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Pernambuco | Assédio na UFPE: como organizar nossa luta contra o machismo dentro e fora da universidade?

Nesta terça-feira, 28 de março, aconteceu outro episódio absurdo de assédio na Universidade Federal de Pernambuco. Pelo que nos chegou, foram 2 casos perpetrados pelo mesmo assediador. Estudantes responderam imediatamente, coagindo o assediador, que acabou sendo levado depois pela polícia.

quarta-feira 29 de março de 2023 | 13:44

Imagem: Facebook CFCH/UFPE

Antes de mais nada, nós achamos que é muito importante repudiar esse episódio e deixar toda solidariedade às vítimas. Reivindicamos também a ação dos estudantes que agiram imediatamente e não permitiram a continuidade do assédio. A auto organização do movimento estudantil, a indignação coletiva frente aos assédios e ações machistas é o que pode impedir a perpetuação destes eventos e fortalecer as respostas das mulheres e LGBTQIAPs. Frente a isto precisamos também entender que é urgente abrir o debate sobre quais são as saídas realmente efetivas para combater os assédios, não somente dentro do campus, mas também fora dele.

Viemos denunciando o quanto a universidade está esvaziada, o prédio do CFCH que no último período foi o palco de inúmeros dos casos que aconteceram, está entregue às moscas. A maioria dos andares nem tem aula. Durante o período da noite, a universidade fica totalmente mal iluminada e o fato de não terem opções de lazer e estudo para permanência e vivência no campus, e o próprio RU não estar funcionando, transformam a região em um deserto. Não por casualidade, este abandono é maior no período noturno, quando a maioria dos que estão estudando são trabalhadores, que só podem frequentar a universidade neste horário e o acontecimento de ontem - que foi durante o dia - ter sido enfrentado pelos estudantes auto-organizados é uma nítida expressão de como os ambientes vivos e ocupados pelos estudantes é condição para evitar que casos ocorram e no caso de acontecerem, serem enfrentados pelos próprios estudantes.

Desde nossa concepção, vamos combater os assédios mostrando que dentro da UFPE os estudantes estão organizados, levantando um forte movimento de mulheres que façam qualquer assediador tremer de medo antes de cometer qualquer barbaridade contra nós. Porém isto não poderá acontecer se depositarmos ilusões em instituições como a polícia, a reitoria, a burocracia acadêmica, que é misógina desde a medula e sempre se voltam contra o movimento estudantil e as mulheres.

Por mais que os casos de assédio acabem sendo encaminhados para delegacias por questões de registro burocrático muitas vezes a pedido da vítima, não podemos ter nenhuma ilusão que uma instituição misógina e racista como a polícia pode ser resposta para o problema do machismo, ainda mais quando pode se transformar em livre acesso da polícia à universidade. A autonomia universitária, que deveria impedir a entrada da polícia no campus, é uma conquista do movimento estudantil na luta contra ditadura para garantia do livre pensamento crítico e organização da comunidade acadêmica. Por isso mesmo, não defendemos que a solução para este problema é encher o campus de TKS, uma vez que está mais que comprovado que o que pode ser considerado "segurança" para alguns, significa perseguição e segregação para uma maioria, principalmente a população pobre do entorno da universidade e as e os estudantes negros.

Recentemente após um episódio de assédio, um colega estudante foi impedido de entrar no CFCH, peço que adivinhem qual a cor da pele desse estudante. Outros casos de estudantes negros hostilizados pela “segurança” já foram denunciados recentemente. A isso se soma a outros casos ainda mais brutais na nossa cidade, como quando o jovem negro Isaias Lima foi assassinado pela polícia no bairro da Várzea em novembro do ano passado. Não vai ser transformando a universidade em uma ilha vigiada e cercada de polícia que vamos nos sentir seguros, por isso, queremos questionar: quem se sente seguro com a instituição que no estado de Pernambuco assassina jovens negros, agride mulheres trans, reprime e até arranca olhos de trabalhadores?

Desde o Pão e Rosas mais uma vez reivindicamos a ação imediata por parte dos estudantes, coagindo o assediador, criando um ambiente de fortalecimento das mulheres para responder efusivamente casos como este. Queremos convidar todas as mulheres e LGBTQIAP+ para debater quais as medidas reais que podem de fato combater o assédio dentro e fora da universidade, que como colocamos, passará por instalar o debate entre es estudantes, comunidade acadêmica, trabalhadores - efetivos e terceirizados - colocando de pé um forte movimento de mulheres que não vai permitir espaço para a misoginia e o machismo. Isso passará por tornar o espaço dentro da universidade mais vivo e repleto de atividades des estudantes, o que exige valorizar espaços de convivência, ampliar espaços para debate, saraus, shows, expressões artísticas das mais diversas etc.

Outro aspecto importante seria a construção de moradias estudantis dentro do campus, uma medida concreta que literalmente povoaria a universidade de vida estudantil e responderia um outro grande problema des estudantes que é a baixíssima oferta de moradia próximo à universidade, fazendo muitas vezes com que estudantes do interior ou até mesmo da região metropolitana tenha que fazer longuíssimos trajetos para acessá-la, assim também como o aumento da oferta de ônibus circulares que atendam o campus e cheguem aos bairros da cidade, da iluminação e aumento e melhoria de todos os espaços de convivência.

Precisamos batalhar por uma universidade que esteja a serviço da classe trabalhadora e do povo pobre, que coloque toda a ciência produzida para combater a violência de gênero e os grandes problemas econômicos e sociais que atingem em cheio as mulheres trabalhadores, o povo negro, indígenas e a população LGBTQIAP+.

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