

segunda-feira 7 de agosto de 2023 | Edição do dia
Crédito da foto: 6ª sessão extraordinária da CEDEAO sobre a situação política da BF-Guiné e Mali em junho de 2022 - Presidência da República do Benin

Desde o golpe de Estado por uma junta militar em 26 de julho no Níger, o perigo de um conflito militar na África Ocidental só aumentou. O atual presidente Mohamed Bazoum, fiel fantoche do imperialismo francês (e, portanto, da União Européia) e dos Estados Unidos, foi deposto e sequestrado pelos golpistas, e o general Omar Tchiani assumiu a chefia do país. Uma ação denunciada pelo conjunto das potências ocidentais, e em particular pela França e pelos Estados Unidos, que suspenderam toda "ajuda ao desenvolvimento" concedida ao país, condenando as massas do Níger a mais miséria e demonstrando que essa ajuda é, em primeiro lugar, um meio de pressão política.

Um golpe reacionário que surfa na raiva contra o imperialismo francês

Até agora o Níger era considerado um pólo de estabilidade a serviço dos planos do imperialismo ocidental e era mesmo uma peça central da política americana e francesa no Sahel. Grande parte das tropas francesas expulsas do Mali após o golpe de 2021 foram redistribuídas para o Níger, onde estão estacionados 1.000 soldados americanos e 1.500 soldados franceses. A pretexto da “guerra contra o terrorismo” e da estabilização de uma região minada pela pobreza, onde se desenvolvem grupos paramilitares, essa presença militar visa essencialmente defender os interesses das grandes multinacionais.

Se o Níger é rico em petróleo, urânio e ouro, por outro lado é um dos países mais pobres do planeta por causa dessa pilhagem imperialista. Nesse terreno, a França desempenhou um papel histórico na pilhagem das riquezas dos países da região por todos os meios econômicos, monetários, geopolíticos e militares, participando com as burguesias africanas que são cúmplices em fazer do Oeste africano e do Sahel uma das regiões mais pobres do o mundo. Ainda hoje no Níger o imperialismo francês explora, por exemplo, o urânio, através da Orano (antiga Areva), enquanto até há pouco era Bolloré quem assegurava a logística que permitia à produção nigerina escoar para os portos do Benin e da Costa do Marfim. Depois de Mali e Burkina Faso, esse novo golpe de Estado vem para desestabilizar um pouco mais os interesses franceses no Sahel.

Tal como nos golpes de Estado anteriores, os golpistas surfam demagogicamente no sentimento de hostilidade à potência (neo)colonial francesa, a quem serviram fielmente durante anos sobre as costas da população, para conquistar um apoio popular. Por trás de sua retórica, no entanto, a realidade desse golpe continua sendo a de conflitos de camarilhas no interior do aparato militar e do aparato estatal pelo controle deste último. Se os golpistas se apoiam no legítimo sentimento anticolonial e anti-francês que existe na população, não é em nome da emancipação do povo nigeriano que eles agem, mas para pressionar os aliados franceses e americanos e diversificar seu apoio, buscando recorrer à China e à Rússia.

Se o simulacro de democracia construída pelas burguesias africanas com o apoio da França leva parte da população a apoiar os golpistas, nenhuma confiança pode ser concedida aos golpistas no poder no Níger, nem ao conjunto das frações dos exércitos da África Ocidental que tomaram o poder em Mali ou Burkina Faso. Como em toda a região, só uma verdadeira democracia dos trabalhadores e do povo do Níger pode permitir a conquista de uma verdadeira autodeterminação, removendo todos os mecanismos de dependência econômica e política das grandes potências, a começar pela abolição do Franco CFA, da dívida externa que serve de mecanismo de espoliação da riqueza e ao impor o monopólio do comércio exterior e a expropriação de todos os grandes grupos econômicos para os colocar a serviço da população nigerina.

Não à intervenção militar da CEDEAO em defesa dos interesses imperialistas!

Ao passo que as fraquezas do imperialismo francês foram reveladas pelas sucessivas humilhações em Burkina Faso e Mali, o governo de Macron se prepara para a possibilidade de um conflito militar para derrubar os golpistas. Dois blocos se enfrentam na região. Por um lado, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO [ou ECOWAS pela sigla em inglês]), uma marionete do imperialismo francês, já impôs duras sanções econômicas e comerciais ao Níger e emitiu um ultimato aos golpistas para acabar com o golpe ameaçando usar a força. Este ultimato terminou no domingo e os aliados regionais dos golpistas, as juntas militares no poder em Mali e Burkina Faso, apoiadas pela Rússia e China, alertaram que "qualquer intervenção militar equivaleria a uma declaração de guerra”.

Por enquanto, Senegal, Costa do Marfim e Nigéria ameaçaram intervir por terra e ar e lançar paraquedistas na capital Niamey. Na sexta-feira, esses Estados disseram ter chegado a um plano de intervenção durante uma reunião em Abuja, na Nigéria, um país que compartilha uma ampla fronteira norte com o Níger e de onde uma intervenção terrestre será iniciada. A França nem se preocupa em esconder sua participação ativa nessa possível intervenção. “Devemos levar muito a sério a ameaça de recorrer à intervenção”, declarou Catherine Colonna, ministra das Relações Exteriores, no sábado. Se não pretende comprometer tropas, a França se prepara para supervisionar uma operação por procuração, a serviço de seus interesses.

Fora da CEDEAO, o Presidente argelino Tebboune manifestou-se contra qualquer intervenção militar no Níger. Da mesma forma, dentro dos países que parecem mais dispostos a derrubar os golpistas pela força das armas, estão surgindo contradições. Nesse sentido, a maioria do Senado nigeriano se oporia à vontade do presidente Tinubu (que também preside a CEDEAO) de enviar o exército para invadir o Níger. No entanto, a África Ocidental é um verdadeiro barril de pólvora e esta declaração é escrita a apenas algumas horas do ultimato da CEDEAO expirar.

Qualquer intervenção militar colocaria a região em um conflito sangrento, enquanto parte da população da capital nigerina, diante de uma possível intervenção estrangeira, apoiou o governo golpista nas ruas nos últimos dias. O conflito atual é a expressão da continuação no continente africano do conflito estratégico entre o bloco UE/OTAN e do outro lado a aliança informal entre a Rússia e a China. O primeiro perdedor neste conflito entre vários interesses expansionistas é a população dos vários países da África Ocidental, e em primeiro lugar do Níger.

A França esconde seus interesses sob a defesa de uma pretensa “democracia” que é a primeira a desrespeitar, desestabilizando Estados, apoiando certos golpes como no Chade e saqueando a região, tudo sob estreita vigilância militar. Por eleições ou por golpes, o que importa para a França é ter regimes dóceis. Por outro lado, as várias juntas militares aliadas à Rússia camuflam-se atrás de um “anti-imperialismo” igualmente hipócrita. A verdadeira libertação da dominação imperialista e a erradicação da pobreza só podem ser obra dos trabalhadores e das classes populares da África Ocidental, que são os únicos que podem dissolver todas as juntas e governos corruptos a soldo das grandes potências. O conjunto das classes populares do continente devem se opor a qualquer forma de intervenção militar no Níger e tomar nas próprias mãos o combate à casta militar que não quer mais do que lhes curvar aos pés de um novo mestre.

Na França, o movimento operário e a esquerda devem se opor a qualquer sanção e intervenção militar, não com vistas a “repensar” a relação imperialista com o Níger como propõe La France Insoumise em um artigo e como defende a esquerda institucional, mas para acabar com qualquer presença francesa, seja militar ou econômica, a serviço da pilhagem dos recursos do continente.

Abaixo a Françáfrica!

Não às sanções que empobrecem o povo do Níger!

Não à intervenção militar da CEDEAO em nome dos interesses imperialistas!

Soldados franceses fora da África! Multinacionais fora da África! Abaixo o imperialismo e os mecanismos que perpetuam a dominação neocolonial como a dívida externa ou o franco CFA!

Por uma saída independente de todas as potências, pelas mãos dos trabalhadores e das classes populares da África Ocidental!




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