Neste 8 de março, várias províncias da Argentina se pintaram de verde, símbolo da luta pelo direito ao aborto. Mendoza, Córdoba, Tucumán, Salta, La Plata e Buenos Aires deixaram uma clara mensagem à hierarquia da Igreja: as ruas são nossas e não vamos entregar nenhum direito.
segunda-feira 9 de março de 2020 | Edição do dia
Nesse 8 de março o movimento de mulheres ocupou as ruas no mundo com mobilizações massivas e destacadas de milhões de pessoas que seguem emocionando a todos e todas, como no Chile, onde o grito de “Fora Piñera” se manifestarem milhões. Ou então no México, onde centenas de milhares se colocaram contra os feminicídios. Ou na França, onde a força das trabalhadoras e dos trabalhadores e do movimento estudantil se fez sentida novamente contra Macrón. Foi a antecipação de uma jornada que, em outros lugares, se reeditará nessa segunda-feira (9).
– Veja sobre o Chile: mais de um milhão de mulheres tomam as ruas em Santiago e por todo país
Na Argentina, o 8 de março começou com uma missa da Conferência Episcopal Argentina na Basílica de Luján, convocado em rechaço à reivindicação que há décadas promove o movimento de mulheres: aborto lega já, para que não haja nem presas, nem mortas, nem jovens obrigadas a parir, nem mulheres sofrendo as consequências que têm a clandestinidade. Em defesa do projeto da Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto, e em defesa de sua legalização, milhares de paninhos verdes ocuparam distintos pontos do país.
– Veja mais aqui sobre a Missa da Igreja Católica: Em Luján e com fraca concorrência, a Igreja fez sua missa contra o direito ao aborto.
Houve panos verdes na Praça de Maio, em frente à Catedral Portenha, na Província de Buenos Aires, nas ruas de Córdoba e Tucumán. Em La Plata, Mendoza, Salta e Mar de Plata, entre outras províncias onde a Igreja também convocou a marchar contra os direitos das mulheres, elas não aceitaram a organização e marcharam em seu dia.
– Veja video contra a provocação da Igreja, “pañuelazo” (paninhos verdes) na praça de Maio
Em Mendoza, cerca de 20 mil mulheres se mobilizaram nesse #8M2020 – trabalhadores ligados ao sindicato dos professores, à CTA (central dos trabalhadores argentinos) e ao sindicato argentino das televisões. As jovens secundaristas que durante a semana se organizaram contra o governo e a DGE (Direção Geral das Escolas), exigindo melhores condições para estudar frente a uma onda de calor que chegava aos 40º, hoje estão marchando pelo aborto legal, pela educação sexual integral e em solidariedade com as irmãs que lutam na América Latina.
– Veja mais: milhares de mulheres se mobilizam em Mendoza
Noelia Barbeito, do Pão e Rosas, do PTS e da Frente de Esquerda, na Argentina, foi parte da marcha e afirmou nas redes:
“Hoje #8M2020 em Mendoza fomos milhares de mulheres mobilizadas nas ruas centrais. Na cabeceira da marcha vai a consigna “a dívida é conosco e não o FMI”. Apesar do chamado de setores anti-direitos, quem ganhou as ruas fomos nós mulheres”
Hoy #8M2020 en Mendoza las mujeres movilizamos por miles en las calles céntricas. La cabecera de la marcha lleva la consigna "La deuda es con nosotras y no con el FMI". A pesar del llamado de sectores anti derechos las calles las ganamos las mujeres pic.twitter.com/l93vhzLeSr
— Noelia Barbeito 💚💧 (@barbeitonoelia) March 8, 2020
Em La Plata mais de 15 mil mulheres foram às ruas. A exigência ao aborto legal, seguro e gratuito; a separação da Igreja e do Estado e a denúncia do pagamento da dívida estiveram entre as principais reivindicações.
A Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto encabeçou a enorme coluna de mulheres e apoiadores que marcharam pela cidade de La Plata nesse 8 de março. Referências de organizações de mulheres, sindicatos e partidos de esquerda foram parte da cabeceira que saiu desde a Catedral e se dirigiu até a Casa do Governo, onde se realizou a leitura de um documento.
Luana Simioni, dirigente do Pão e Rosas e do PTS FIT, publicou:
“Milhares em #LaPlata marchamos pelo #AbortoLegalYa
Miles en #LaPlata marchamos por el #AbortoLegalYa pic.twitter.com/FdPDLfPZA7
— Luana Simioni (@LuanaSimioni) March 8, 2020
Em Córdoba se realizou um massivo ato com paninhos verdes (pañuelazo) em frente ao Arcebispado. Mais de 2500 mulheres e outros setores se reuniram para exigir a separação da Igreja e do Estado, bem como rechaçar a provocação da Igreja.
Laura Vilches, vereadora do PTS FIT, e dirigente do Pão e Rosas, chamou a ganhar as ruas onde se realizará a marcha desde Colón e Cañada.
– Pode interessar: a maré verde voltou a tomar as ruas em Córdoba
À noite se realizou um “pañuelazo” massivo na capital de Tucumán, província declarada “Pro vida” enquanto integrantes da Igreja tentavam mobilziar. Mais de mil mulheres e apoiadores se concentraram no Piletón Avallenada para a convocatória de uma Assembleia Nem Uma a Menos, que também vão se mobilizar amanhã (9), como resposta ao chamado do governo de Manzur, autoproclamado defensor e militante das “duas vidas” e de pisotear os direitos das mulheres e jovens.
Alejandra Arreguez, dirigente do Pão e Rosas e da FIT, afirmou que o “pañuelazo” foi uma boa ação antes da marcha que se realizará amanhã (9):
“Enorme “Pañuelazo” em Tucumán antes da marcha pelo Dia Internacional das Mulheres. Não queremos negociar nossos direitos com dinossauros como Manzur, vamos pelo aborto lega, seguro e gratuito. Amanhã ganhamos as ruas”
Enorme pañuelazo en Tucumán en la previa de una marcha por el Día Internacional de las Mujeres. No queremos negociar nuestros derechos con dinosaurios como Manzur, vamos por el aborto legal, seguro y gratuito. Mañana ganamos las calles. pic.twitter.com/mJOMbdY7g6
— Alejandra Arreguez (@AleArreguezPTS) March 9, 2020
Em La Salta, a marcha foi importante e mobilizaram cerca de 2000 mulheres e outros setores para não abandonar as ruas diante da provocação da Igreja, que também chamou mobilizações. Realizaram-se “pañuelazos” em distintos lugares como a assembleia legislativa. A presença juvenil foi destacada, como também agrupações de mulheres que integram a Frente de Esquerda, como Pão e Rosas, Plenário de Trabalhadoras e Isadora, e Juntas a La Izquierda, Las Rojas, organizações feministas e outras. Amanhã (9), mobilizarão novamente pelas ruas de La Salta.
Desde Pão e Rosas, Daniela Planes ressaltou essa importante ação contra a instituição clerical que tem bastante peso no Estado, obrigando jovens a parir e naturalizando que as mulheres indígenas morram. Também destacou o apio à luta dos professores que amanhã (9) continuarão com medidas de luta.
“#8M2020 Salta #Pañuelazo ganhamos nas ruas os direitos, nenhum governo nunca nos deu nada.”
👉 #8M2020 Salta #Pañuelazo ganamos los derechos en las calles, ningún gobierno nos regaló nada. pic.twitter.com/6EvNsGh2qF
— Daniela PlanesS (@DaniPlanesS) March 8, 2020
– Pode interessar: a Igreja de Salta não pode mudar o caráter do 8M: milhares nas ruas para que seja lei
No Mar del Plata, a mobilização impulsionada pela Campanha Nacional pelo DIreito ao Aborto e outras organizações feministas e de mulheres foi massiva e contou com as consignas de “a dívida é com nós, aborto legal já e trabalho digno e igualdade para todos e todas nós”.
Amanhã (9 de março) se esperam importantes e massivas mobilizações na Capital Federal e em todo o país.