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Trabalhadores da Educação | Para onde vai a política do PSTU no SindUTE-MG com sua aliança com a burocracia do PT?

Flavia ValleProfessora, Minas Gerais

quinta-feira 29 de junho de 2023 | Edição do dia

A grande questão hoje na esquerda e no movimento operário e sindical no país é a necessidade de independência política frente ao governo Lula/Alckmin, para lutar pelos interesses dos trabalhadores e do povo pobre e oprimido, como a revogação das reformas e contra os ataques como o Arcabouço Fiscal. Sem essa independência política, não será possível uma luta pelas demandas do movimento de massas, que o governo deixa claro que não vai contemplar, nem um combate contra a extrema-direita, que o governo alimenta com a conciliação de classes.

Este debate percorre a esquerda com o PSOL que integrou o governo por via de um ministério. E todas as grandes centrais sindicais que também aderiram ao governo e por isso assumiram posições a favor do Arcabouço Fiscal, abandonaram o programa pela revogação das reformas e mantêm a trégua paralisando as lutas e a organização de base, apesar da disposição de luta como mostra a greve de trabalhadores da educação do Rio de Janeiro.

Essa discussão não é nova para os setores que constroem a CSP Conlutas, visto ser esta a única central sindical que não aderiu ao governo. Como parte das batalhas pela independência de classe neste novo momento estratégico do país, uma parte dos setores que estão na Conlutas fez uma batalha comum na APEOESP (sindicato de professores da rede estadual de São Paulo), maior sindicato do país, com uma chapa da oposição contra a burocracia sindical da CUT/Articulação Sindical, que está encastelada a décadas no sindicato. A chapa da oposição foi encabeçada pelo PSTU e por nós, do MRT e do Nossa Classe Educação, junto a outras correntes de esquerda e professores independentes, e que conquistou três subsedes apesar de uma eleição cheia de fraudes levadas à frente pela Chapa 1 da CUT/PT (composta também por correntes do PSOL, como o Resistência, MES e pelo PCB, e em várias regionais também pela Unidade Popular).

O PSTU em nossa categoria de trabalhadores da educação da rede estadual de Minas Gerais (e nacionalmente em outras categorias), porém, coloca um pé em cada canoa em sua política frente a burocracia sindical da CUT/PT. E por isso damos seguimento ao debate aberto por nós do MRT e pelo Nossa Classe Educação sobre chapas que compuseram com a CUT/PT, centralmente no SindUTE-MG, um dos maiores sindicatos do país e o maior sindicato de Minas Gerais, que é dirigido a décadas pela burocracia da Articulação Sindical (com apoio de correntes do PSOL, PCB e Unidade Popular), que emperra a nossa organização pela base e desvia nossas lutas para as vias institucionais como vimos na greve do ano passado.

O PSTU e sua agrupação sindical Educação em Luta lamentam em seu manifesto para trabalhadores da educação em MG que a CUT/PT aceitou chapas comuns apenas nas subsedes e não para direção estadual, mesmo com o PSTU abrindo mão de haver uma chapa da oposição para fortalecer as posições de independência de classe, ao apoiar a Chapa 1 composta pela burocracia sindical da CUT/PT para direção estadual e compondo com eles nas subsedes. Uma mostra de como a política do PSTU apenas ajudou a fortalecer a burocracia da CUT/PT na categoria e não as posições de independência de classe.

Em um dos argumentos oferecidos pelo PSTU, eles justificam sua política de integração à Chapa 1 em nome da defesa do sindicato, unidade que segundo eles estaria baseada na “luta pelo socialismo, nas demandas específicas da categoria e na independência frente a todos os governos e ao Estado”. Primeiro, não tem nenhum sentido dizerem que a unidade de chapa está baseada na luta pelo socialismo, como se o PT, com seu projeto historicamente reformista e de governabilidade do Estado capitalista junto com a direita teriam algo de socialista. Um argumento assim é utilizado apenas para manter um verniz vermelho para uma política de se adaptar à burocracia que pratica abertamente a conciliação de classes.

Faz também necessário uma desmistificação da política de unidade do PSTU nas eleições do SindUTE. Nossa categoria sofreu um ataque anti-sindical com uma multa ao sindicato no valor de 3,2 milhões devido à greve do ano passado. Além de uma série de ataques de Romeu Zema contra a educação como o avanço de projetos privatistas, a municipalização de escolas por via do projeto Mãos Dadas, o aprofundamento violento da precarização do trabalho, das condições de estudo, a onda roxa contra as ASB, a defasagem salarial, a ampliação das escolas cívico militar e um longo etc. Ataques que só podem ser enfrentados tendo no centro a luta e a mobilização, com a unidade de trabalhadores da educação (professores, ASBs, ATBs, etc) em aliança com estudantes e a comunidade escolar. Muito diferente dessa unidade é a política da direção do SindUTE, que desvia nossas lutas, que separam nossa categoria dos estudantes contra o Novo Ensino Médio, separam a organização de professores junto às ASBs, alimentam o corporativismo e a divisão da nossa categoria frente aos estudantes, à comunidade escolar e outras categorias que enfrentam as políticas de Zema e a piora de suas condições de vida.

Por isso, quando o PSTU fala de unidade para justificar sua política oportunista, é uma política que não tem nada a ver com a batalha pela amplíssima unidade desde a base de trabalhadores junto aos estudantes e com a comunidade escolar, unindo efetivos e contratados contra Zema de forma a enfraquecer nossos inimigos de classe. Vejamos pelo exemplo das lições de nossa greve de 2022.

Devido à sua política de conciliação de classes, a direção estadual levou nossa greve para uma encruzilhada, em que a votação do reajuste na ALMG se transformou num desvio de nossa luta pela direção estadual, que terminaram com a greve sem a garantia do reajuste e sem um único plano de ação. Enquanto nós voltamos para as escolas sem o reajuste, sendo punidos com a reposição de aulas e sem a garantia de nenhuma punição sobre nossa luta, a direção estadual cantou vitória pela aprovação do reajuste na ALMG depositando ilusões no STF, quando o governo de Romeu Zema já havia apontado a judicialização, contando depois com apoio do ministro ministro do STF Luís Roberto Barroso que desobriga Zema de pagar o reajuste.

Ou seja, todo o desvio pela direção estadual da nossa luta na greve de 2022 para as vias institucionais serviu apenas para fortalecer o governo Zema que em seguida aplicou a multa milionária ao sindicato como uma forma de punição da nossa categoria, que é linha de frente das lutas no estado desde o golpe institucional de 2016. Essas são lições que envolvem a necessidade da independência de classe poderiam ter sido base para uma chapa da oposição que batalhasse pela independência do governo Lula/Alckmin e aglutinando setores importantes de trabalhadores da educação que se colocaram à frente da greve de 2022. Política que propusemos pelo Nossa Classe e pelo MRT e a que defendemos na candidatura de Flavia Valle para o Conselho Geral de Representantes pela subsede de Contagem.

Vejamos então as eleições na subsede de Contagem, onde o PSTU já esteve na direção da subsede e que perdeu suas posições como fruto de sua política frente ao golpe institucional de 2016 e a defesa de Eleições Gerais e Fora Todos, que acabaram por fazer caldo junto à direita na Lava Jato e no impeachment de Dilma Rousseff, abandonando qualquer política de independência de classe contra o golpe institucional com independência política do PT (como defendemos pelo MRT e Nossa Classe Educação). Na recente eleição sindical de 2023, a subsede de Contagem contou com duas chapas, ambas compostas por alas diferentes das burocracias do PT/CUT (ambas apoiadoras da prefeita do PT na cidade, Marília Campos). Nessa eleição o PSTU usou o argumento de que a integração na Chapa 1 seria uma forma de proporcionalidade, uma clara manobra para confundir a base que tem anseio de uma direção sindical menos monolítica. A correta batalha pela proporcionalidade, ou seja, a representação de cada chapa proporcionalmente aos votos obtidos nas eleições, cada uma defendendo suas próprias posições e programa, é mais uma das formas de democracia sindical a que a direção do SindUTE é contrária.

Desta forma, sem uma chapa de oposição para direção estadual ou nas subsedes, erguida junto a trabalhadores da educação que foram linha de frente da greve em BH, RMBH e todo estado, lutando por uma alternativa classista e independente do governo para a direção do SindUTE, a antiga burocracia da CUT/PT conta agora com um relativo fortalecimento sindical, ainda que seguem distantes da base da categoria. Isso com ajuda do PSTU que deixou de ser oposição à direção da CUT no maior sindicato de Minas Gerais.

Fazemos o convite a todas, todos e todes que compartilham posições que defendemos na greve de 2022, no 12º Congresso do SindUTE ou nas últimas eleições sindicais, a erguermos junto ao Nossa Classe Educação uma forte oposição em nossa categoria que coloque à frente a luta pela independência de classe em nossa categoria e organização de base.




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